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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Como o resultado final espelha, o FC Porto não teve grandes dificuldades em impor o seu domínio. Apenas durante o quarto-de-hora inicial o Arouca incomodou os azuis-e-brancos, conseguindo uma série de cantos e forçando Fabiano a uma defesa vistosa, quiçá a única que teve que fazer.
O FC Porto praticamente assegurou os três pontos no espaço de dois minutos. Aos 24 Quintero abriu o activo num remate de fora da área que ainda bateu nas pernas de um defensor do Arouca, e aos 26 Jackson Martínez, à boca da baliza, regressava aos golos.
Antes do intervalo Casemiro, de cabeça na cobrança de um canto, fez o seu primeiro golo na época. Um tento importante para o brasileiro, que precisa de emendar a imagem menos boa dos dois jogos anteriores.
No segundo tempo Jackson bisou e ainda houve tempo para Aboubakar fixar o resultado final, desmarcando-se a passe de Quaresma e colocando a bola por entre as pernas do guardião, num golo construído por homens saídos do banco.
O jogo foi tão tranquilo que não há muito mais a contar. O volume do triunfo é bom para colocar a concorrência em sentido, mas é apenas mais um quilómetro percorrido na perseguição ao topo da tabela.
Este jogo permitiu perceber que ainda há paciência no reservatório dos adeptos do FC Porto. E ainda mostrou que a mesma tem limites, e é mais para com a equipa que para com o treinador.
Nos segundos após o golo do empate do Athletic os adeptos tornaram-se mais ruidosos no apoio à equipa, mas assim que os jogadores do FC Porto traziam a bola até à defesa ou atrasavam para o guarda-redes, os incentivos transformavam-se em assobios, que triplicaram de intensidade quando Julen Lopetegui decidiu retirar do jogo Quintero, que estava a ser dos melhores da equipa. Entrava Ruben Neves – pausa nos assobios para o aplaudir – e Quaresma continuava tranquilamente a aquecer.
Os clamores pela entrada do Cigano eram mais que muitos, por entre mais algumas vaias, e seriam satisfeitos aos 70 minutos, quando Quaresma foi a jogo. Bastaram cinco minutos para que fosse herói, ao apontar o golo da vitória, num remate que passou por baixo do corpo de Iraizoz.
O golo foi gritado e festejado bem do fundo da alma azul-e-branca, e com ele o FC Porto escapou ileso de um jogo em que a exibição não convenceu plenamente. Fabiano não comprometeu, Martins Indi é um jogador de qualidade e Herrera começa a ser uma excelente peça de ligação no meio-campo, mas Danilo é inconclusivo, Tello e Brahimi demoram demasiado tempo a soltar a bola – e por vezes não a soltam –, Casemiro fez um jogo muito fraco, muito faltoso, e Jackson esteve demasiado sozinho na frente.
O somatório resultou numa exibição em que o FC Porto pareceu ter medo de rematar, nem sempre jogou em equipa, abusou dos passes pelo ar e várias vezes não definiu bem na hora de sair com a bola da defesa. Custaria caro aos 58 minutos, quando um passe de Herrera se perdeu nos pés de Guillermo, que avançou até ao 1-1.
O Athletic é um clube de tradição em Espanha e arrastou milhares de adeptos, mas parece estar na ressaca da boa campanha do ano passado, e não foi nem mais, nem menos convincente que os dragões. Deu sinal de se querer proteger de Quaresma – e talvez conformar-se com o empate – quando trocou Mikel Rico por Gurpegui, mas a manobra não deu resultado, já que os leões de Bilbau sofreram o golo decisivo logo de seguida, e não teriam o discernimento suficiente para causar perigo num par de lances em que andaram perto da baliza portista, nos descontos.
Chega a ser incrível como o resultado se saldou por um 2-1. Houve momentos na primeira parte em que parecia que o 0-0 se iria manter. Herrera, em cima do intervalo, apagou essa ideia. A sua perda de bola acrescentou ao jogo um capítulo que fez com que Lopetegui tivesse que afagar o ego dos adeptos e ainda levar um estalo de luva branca. Será que aprendeu?
O triunfo deixa o FC Porto em posição privilegiada para chegar à fase seguinte. Se vencer o jogo caseiro que lhe resta e trouxer pontos de uma das próximas deslocações – Athletic e depois BATE Borisov – deve assegurar o lugar nas eliminatórias.
À margem do jogo, a noite de Champions foi histórica. Bateu-se o recorde de golos num só dia – 40 em oito jogos – a Roma sofreu a sua pior derrota caseira de sempre na Europa – 1-7 com o Bayern – e o BATE seguiu-lhe as pisadas, perdendo por 0-7 com o Shakhtar, por quem Luiz Adriano assinou cinco golos, igualando o recorde da Liga dos Campeões, estabelecido por Messi em 2013.
Semanas atrás, noutro contexto, Pinto da Costa disse que este ano “estava a começar mais cedo”, mas o que verdadeiramente aconteceu mais cedo foi a despedida de um dos objectivos da temporada. De forma tão dolorosa quanto justa.
Graças a um jogo bem conseguido, o Sporting vence em casa do FC Porto pela primeira vez desde 2006/07 – incluindo todas as competições – e deixa os dragões sem poderem apontar o dedo a mais ninguém senão a si próprios. Ambos os treinadores mexeram nos habituais titulares, mas a chave do jogo não reside em quem terá mexido mais; foram antes os erros defensivos do FC Porto que o fizeram ficar irremediavelmente atrás no resultado.
Se num primeiro momento Marcano foi infeliz ao desviar para a própria baliza um cruzamento de Jonathan Silva a que Montero não conseguiu chegar (31’), minutos mais tarde Casemiro foi – no mínimo – imprudente na forma como deu sequência a um alívio de Maicon.
O central, pressionado por Montero no canto direito da defesa, queria chutar contra o adversário para ganhar um lançamento, mas a bola não lhe acertou e chegou aos pés de Casemiro, que faz um péssimo passe – horrível, mesmo – pelo ar para a zona central da defesa, mas sem destinatário definido. O mesmo Montero acorreu à bola perdida e endossou-a a Nani, que rematou para golo.
Era o 1-2 aos 39 minutos. O lance destruiu a reacção pronta dos portistas, que tinham empatado quatro minutos após o autogolo de Marcano, numa jogada em que Quintero desmarca Jackson Martínez com um notável passe em profundidade. O ponta-de-lança apareceu isolado frente a Rui Patrício, tal como tinha acontecido no recente encontro de Alvalade para o campeonato, mas desta vez não perdoou, picando a bola sobre o internacional português.
O colombiano perdoou, sim, quando dispôs de uma grande penalidade, aos 51 minutos. Além de partir em posição irregular e forçar o penálti – pelo meio tem oportunidade de rematar mas prefere fintar de novo –, Jackson ainda se dá ao luxo de falhar a conversão, tentando uma paradinha que resultou contra o Shakhtar, mas não aqui, com Patrício a adivinhar o lado e deter o remate.
O castigo máximo foi o único lance da segunda parte em que o FC Porto poderia ter corrigido parte das asneiras dos primeiros 45 minutos. O efeito da não-conversão foi nefasto para a equipa do FC Porto, que ficou ainda mais por baixo do jogo, mesmo sem sofrer golo.
O beneficiado foi o Sporting, que sai do Dragão com uma vitória saborosa e moralizante. Logo nos primeiros segundos Nani mostrou ao que vinha, com um remate ao poste em que a defesa azul-e-branca mostrou alguma passividade. Ao longo do jogo, e ajudado pela vantagem no marcador, o Sporting demonstrou mais à-vontade com a bola, usou-a melhor, condicionou muito a estratégia do FC Porto e ainda coroou o triunfo com o golo de Carrillo (82’), que abriu caminho a sonoros olés pelos milhares de adeptos leoninos que vieram à Invicta. Vitória justificada, portanto.
Mas nada disto cai bem nas hostes portistas. Nem poderia! Num ano sem Supertaça, e com o FC Porto quatro pontos atrás do primeiro lugar do campeonato, sair assim da Taça de Portugal promete não deixar margem para mais erros a treinador e equipa. As críticas à falta de um onze-base, à colocação de jogadores fora das suas posições de raiz e à (não-)utilização de Quaresma adensar-se-ão, e cada acção dos jogadores estará certamente sob grande escrutínio pelos adeptos azuis-e-brancos.
Apertem os cintos.
Três jogos depois, os dragões voltaram aos triunfos, derrotando um Braga que recordou as gloriosas campanhas da viragem da década e deu muito trabalho ao FC Porto.
Num bom jogo de futebol, o FC Porto foi o primeiro a marcar, por Bruno Martins Indi (24’), mas a vantagem não duraria mais que oito minutos, uma vez que o Braga não se rendeu, e não foram poucas as vezes que apareceu com perigo junto da baliza de Fabiano.
No entanto, e tal como no jogo com o Shakhtar, o Braga só chegaria ao golo numa oferta do FC Porto. Sob pressão, Brahimi atrasou a bola de qualquer maneira na direcção de Martins Indi. Farejando o erro, o bracarense Zé Luís antecipou-se, tirou o holandês do caminho e rematou para o empate, com a bola ainda a desviar levemente na passada de Maicon, que nada pôde fazer.
Durante largos minutos pairou no Dragão o espectro de novo empate, já que nenhuma equipa subjugou a outra, apesar da muita entrega e vontade demonstrada pelos jogadores. O coelho sairia da cartola de Quintero, um dos melhores em campo, que mesmo apertado pelos centrais contrários atirou a contar, à entrada para os últimos vinte minutos.
Os arsenalistas lutaram até final, e acabaram o jogo a reclamar de uma decisão de Pedro Proença, que entendeu não haver motivos para assinalar castigo máximo num lance entre Martins Indi e Pedro Santos.
A vitória é saborosa para o FC Porto. Além do alívio de ter quebrado uma sequência menos boa de resultados, foi conseguida num encontro em que a dificuldade do mesmo valoriza os três pontos somados. Contudo, por muito bom que o resultado seja, mais não faz que manter o FC Porto quatro pontos atrás do Benfica, que à mesma hora recebeu e venceu o Arouca.
Enquanto o líder não deslizar é de vital importância que o FC Porto não desarme na perseguição. Quem pagaria – ou pagará – em caso de nova escorregadela é Julen Lopetegui. No fundo, o basco é um novato no futebol português, e com as memórias de 2013/14 ainda frescas na memória colectiva portista, não será preciso muito para o técnico ser acusado de tudo e mais alguma coisa.
O próximo jogo do FC Porto é só, possivelmente, no dia 17 de Outubro. É para a Taça de Portugal e o adversário chama-se Sporting. Teste sério a dias da recepção ao Athletic para a Liga dos Campeões.
No jornal O Jogo de 24 de Setembro foi publicada uma entrevista com Bjørn Maars Johnsen, avançado americano/norueguês do Atlético. Perguntaram-lhe quais as diferenças entre o futebol na Noruega, Espanha e Portugal, países por onde o jogador passou. O rapaz respondeu o seguinte:
“Vou ser bem sincero. Aqui há muito ‘mergulho’ (…). Ainda neste último jogo sofri um penálti contra o Braga B que na Noruega não seria, seguramente, marcado. Mas fazer o quê? Senti o contacto e caí…”
Por muito condenável que este comportamento seja – e diga-se que ele não tem culpa nenhuma – a sua sinceridade é muito bem-vinda.
No futebol português os jogadores não sofrem faltas, provocam-nas. Além de simularem sofrer agressões, rasteiras, puxões e empurrões, deixam-se cair sempre que o adversário se encosta. Na grande maioria das vezes os árbitros concedem falta.
Mas não é tudo. Em Portugal os jogadores não fintam os adversários; preferem tirar a bola da zona de acção e deixar a perna para trás, forçando o contacto; ou então abalroam mesmo o oponente. E ganham um livre…
Para completar o ramalhete, por vezes fazem-se tropeçar nas próprias pernas – e com isso enganam o árbitro – e até simulam lesões.
Intervenientes no jogo e (tele)espectadores são constantemente induzidos em erro por estes comportamentos desonestos, nada facilitadores da tarefa dos homens do apito, que se tornam vítimas dessa desonestidade mais do que das suas próprias decisões.
Os jogadores que actuam por cá não são manhosos por defeito. São formados e formatados para agirem assim em campo. E os estrangeiros, como Maars Johnsen comprova, rapidamente absorvem este modus operandi.
Qualquer árbitro, jornalista, comentador ou adepto com dois dedos de testa consegue ver que só uma pequena percentagem das faltas assinaladas o é verdadeiramente. O resto é provocado. Cavado, como se diz em futebolês. E com isso desvirtua-se a essência do jogo. Falta a coragem de o assumir, apontar e condenar.
Só isso fará com que haja uma mudança de mentalidades transversal a todos os que fazem parte do jogo, desde as escolinhas até aos seniores. Enquanto não mudar, os jogos em Portugal continuarão a ser uma farsa.
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