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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Nos últimos anos, FC Porto e Sporting têm-se cruzado tantas vezes que cada um já conhece o outro melhor que a si próprio. Sendo difícil um conjunto surpreender o outro, a batalha pode assumir um enfoque táctico tão pronunciado que o golo se transforma num D. Sebastião, como foi o caso aqui. Envoltas no nevoeiro, nem as equipas se conseguiram desencaixar uma da outra, nem os acasos do jogo fizeram a sua obra, pelo que o apito final chegaria com o marcador por estrear. Nos poucos momentos de perigo que houve a registar, Taremi, do lado do FC Porto, não trouxe a mira calibrada e desperdiçou um par de lances, enquanto Matheus Nunes disparou por cima na única oportunidade criada pelo Sporting em todo o jogo (73'). O médio correu uns bons 40 metros em alta velocidade antes de rematar. Já Taremi, no seu lance mais flagrante, desviou um bom cruzamento contra o próprio pé de apoio como só os craques dos jogos de amigos sabem fazer (57'). No cômputo geral, as oportunidades foram tão poucas que nem houve espaço para os guarda-redes brilharem. Face à posição privilegiada em que chegou a este jogo, o Sporting optou por não correr riscos desnecessários e adoptou uma postura expectante, convidando o FC Porto a ter bola e tentar furar a melhor defesa do campeonato até agora. No entanto, por muito solícitos que fossem, os dragões não encontraram forma de dar um pontapé na crise de resultados que têm atravessado neste mês de Fevereiro. Tendo o seu homem mais perigoso em noite não, e não aparecendo o herói improvável que os jogos grandes às vezes escondem, o FC Porto chegaria ao final do jogo à mercê do resultado de outros encontros da jornada para saber que contas fazer. Contas essas que, em qualquer circunstância, não parecem favoráveis aos dragões. Mesmo que todos saibamos que o futebol é uma caixinha de surpresas, este clássico era como que a última saída para o título na estrada que o FC Porto percorre. E o FC Porto não a tomou, mantendo os dez pontos de distância para o topo e ficando ainda mais dependente de demasiadas coisas.
Quando o assunto é Taça da Liga, o FC Porto está sempre em apuros. Tanto pode ser à primeira tentativa, como no último segundo dos descontos; a qualquer momento os dragões caem na areia movediça e desaparecem da competição. Já vão longe os anos em que o clube chutava a questão para canto através de um jocoso desprezo, também já não há desculpa que cole, e nem sequer há explicação suficientemente plausível. Só pode ser uma maldição que alguém lançou. Neste 13.º encontro entre dragões e leões desde 2017/18 inclusive, o FC Porto esteve globalmente melhor, mas na melhor oportunidade de golo de que dispôs (40'), Marega rematou ao poste, na recarga a uma primeira tentativa de João Mário - o do FC Porto, já que havia um em cada equipa. O segundo parcial parecia ir pelo mesmo caminho dos primeiros 45 minutos, com um FC Porto mais escorreito que o Sporting, mas não o suficente para que houvesse algo mais que meias-oportunidades. Do lado dos azuis-e-brancos, apenas Felipe Anderson parecia estar a aproveitar para dar um ar de sua graça, depois de anteriores aparições indistintas. Nem substituições havia, numa tentativa de os técnicos agitarem o jogo. A primeira, efectuada pelos leões, ocorreria apenas ao minuto 69. Até que, corria o minuto 79, o FC Porto consegue desequilibrar o Sporting e lançar um contra-ataque perigoso. Marega conduziu a jogada, teve hipótese de abrir para um colega mas não o fez, e quando alguns já arrancavam cabelos por mais um lance perdido, o maliano colocou para o golo. A finalização foi francamente má, mas a defesa leonina tanto fechou o adversário, como tapou a visão a Adán. Não tendo visto a bola partir, o guardião mais não pôde fazer que assistir ao beijo nas redes. Marega é um jogador estranho, que perde as oportunidades mais claras e marca as mais difíceis, como foi o caso neste encontro. O resto da história pertence a Jovane Cabral. Lançado no jogo aos 77 minutos, o avançado igualou a contenda nove minutos mais tarde, com um remate cruzado, em arco, ao melhor estilo de Luis Díaz. A reviravolta completar-se-ia na hora em que dói mais (90'+4'), na sequência de um contra-ataque. Era o FC Porto quem estava a tentar um último assomo junto à área sportinguista, mas Coates impôs-se e deu para Pedro Gonçalves, que ultrapassou de forma talvez demasiado fácil a linha média contrária, antes de isolar Jovane rumo à glória. Não havia, literalmente, tempo para mais. A desdita portista na Taça da Liga voltou a acontecer no último segundo, tal como na final de 2020 frente ao Braga. Falta saber quem foi que lançou a maldição.
Dez meses depois de ter vencido em Alvalade pela primeira vez em doze anos, o FC Porto volta a sair do reduto leonino sem os três pontos. Numa era em que se fala do novo normal, é caso para dizer que os dragões voltaram ao velho normal. Mas podia não ter sido assim. Bastaria que o FC Porto se tivesse mantido acordado até ao apito final. Motivos para isso não faltaram, quanto mais não fosse porque o jogo despertou bem cedo (9'), através do golo de Nuno Santos, num remate cruzado após mau alívio da defesa. Se o FC Porto já vinha necessitado de dar uma resposta ao desaire da jornada anterior, mais ficou. Valeu que a equipa reagiu bem a mais esta adversidade, igualando antes da meia hora (26'), por Uribe, que correspondeu da melhor maneira a um cruzamento de Zaidu. Perto do intervalo (45') Corona completou a reviravolta. O mexicano estava no lugar certo para dar seguimento a uma iniciativa de Luis Díaz, que de outra forma se teria perdido. Não foi a única vez no jogo em que Díaz pecou por excesso de individualismo. O descanso não chegaria sem uma pitada de polémica, à conta de uma grande penalidade contra o FC Porto, depois revertida em sede de vídeo-árbitro. Zaidu era expulso por acumulação de amarelos, mas já não foi, o Sporting teria uma oportunidade soberana, mas já não teve, e quem acabou expulso foi o treinador Rúben Amorim, por exagerar nos protestos. O lance só não marcaria o jogo se o Sporting acabasse por ganhá-lo. Resumindo a segunda parte numa frase, o FC Porto brincou demasiadas vezes com o fogo da vantagem mínima. Felipe Anderson e Marega foram a jogo por troca, respectivamente, com Luis Díaz e Marega (59'), mas não trouxeram ideias mais frescas, antes de outras duas substituições com cheirinho a gestão (75'), no caso as entradas de Romário Baró e do reforço Nanu, rendendo Otávio e Manafá. O problema é que nunca se deve gerir uma margem mínima, e o FC Porto pagaria por isso ao minuto 87. Ao sair para o ataque, Felipe Anderson perdeu a bola para Palhinha, que lançou Pedro Gonçalves pela direita, com este a cruzar para Sporar obrigar Marchesín a uma defesa incompleta, aparecendo Vietto para capitalizar. O argentino terá sido a substituição mais acertada deste jogo, não só pelo golo. O FC Porto ainda teria mais um lance perigoso (90'+2'), num remate de Taremi que falhou o alvo por pouco, mas já não ia a tempo de corrigir o que quer que fosse. E assim se deitam dois pontos borda fora. Ainda é cedo no campeonato, mas num ápice o FC Porto vê-se cinco pontos atrás da liderança. Atenção.
O futebol em modo pandemia atingiu o seu ponto máximo: um jogo do título propriamente dito, aquele que "em caso de..." uma das equipas se sagra campeã, e que por isso é sinónimo de casa cheia. Só que a casa estava vazia e sendo esse jogo um clássico, mais se notava a falta que faz ter público. O resultado final garantiria então ao FC Porto o título, celebrado de forma também ela vazia; nem o troféu foi entregue logo ali, numa de disfarçar a quietude monástica das bancadas. Mas houve um jogo, pois, que começou com um susto para o FC Porto. Na primeira jogada a bola terminou no fundo da baliza dos dragões, mas havia fora-de-jogo. Não fazia prever que se seguiria uma primeira parte monótona, de equilíbrios e jogo do gato e do rato. Talvez por o nulo lhe servir, o FC Porto não se quis expor em demasia, mesmo com um onze próximo do melhor deste pós-interregno. Com isso, era possível a um Sporting quase sub-23 passar alguns períodos por cima do jogo. O técnico leonino Rúben Amorim quis fazer deste jogo um tubo de ensaio, procurando calejar jogadores como Eduardo Quaresma, Mateus Nunes ou Nuno Mendes - que jogaram de início - para este tipo de jogos, mesmo que não houvesse o ruído porporcionado pelo público. Nesse sentido, na antevisão, Amorim afirmou mesmo preferir defrontar um FC Porto a precisar do jogo, pelos benefícios futuros que isso poderia trazer aos seus - sem ofensa - leõezinhos. Os quais deram a conta possível do recado. Pelo menos enquanto Danilo Pereira não abriu o marcador (64'), após se desmarcar bem na área para corresponder, de cabeça, ao canto de Alex Telles. Por um lado, a tranquilidade do FC Porto passava a ter justificação também no marcador. Por outro, a tarefa do Sporting complicava-se; até porque do capital humano que foi saltando do banco, apenas Francisco Geraldes tinha alguma rodagem, ao contrário de homens como Rafael Camacho, Joelson ou Tiago Tomás. Ainda assim, o FC Porto só chegaria ao segundo golo já nos descontos (90'+1'), por Marega, que não tremeu no frente-a-frente com Luís Maximiano. Era a confirmação efectiva de que a noite seria de festa para os dragões. Uma festa comedida, pela falta de tudo o que é a envolvência de um jogo deste calibre.
Foi um clássico de forte conotação gastronómica. Além de ser o prato forte da jornada, juntava duas equipas entre a fome e a vontade de comer; e ainda podia haver borrego no final. Antes, porém, havia um jogo de futebol para disputar. Seria o FC Porto a sair na frente (6') graças a um golo quase por acaso de Marega. Lançado por Corona, o maliano desmarcou-se bem, mas dominou tão mal a bola que enganou o guarda-redes. Pelas imagens, fica a ideia de que Marega queria tirar Luís Maximiano do caminho para depois encostar, mas esse toque imperfeito acabou por ser o suficiente para abrir o marcador. Perto do intervalo (44'), uma má reposição de Marchesín deixou Otávio exposto, permitindo ao Sporting construir uma boa jogada colectiva que terminou com um remate de Acuña, ao primeiro poste, para o golo do empate. No segundo tempo os leões coleccionaram lances de grande perigo, mas não houve meio de atinarem com a baliza. Enquanto Vietto encontrou o poste (49'), os remates de Luiz Phellype (55' e 62') e Bruno Fernandes (58') saíram todos um cabelo ao lado do poste. No mais flagrante dos lances (63'), Vietto disparou por cima quando parecia ter o golo feito. Por seu turno, o FC Porto fez cumprir a velha máxima de que quem não marca, sofre (73'). Num canto batido por Alex Telles, Soares ficou solto de marcação e elevou-se para um cabeceamento a contar, em zona frontal. Os dragões teriam mais duas oportunidades claras, mas Maximiano brilhou em ambas, primeiro a negar Soares, que se isolou após tabelinha com Luis Díaz (75'), e mais tarde ao fazer uma óptima defesa a remate do colombiano (90'+2'). O trabalho de Díaz para se enquadrar merecia melhor sorte, mas é para defender que o guarda-redes está lá. O jogo acabou por cair para o lado do FC Porto, mas apetece pensar que se a partida fosse, por exemplo, da época 2015/16, um desses lances do Sporting teria dado em golo, o cabeceamento de Soares teria saído ao lado, e o Sporting teria vencido por 2-1. Uma vez que assim não foi, é mesmo o FC Porto que pode saborear a carne de um borrego que crescia desde Outubro de 2008, data do seu último triunfo em casa dos leões. Já o Sporting fica a 16 pontos da liderança. É certo que no futebol tudo muda demasiado depressa, mas parece certo que o borrego leonino, no que respeita à conquista do campeonato, vai mesmo atingir 18 anos.
O Sporting viveu em 2018/19 mais um ano zero. Quanto mais não seja porque depois dos terríveis acontecimentos do final de 2017/18 toda a nação leonina ficou sem saber bem o que esperar desta temporada. Durante o defeso Bruno de Carvalho foi deposto e posteriormente excluído de sócio, Sousa Cintra assumiu a presidência de forma interina e planificou a temporada, apresentando José Peseiro como novo treinador, diversos jogadores rescindiram contrato unilateralmente, e como se isso não bastasse, ainda houve campanha eleitoral. Só a 9 de Setembro, data da eleição de Frederico Varandas como novo presidente, o Sporting retomou alguma normalidade. Paradoxalmente, os problemas exclusivos da nova época começaram a partir daí. Os primeiros três jogos após a eleição trouxeram duas derrotas, em Braga (1-0) e Portimão (4-2), as quais deixaram os leões no quinto posto, já a quatro pontos da liderança; íamos na jornada 7. José Peseiro resistiu apenas mais dois jogos, saindo do comando técnico após uma derrota caseira com o Estoril (1-2), da II Liga, em jogo a contar para a Taça da Liga. Varandas ainda não completara dois meses como presidente e já tinha no currículo um treinador despedido.
A escolha do novo treinador foi ponderada, recaindo em Marcel Keizer, um nome desconhecido do futebol português. O holandês entrou em grande, conduzindo a equipa a vitórias sobre o Lusitano de Vildemoinhos (1-4, Taça de Portugal), Rio Ave (1-3), Aves (4-1), Nacional (5-2) e Rio Ave (5-2, Taça de Portugal); todas com muitos golos, tanto marcados como sofridos.
Como normalmente acontece nestas situações, é fácil esquecer os golos sofridos e pensar que os marcados vão continuar a aparecer. Assim seria. Dos sete encontros de campeonato entre as rondas 14 e 20 o Sporting venceria apenas dois, chegando a essa jornada, disputada em inícios de Fevereiro, a onze pontos do topo da classificação. Por essa altura, diga-se, já o Sporting tinha virado as suas atenções para as restantes provas.
Aliás, uma delas já tinha ido para o museu de Alvalade. Ao bater o FC Porto na final de Braga, o Sporting revalidou o título da Taça da Liga. Os contornos da vitória foram muito semelhantes aos da época passada, com os leões a resolverem os encontros da final-a-quatro só nas grandes penalidades. Na final, foi por um triz que o Sporting perdeu a taça para o FC Porto, mas uma grande penalidade em cima dos descontos levou tudo para o desempate. Aí, o nervosismo portista fez o resto; os homens do FC Porto falharam três grandes penalidades das quatro tentadas.
Na Taça de Portugal o Sporting também teve o gostinho de eliminar um dos outros grandes, no caso o Benfica. Depois de perder por 2-1 na Luz, os verdes-e-brancos bateram as águias por 1-0 na segunda mão, carimbando assim o bilhete para o Jamor, onde o FC Porto os esperava para uma desforra. Desta vez foram os da Invicta a evitar a derrota antes do desempate, mas o desfecho seria o mesmo: o Sporting não vacilou nas grandes penalidades e conquistou também a prova rainha.
A época chegaria ao fim quando o Sporting parecia ter encontrado o seu ritmo. As nove vitórias consecutivas entre as jornadas 24 e 32 assim o atestam. Analisando do ponto de vista do copo meio vazio, esses triunfos surgiram numa altura em que a pressão já era pouca ou nenhuma. Não é a primeira vez que a percepção é esta quando o Sporting se aproxima do final da temporada.
TREINADORES
José Peseiro é frequentemente visto como pé-frio, mas diga-se em sua defesa que raramente apanha num bom momento os clubes que orienta. A sua segunda passagem pelo comando do Sporting durou até ao final de Outubro.
Tiago Fernandes conduziu a equipa como técnico interino nas jornadas 9 e 10 do campeonato.
Marcel Keizer chegou, viu, venceu o primeiro punhado de jogos e logo focou a equipa nas provas a eliminar.
FIGURA
Bruno Fernandes, por todos os motivos e mais um. Só no campeonato apontou 20 golos, a somar a muitas assistências. Numa frase, foi o motor da equipa do Sporting. Bruno Fernandes marcou ainda golos em todas as eliminatórias da Taça de Portugal excepto na final, aos quais se juntam mais três na Taça da Liga e outros tantos na Liga Europa. Nada mau para um médio.
Muitos defendem que a primeira impressão é a que fica. Outros entendem que é a última. Talvez os segundos estejam mais correctos. Nesta final, no fundo, foi como se os dragões estivessem a lutar contra as impressões que foram transmitindo ao longo da temporada. Ou seja: o melhor FC Porto da primeira metade da campanha, contra a versão mais insegura da recta final. Com efeito, depois de começar por cima, estar em vantagem e ser a equipa mais agradável de observar durante o jogo, o FC Porto acabou por não dar a machadada final e segurar firme o resultado. A maior iniciativa dos azuis-e-brancos deu frutos já perto do intervalo (41'), quando Soares cabeceou para o primeiro golo do jogo. Ficaram dúvidas sobre se Herrera dominou a bola com o braço antes de cruzar para o ponta-de-lança, mas a jogada foi validada após revisão. Mesmo jogando mais compacto, o Sporting marcaria também antes do descanso (45'), num remate cruzado de Bruno Fernandes que Danilo Pereira desviou para a própria baliza. O internacional português, tendo Luiz Phellype nas costas, tocou na bola apenas ao de leve, mas acabou por encaminhá-la para o cantinho do poste, onde Vaná já não conseguiu chegar. Que galo. Luiz Phellype, caso tivesse tocado na bola, estaria em fora-de-jogo. Essa infelicidade - um tanto ou quanto involuntária - teve repercussões ao longo da segunda parte. Logo ao minuto 48 Soares escapou-se pela esquerda e rematou ao poste, já com pouco ângulo. Em cima do fim do tempo normal (90'+2'), nova bola ao poste, agora por Danilo Pereira, na sequência de um canto.
O Sporting, que tinha mostrado pouco, era ao mesmo tempo uma equipa difícil de vergar. Tem sido assim nos jogos de eliminação directa. Para o confirmar, é favor visitar o minuto 100. Em mais um lance como tantos outros, Felipe tentou cortar o cruzamento de Acuña mas fê-lo com o joelho; com isso, tirou a bola do caminho dos restantes defesas portistas e esta foi ter com Dost, ao segundo poste, para um certeiro remate cruzado. A partir daqui o FC Porto voltou a jogar só com o coração, mas ainda viveu uma redenção momentânea ao chegar ao empate quando a derrota parecia certa (120'+1'). Foi Felipe a compensar o erro e levar a decisão para o desempate.
E assim, mais uma vez, FC Porto e Sporting arrastaram a decisão de um título entre si até à última, na continuação de uma tendência de décadas. Olhando apenas aos tempos mais recentes, os leões confirmaram que são mesmo a némesis do FC Porto. Já os dragões confirmaram eles próprios que os desempates são uma barreira intransponível. O FC Porto até começou melhor, já que acertou as primeiras duas conversões, enquanto Dost acertou na trave. Nem assim. O Sporting não falhou nenhuma das restantes cinco penalidades que tentou, ao passo que Pepe (trave) e Fernando Andrade (defesa) desperdiçaram. A festa foi, portanto, pintada de verde. Já o FC Porto completa oito anos sem vencer a prova rainha.
Desde que se mudou para o Dragão o FC Porto só em 2004/05 viveu uma derradeira jornada em casa como esta, jogando ainda a poder chegar ao topo, mas a depender de terceiros para o atingir. Ter que defrontar o Sporting não era, ainda, a melhor das proposições; além do desagradável espectro da derrota final que pairava sobre os dragões, estes tinham ainda que se debater com o espectro da iminente final da Taça frente a este mesmo adversário. A partida só não foi uma antevisão dessa final porque só o FC Porto ainda tinha alguma coisa em jogo. Ainda assim, a primeira parte foi pouco mais que o proverbial jogo de fim de época. O futebol morno de parte a parte fazia com que até desse para ouvir os ponteiros do relógio a contar os minutos até ao intervalo. A única agitação resultou da expulsão de Borja (20'), por impedir Corona quando este se isolava rumo à baliza. No reatamento o FC Porto pareceu entrar com outra iniciativa, mas foi sol de pouca dura. Esse aparente desinteresse portista foi punido com um golo do Sporting (61'), numa das poucas subidas dos leões. Lançado por Diaby, Acuña conduziu o contra-ataque e assistiu Luiz Phellype, que rematou cruzado à saída de Vaná.
O FC Porto jogava contra dez há cerca de 40 minutos, mas não conseguia estabelecer um domínio claro sobre o jogo. E como tantas vezes acontece, o golo do adversário tornou-se no melhor remédio para espicaçar quem o sofre. Com outra vontade, e também beneficiando de um retraimento ainda maior por parte do Sporting, os dragões tornaram-se mais ameaçadores. O empate surgiria ao minuto 78, por Danilo Pereira, que à boca da baliza empurrou de cabeça, após desvio de Soares a um canto de Corona. Ao minuto 85 o FC Porto esteve perto do golo em dose tripla, mas Renan Ribeiro, André Pinto e Mathieu estiveram em grande para negar Aboubakar, Herrera e Soares, respectivamente. Face ao resultado do outro jogo relevante para as contas do título, já era certo que o FC Porto nunca sairia do segundo posto, mas pairava agora sobre o Dragão o espectro de uma não-vitória tão desagradável quanto o título perdido. Herrera assim não quis, e tratou de apontar, com um remate acrobático, de ângulo apertado, o golo que consumou a reviravolta (87'). O mexicano festejou com vontade, mas esse golo significou apenas que o FC Porto fez a sua parte até ao fim. As restantes partes ficaram por fazer. O Sporting, que procurou pouco mais que não perder peças para a Taça, acabou por não aguentar até final.
Falando em perder peças, o jogo não terminaria sem que se gerasse um enorme sururu a propósito de um lançamento lateral (90'). Sem que houvesse grande justificação para que os jogadores do FC Porto se envolvessem nessa confusão, Corona abusou e foi expulso. E fará muito mais falta ao FC Porto do que Borja ao Sporting.
As premissas subjacentes ao encontro da meia-final serviam para enquadrar o jogo da decisão, mas não podem ser invocadas. Oferecer um bom jogo talvez seja algo que FC Porto e Sporting não conseguem quando se defrontam; pelo menos nos exemplos mais recentes tem sido esse o caso. Sem grandes mexidas de parte a parte, foram os azuis-e-brancos a revelar maior fio de jogo, perante uma equipa do Sporting que optou, passe a expressão, por ver o que o jogo podia dar em vez de procurar fazer com que algo acontecesse. No fundo, o FC Porto não foi claramente superior aos leões, mas fez o suficiente para quebrar a malapata e finalmente arrecadar a sua primeira Taça da Liga. Faltava só o essencial: o golo. Esse, apareceu quando já não faltava jogar muito tempo (79'). Foi Fernando Andrade a rubricar o tento, ao aproveitar uma defesa incompleta de Renan Ribeiro a remate de Herrera; terá faltado ao Sporting alguma presença mental para tirar a bola antes que o avançado portista reagisse. Só aqui o Sporting acordou para o jogo, elevando a intensidade e procurando o ataque. Restava agora pouquíssimo tempo até ao apito final e o FC Porto parecia ter a vitória na mão. Mas trata-se da Taça da Liga, senhoras e senhores, o local onde acontece sempre alguma coisa ao FC Porto. Assim foi. Corria o minuto 88 quando num lance inofensivo Óliver Torres, ao procurar aliviar a bola, acertou em Diaby, que se tinha autenticamente lançado para a sua frente. O lance não ofereceu grandes dúvidas, mas o juiz João Pinheiro apenas assinalou o castigo máximo depois de consultar o vídeo-árbitro. Chamado à conversão, Dost não falhou (90'+2'). Foi por pouco que Raphinha não fez mesmo a reviravolta (90'+5'), mas o seu remate cruzado saiu um pouco ao lado do poste. As grandes penalidades seriam mesmo necessárias para descobrir quem levaria a taça para casa. O historial portista em desempates por este método não é famoso, e ainda não foi desta que a tendência começou a inverter-se. À segunda tentativa Coates falhou, mas Éder Militão não fez melhor, ao colocar tanto a bola que esta saiu do lado errado do poste direito. Foi o quanto bastou para que o FC Porto tremesse e tanto Hernâni como Felipe desperdiçassem os seus remates. Do outro lado, Bruno Fernandes e Nani não enjeitaram, e assim o Sporting venceu a sua segunda Taça da Liga consecutiva. Já o FC Porto fica mais uma vez à procura de uma justificação plausível para ainda não ter conseguido erguer este troféu.
Tiram-se tantas ilações sobre os desfechos dos jogos do FC Porto em casa do Marítimo, que é fácil esquecer que os azuis-e-brancos não ganham em Alvalade desde 2008/09. Nesta visita, pode dizer-se que o FC Porto esteve tão perto de ganhar quanto o Sporting... e tão longe ao mesmo tempo. Tão longe quanto as equipas estiveram do golo durante toda a primeira parte. Tratou-se mesmo de um pacto de não agressão. O reatamento trouxe duas equipas um pouco mais abertas, e com isso apareceram algumas oportunidades. Numa das mais claras (56'), o FC Porto avançou pela direita, Corona cruzou e a bola ficou à mercê de qualquer um na zona fatal. No auge do pânico, Soares, o mais bem colocado para o golo, não acertou bem na bola e permitiu a Renan Ribeiro segurar, beneficiando também da falta que foi assinalada por Soares ter acertado também na mão do guarda-redes leonino. Pouco depois (60') Marega rematou com peso e medida para o ângulo superior, mas a bola saiu ligeiramente por cima; terá sido o melhor remate à baliza em todo o encontro. Bruno Fernandes tentou ele próprio surpreender Casillas com um forte remate cruzado, mas o espanhol não cedeu (62'). Felipe também visou a baliza na sequência de um livre de Alex Telles, mas o seu cabeceamento perdeu-se pela linha de fundo (65'). Foi o melhor período do jogo, que logo voltou a perder interesse, arrastando-se, desprovido de golos, até ao seu epílogo. Quando se trata de clássicos a contar para o campeonato, é relativamente frequente as equipas não quererem arriscar, preferindo deixar as decisões para outras batalhas. Foi o caso. E assim se mantêm longos os dias sem que o FC Porto festeje um triunfo em casa do Sporting.
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