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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Leonardo Jardim tinha avisado, ainda na ponta final de 2013/14, que o Sporting teria que se acautelar em termos de plantel para enfrentar uma temporada com jogos europeus à mistura. Coincidência ou não, à 10.ª jornada o Sporting caía para o oitavo lugar da Liga, ao empatar em casa com o Paços de Ferreira (1-1). Levava já quatro jogos disputados na Liga dos Campeões, dos quais vencera apenas um, em casa com o Schalke 04. Estava-se a 10 de Novembro. Oito pontos abaixo do primeiro lugar, o único alento dos verde-e-brancos provinha da Taça de Portugal, onde haviam eliminado o FC Porto no Dragão (1-3) com uma boa exibição.
Esse empate com um Paços que nesse momento até seguia acima do Sporting na classificação era já o terceiro em Alvalade, e sucedia a uma derrota pesada em Guimarães (3-0), num final de tarde endiabrado dos minhotos. As consequências classificativas eram óbvias, e o Sporting só chegaria aos lugares do pódio à 16.ª jornada, quando venceu em Braga com um livre de Tanaka nos descontos.
A data era 11 de Janeiro e a diferença para o líder era já de dez pontos. A Liga dos Campeões também já era passado, com o Sporting ficar um ponto aquém do segundo lugar do grupo. Bem presentes ainda estavam as cinzas do folhetim que marcou o período natalício, nascido de um nítido bate-boca entre Bruno de Carvalho e Marco Silva, via comunicação social, no qual José Eduardo se envolveu de forma tão inesperada quanto inusitada, se pensarmos que se trata do responsável pelo catering do estádio.
A 8 de Fevereiro surgiria a estocada final nas aspirações leoninas a nível de campeonato, após um empate com o Benfica que custou a engolir. Jefferson marcou para o Sporting aos 87 minutos, mas a vantagem escapou nos segundos finais. Faltavam 14 jogos para o final do campeonato, e apesar da distância pontual para o líder Benfica ser de sete pontos, as atenções do Sporting voltaram-se definitivamente para a Taça de Portugal, onde a caminhada se tornara meiga depois do Dragão. Os leões ultrapassaram Espinho (0-5), Vizela (2-3) e Famalicão (4-0), todos do Campeonato Nacional de Seniores, antes de se baterem com o Nacional nas meias-finais, onde venceram à tangente, por 3-2 no agregado das duas mãos.
O Jamor seria mesmo o clímax da época do leão, que aí quebrou um jejum de troféus que durava desde 2008. A vitória sobre um Braga valoroso foi épica. Jogando com menos um durante 76 minutos, aos 25 de jogo o Sporting perdia por 0-2, mas os golos de Slimani (84’) e Montero (90’+3’) levaram tudo para o prolongamento. Tão impensável quanto incrível. A decisão só chegou nas grandes penalidades, a primeira vez que tal aconteceu numa final. O Braga tremeu, falhando três conversões contra nenhuma do Sporting. Os festejos foram efusivos, e até Bruno de Carvalho andou com jogadores às cavalitas. Marco Silva pareceu ter passado ao lado da celebração. Sinal da paz podre que dura desde Janeiro?
O primeiro bicampeonato do Benfica em 31 anos ofuscou a fotografia maior: foi a primeira vez que o clube conquistou seis troféus em duas temporadas, numa séria ameaça ao domínio portista das últimas décadas. O saldo final de Supertaça, Liga e Taça da Liga volta a colocar os encarnados à frente do FC Porto no somatório de títulos oficiais conquistados.
Tal como na época anterior, o Benfica demonstrou ser a equipa mais tranquila da Liga, graças a uma base de trabalho sólida e com rotinas estabelecidas. Líder desde a quinta jornada, o Benfica cimentou o comando entre as rondas 9 e 17, período em que venceu nove partidas de enfiada, garantindo uma vantagem que lhe permitiu resistir às duas derrotas e três empates averbados na segunda volta.
Apesar de as águias terem sido tanto a equipa mais regular, como aquela que exibiu maior tranquilidade em campo, esses 12 pontos desperdiçados poderiam ter custado muito caro, uma vez que o FC Porto esteve sempre no encalço, terminando a época escassos três pontos mais atrás. Costuma dizer-se que “candeia que vai à frente alumia duas vezes”, e terá sido esse velho ditado a proteger o Benfica, principalmente nos momentos em que o FC Porto não o conseguiu colocar em apuros sérios, não aproveitando alguns desses pontos perdidos.
O destaque do Benfica tem que ir inteiramente para Jonas. O brasileiro, estreante no futebol português, marcou golos a rodos em todas as competições internas, incluindo 20 tentos na Liga. Não fosse um golo anulado na última jornada e teria mesmo sido Jonas o melhor marcador. Lima também esteve em foco, com 19 golos só no campeonato, numa equipa que beneficiou em grande medida da segurança de Júlio César na baliza e da liderança em campo de Luisão, juntamente com nomes como Maxi Pereira, Talisca, Salvio e Gaitán, que foram os motores da equipa, se bem que Talisca tenha sido mais proeminente durante a primeira metade da campanha.
A Europa é que continua a ser um quebra-cabeças para o Benfica. Num grupo teoricamente muito apertado – com Mónaco, Bayer Leverkusen e Zenit – os encarnados terminaram no último lugar, despedindo-se das provas da UEFA logo em Dezembro. A dificuldade de um grupo de Champions como este fica espelhada num aspecto em particular: o Benfica foi o único dos cabeças-de-série que não passou aos oitavos-de-final, enquanto o Mónaco foi a única equipa do pote 4 a apurar-se.
Foi também nesse mês de Dezembro que o Benfica saiu da Taça de Portugal, caindo aos pés do Braga em pleno Estádio da Luz (1-2). Pensando que em 2013/14 o Benfica terminou com cerca de 60 jogos nas pernas, de um certo ponto de vista estas duas eliminações podem ter sido uma dádiva, já que permitiram um enfoque mais intenso sobre o percurso na Liga NOS. A época benfiquista fecharia com a conquista da Taça da Liga, diante do Marítimo na final de Coimbra (2-1), a 29 de Maio.
Nessa altura já estavam praticamente esquecidos os graves tumultos verificados na celebração do 34.º título de campeão. A somar aos confrontos entre claques em Guimarães nas horas que antecederam o jogo decisivo, houve saque de bares e armazéns de material desportivo no recinto dos vimaranenses, antes de um capítulo final nas ruas de Lisboa, onde um grupo de adeptos se envolveu numa rixa com a Polícia, que acabaria por se prolongar por um par de horas, entre arremesso de pedras e garrafas e cargas policiais avenida acima.
Um final de festa bem negro, que desviou as atenções de um pormenor. No ano passado o técnico Jorge Jesus festejou junto de jogadores e adeptos enfeitado com tantos adereços do Benfica que até um agente da PSP o confundiu com um adepto; desta vez foi o último a surgir no palanque, acompanhado por Luís Filipe Vieira, sem que se vissem muitos sorrisos entre ambos. O contrato de Jesus, tanto nesse dia como à data em que escrevo, ainda não foi renovado.
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