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CORTE LIMPO

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Terça-feira, 30.05.17

FC PORTO 2016/17

Estas palavras já foram escritas na crónica do recente jogo com o Paços de Ferreira, mas é difícil não voltar a elas: o FC Porto vive uma fase de insucesso continuado que não estaria na mente dos seus aficionados se lhes tivesse sido perguntado há uns seis, sete anos. E para provar que a persistência da falta de títulos traz inevitavelmente consigo ansiedade, impaciência e decisões precipitadas, basta constatar que há dois anos Julen Lopetegui – independentemente do que foi pensado, sentido, dito e escrito na altura – resistiu a uma época de “quase”, e agora Nuno Espírito Santo não. Talvez esta comparação não seja justa, não só porque Nuno não foi tão contestado e acusado como Lopetegui, mas também porque fez o plantel sentir a camisola de uma forma que o espanhol nunca conseguiu, mas faltou, no entanto, o “quase”. Esse “quase” que transforma as estatísticas positivas numa mão cheia de nada. Senão vejamos: o FC Porto foi a equipa que esteve mais tempo sem perder na Liga NOS (30 jogos, entre as jornadas 4 e 33), teve a mais longa sequência de vitórias da época (9 jogos, entre as rondas 17 e 25) e foi durante largas jornadas a melhor defesa e o melhor ataque, sendo só ultrapassado no último dia, mas nada disso serviu para contrabalançar o peso dos dez empates averbados. Só em 2004/05 (11) e em 1988/89 (14, num campeonato com 20 equipas) os dragões empataram mais.

Nuno Espírito Santo teve então o mérito de ter conseguido reunir as tropas em torno do objectivo maior. Não só os jogadores, como também os próprios adeptos, que apoiaram a equipa mesmo quando tudo já estava perdido. Os assobios foram pouco mais que esporádicos, em função de uma ou outra exibição menos condizente. Pode até dizer-se que todo o capital de confiança de que técnico e equipa dispuseram resultou de um jogo apenas, no caso a ida ao Olímpico de Roma na segunda mão do play-off de acesso à Liga dos Campeões. Depois de um nervoso empate a um golo no Dragão, o FC Porto regressou da capital italiana com uma vitória por 0-3. É certo que os azuis-e-brancos beneficiaram de a Roma ter tido homens expulsos em ambos os jogos, mas como o que fica é o resultado, a vitória portista serviu ainda para deixar a concorrência em sentido. A confiança trazida de Itália, porém, demorou algum tempo a consolidar-se, pois logo a seguir o FC Porto perdeu em Alvalade (2-1) e mais à frente cederia empates frente a FC Copenhaga (1-1 em casa) e Tondela (0-0 fora). Estávamos em meados de Setembro, e esse primeiro mês da temporada deixava o FC Porto um tanto ou quanto em xeque. Já havia pontos para recuperar na classificação e a equipa alternava boas exibições com outras em que se deixava tomar pela ansiedade, como no referido jogo de Tondela.

Ao longo da primeira volta, de resto, enquanto a versão casa do FC Porto era implacável, a versão fora era pouco mais que inconsequente. A ansiedade portista atingiu um pico no mês de Novembro, cujo negrume futebolístico ameaça tornar-se tradição. Nos sete jogos realizados entre 29 de Outubro e 29 de Novembro o FC Porto não só empatou seis, como também somou o estonteante total de 2-1 em golos. Encontrando-se três pontos abaixo do líder antes dessa jornada 9, os dragões começaram por empatar em Setúbal (0-0), antes de bater o Club Brugge (1-0) na Liga dos

Campeões com uma exibição bem cinzenta. Seguiu-se o doloroso empate caseiro com o Benfica (1-1, 6 de Novembro), no qual o FC Porto terá realizado a sua melhor exibição em toda a temporada, mas sucumbiu a um golo aos 90’+2’, após ter concedido um canto absolutamente desnecessário. O choque foi tal que o FC Porto não encontrou forma de marcar um golo que fosse ao Chaves em 120 minutos, dizendo adeus à Taça de Portugal num desempate por grandes penalidades (3-2) em que Layún, Depoitre e André Silva falharam (18 de Novembro). De seguida, o empate em Copenhaga deixou o futuro na Liga dos Campeões por resolver. Faltava um duplo confronto com o Belenenses, que resultou em mais 180 minutos sem golos, que se traduziram numa distância de sete pontos em relação ao comando da Liga NOS e num hipotecar de perspectivas na Taça da Liga.

A pressão era enorme nesta fase. O adversário seguinte era um Braga que estava só dois pontos atrás dos dragões e que tinha acabado de golear o Feirense por 6-2. Os minhotos ficaram reduzidos a dez homens ao minuto 35 em função de uma grande penalidade cometida, mas viram André Silva falhar a conversão. O FC Porto esfalfou-se ao máximo, mas só seria premiado aos 90’+5’ minutos, quando o improvável Rui Pedro finalmente quebrou o enguiço (1-0). As nuvens negras ficaram mesmo para trás, e os portistas prosseguiriam batendo um Leicester City experimental por 5-0 para garantir a passagem na Liga dos Campeões, e o Feirense por 0-4 numa partida em que jogaram 87 minutos com mais um jogador. A equipa voltou a entrar nos eixos mas ainda faltava passar por novos dissabores, por alturas da passagem de ano. A 29 de Dezembro o Feirense foi ao Dragão arrancar um empate a um golo na Taça da Liga; a 3 de Janeiro o Moreirense atirou mesmo o FC Porto para fora da prova ao vencer por 1-0 no Minho; e a 7 de Janeiro um empate em Paços de Ferreira (0-0) colocava os azuis-e-brancos a seis pontos da liderança do campeonato. O cenário nesse dia era, de facto, terrível para o FC Porto. Os oitavos-de-final da Liga dos Campeões eram a única distracção que os dragões teriam até final do campeonato. Por muito inaceitável que tal fosse, era essa a verdade nua e crua.

E foi aí que o FC Porto recuperou alguma da chama que o guiou tantas vezes no passado, arrancando para a tal série de nove vitórias de enfiada, que duraria até meados de Março. Nessa fase os dragões venceram Moreirense (c), Rio Ave (c), Estoril (f), Sporting (c), Guimarães (f), Tondela (c), Boavista (f), Nacional (c) e Arouca (f), com 29-4 em golos. Pelo meio encaixaram-se os jogos europeus com a Juventus, nos quais o FC Porto não fez má figura, apesar do agregado de 0-3, mas provou do mesmo veneno que a Roma tinha provado no play-off, ao ser vítima do cartão vermelho em ambos os jogos. Os nove triunfos consecutivos do FC Porto na Liga NOS coincidiram com o período menos fulgurante do líder Benfica, permitindo que os dragões se aproximassem até à distância mínima de um ponto.

Foi aí que a pressão e a ansiedade voltaram a atacar. As jornadas 26 e 27 foram cruciais para o desfecho da Liga. Duas vitórias teriam colocado o FC Porto na liderança com quatro pontos de avanço, mas a equipa não aproveitou o deslize do Benfica nessa ronda 26, empatando também. Uma semana depois, na Luz, novo empate deixou tudo na mesma. A equipa não voltou a encontrar-se e cederia mais três empates até final, frente a Braga (1-1 fora, jornada 29), Feirense (0-0 em casa, jornada 30) e Marítimo (1-1 fora, jornada 32), contra apenas dois empates do líder. A jornada 33 assinalou o fim da ténue esperança portista. O campeonato encerraria com uma bofetada, na forma de uma derrota por 3-1 em Moreira de Cónegos. Sem ter ligado o chip competitivo para esse encontro, o FC Porto via assim cair a tal sequência de 30 partidas sem derrotas.

Ficava a faltar uma última notícia. No dia seguinte ao fecho da época, Nuno Espírito Santo chegava a acordo para a rescisão do contrato que o ligava ao FC Porto por mais um ano. Voltando à ideia veiculada no início deste texto, só a pressão de quatro anos arredado do título permite entender a saída do treinador. Talvez seja mais fácil entendê-la do que aceitá-la. Certo é que em 2017/18 o FC Porto iniciará o terceiro projecto novo em cinco temporadas. Só uma ideia ocorre ao vosso humilde escriba neste momento: o FC Porto vive um período de sportinguização.

 

 

 

TREINADOR

Nuno Espírito Santo parecia ser o homem certo no lugar certo na altura em que foi apresentado. Afinal de contas, o que será melhor que um homem com história na casa para transmitir ao plantel o que significa envergar a camisola do FC Porto? A história recente do FC Porto diz que nem sempre o currículo do novo treinador importa, sendo vários os exemplos de técnicos que chegaram ao clube com pouco mais que o canudo. Nuno trazia então na bagagem as presenças do Rio Ave nas finais das duas taças nacionais em 2013/14 e um apuramento para a Liga dos Campeões com o Valência na época seguinte. Experiência mais que suficiente para assumir o cadeirão técnico do FC Porto. Dispondo de um plantel bastante jovem, nomeadamente nos sectores mais avançados, Nuno conseguiu criar as bases para que a equipa praticasse um futebol apelativo, mas não foi capaz de limpar a ansiedade da cabeça dos jogadores nos momentos em que a pressão mais subiu de intensidade. Frequentemente criticado por ser brando na forma como comunicava com a imprensa e na reacção a eventuais prejuízos ao FC Porto, Nuno nunca foi acusado das mesmas coisas que Julen Lopetegui foi no seu tempo. Com efeito, tal como o agora seleccionador espanhol, Nuno não criou um onze-base – exceptuando a composição da defesa – e além disso insistiu em experimentações na disposição dos jogadores e nos esquemas tácticos utilizados, que flutuaram entre o 4x3x3 e variantes do 4x4x2. A equipa construía rotinas, mas logo elas eram alteradas, não havendo assim a possiblidade de as consolidar. As saídas prematuras das duas taças foram outro ponto negativo para a causa do técnico, assim como a leitura que fazia dos jogos, a qual nem sempre conduziu às melhores substituições. Ainda assim, considerando o sentido de compromisso que Nuno Espírito Santo conseguiu instigar na equipa, talvez a saída fosse a última coisa que o treinador merecia no final da temporada. Até porque as soluções não abundavam no plantel, ainda que o mesmo não fosse tão deficitário como em alguns dos anos mais recentes e não tenha sido afectado por demasiadas lesões e castigos.

 

EQUIPA

 

Guarda-redes

Casillas realizou uma temporada muito acima do seu ano de estreia em Portugal. Comandou a área como os grandes nomes das balizas portistas do passado o faziam, e ainda teve oportunidade de ser decisivo em alguns momentos, mais notoriamente nos encontros com Sporting (c) e Benfica (f). Naturalmente que ter à sua frente uma defesa sólida ajudou a melhorar o seu próprio rendimento, mas é inegável que Casillas voltou a ser ele próprio. Só sobraram migalhas para José Sá, que assumiu a baliza nas partidas das duas taças e na última jornada do campeonato, sempre sem comprometer.

 

Defesa

Foi o sector mais estável da equipa. Maxi Pereira, Marcano, Felipe e Alex Telles deram bem conta do recado (19 golos sofridos no campeonato contra 30 sofridos em 2015/16). A sua solidez foi essencial, até porque as soluções eram então poucas. Boly foi terceira opção no centro e somou poucos minutos, enquanto nas laterais Layún perdeu espaço, terminando a época praticamente como um proscrito, ao ponto de na 32.ª jornada ter sido Fernando Fonseca, da equipa B, a colmatar o castigo de Maxi Pereira.

 

Meio-campo

As constantes mudanças operadas pelo treinador não permitiram tirar o melhor rendimento de André André, Óliver Torres e Otávio, enquanto Rúben Neves e João Carlos Teixeira não passaram de alternativas e Herrera voltou à inconstância que tantas vezes o caracteriza. O destaque absoluto do miolo portista foi o trinco Danilo Pereira, peça essencial na ligação entre sectores, fazendo ainda uma perninha na defesa quando foi necessário. Evandro, que também não passou de alternativa, saiu em Janeiro para o Hull City. Sérgio Oliveira não existiu.

 

Ataque

André Silva foi o homem em foco ao longo da primeira metade da temporada, correspondendo à esperança que nele era depositada desde o final da época transacta. Nas extremas, Brahimi começou também ele na condição de proscrito, mas terminaria como indispensável, apesar do excesso de individualismo que não foi capaz de corrigir; já Corona, apesar de mostrar bons pormenores, ainda não conseguiu ser mais regular. Diogo Jota foi um abre-latas, nomeadamente durante a primeira metade da

época, coleccionando bons golos e conduzindo contra-ataques com classe, mas as mudanças tácticas, aliadas à chegada de Soares em Janeiro retiraram-lhe espaço. O ponta-de-lança brasileiro pegou de estaca, apontando nove golos nos seus primeiros seis jogos. A sua utilização em conjunto com André Silva potenciava ambos, mas nem sempre foi essa a opção do treinador. Já Depoitre, que começou como segunda opção para a cabeça do ataque, caiu um nível na hierarquia com o aparecimento súbito de Rui Pedro, e mais desceu quando Soares chegou e tomou o lugar de assalto. Nota ainda para Adrián López, que foi utilizado em nove partidas mas sairia em Janeiro para o Villarreal, e para Varela, que calçou as chuteiras em sete encontros antes de rumar ao Kayserispor.

 

Menção honrosa

Kelvin jogou 21 minutos no encontro da 17.ª jornada frente ao Moreirense, a 15 de Janeiro, e pouco depois era emprestado ao Vasco da Gama. O do Rio de Janeiro, não o de Sines.

 

MARCADORES

Liga NOS

16 golos – André Silva (cinco de grande penalidade);

12 – Soares (mais sete pelo Guimarães);

8 – Diogo Jota;

6 – Brahimi (2 g.p.)

4 – Marcano e Danilo Pereira;

3 – Corona;

2 – Felipe, Rui Pedro, Óliver Torres, Otávio, Herrera e Maxi Pereira;

1 – Alex Telles, Depoitre, Rúben Neves, Layún e André André;

Auto-golo – João Aurélio, do Guimarães.

 

Taça de Portugal

1 – Otávio, Corona e Depoitre.

 

Taça da Liga

1 – Marcano.

 

Liga dos Campeões

4 – André Silva (2 g.p.);

1 – Otávio, Layún, Corona, Brahimi e Diogo Jota.

 

CONTABILIDADE

Liga NOS: 2.º lugar, 22v-10e-2d, 71gm-19gs, 76 pontos; apurado para a fase de grupos da Liga dos Campeões;

Taça de Portugal: venceu o Gafanha (0-3) na 3.ª eliminatória; perdeu com o Chaves (0-0 a.p., 3-2 g.p.) na eliminatória seguinte;

Taça da Liga: último classificado no grupo B (2 pontos), atrás de Moreirense, Belenenses e Feirense;

Liga dos Campeões: ultrapassou a Roma no play-off (1-1c, 3-0f); segundo classificado no grupo G (11 pontos), atrás do Leicester City e à frente de FC Copenhaga e Club Brugge; eliminado nos oitavos-de-final pela Juventus (0-1c, 0-2f).

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Miran Pavlin às 12:30


1 comentário

De Pedro a 06.06.2017 às 10:42

Bom dia,
faço parte da equipa do SAPO Blogs, e precisava de entrar em contacto convosco, a propósito de uma iniciativa na qual gostaríamos de incluir o vosso blog. Se não quiserem deixar aqui um e-mail que possamos utilizar, contactem-nos, por favor, pelo sapoblogs@sapo.pt (basta indicar o título do blog no Assunto).
Obrigado desde já!

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