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CORTE LIMPO

Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário



Terça-feira, 24.05.16

SPORTING CP 2015/16

A época do Sporting foi como que um clímax ao contrário. Começou em clima de euforia, mas terminaria sem nada de palpavelmente positivo a reter. Esse entusiasmo inicial tinha razões de ser. A chegada de Jorge Jesus, vindo directamente do Benfica, funcionou como uma promessa tácita de vitórias. Afinal de contas, o treinador ingressava no Sporting não por ter falhado no anterior clube, mas sim porque não renovou contrato no final de seis anos, globalmente, de sucesso. As palavras do treinador no momento da apresentação – “a partir de agora há três candidatos ao título” – ajudou ainda mais a que os adeptos e simpatizantes leoninos sentissem que estavam perto de uma temporada de sonho.

A conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, justamente diante do Benfica, com um golo solitário do reforço colombiano Gutiérrez, foi sem dúvida o melhor dos arranques que o Sporting poderia desejar, mas não seria preciso esperar muito por um desaire. Ainda em Agosto, os leões eram eliminados da Liga dos Campeões no play-off de acesso, passando assim ao lado do prémio de entrada e da oportunidade de se exibirem na montra principal do futebol europeu. A digestão foi difícil, ou não tivesse a eliminação acontecido às mãos do CSKA Moscovo, esse velho fantasma sportinguista.

Com o avançar da época, e de resto tal como fazia no Benfica, Jorge Jesus tendeu a desvalorizar as outras competições, no sentido de focar o plantel exclusivamente no campeonato. Daí que talvez não tenham sido assim tão surpreendentes os resultados menos positivos na fase de grupos da Liga Europa, nomeadamente as derrotas com o Lokomotiv Moscovo (1-3) e em casa dos albaneses do KF Skënderbeu (3-0). Na conferência de imprensa após a vitória em casa do Lokomotiv (2-4), na penúltima ronda, que recolocou o Sporting no caminho do apuramento, Jesus chegou mesmo a admitir que esse triunfo o ia obrigar a encarar o derradeiro encontro de outra maneira, o que diz muito da importância que o técnico dava à Liga NOS, em detrimento das outras frentes.

E não ficaram mesmo dúvidas de que vencer o campeonato era o desiderato que o Sporting mais procurava atingir. Os verde-e-brancos não só foram a equipa que mais tempo passou na liderança (15 jornadas), como terminaram com recordes de pontos (86) e vitórias (27), além do seu melhor registo ofensivo (79 golos) desde 1973/74, quando Yazalde, sozinho, marcou 46. Os números levaram a decisão do campeonato para a última jornada, mas não foram suficientes para mais que vender bem caro o título que ficaria nas mãos do Benfica.

Mais do que a derrota (0-1) com o Benfica, na 25.ª jornada, que significou uma troca de comandante, o que verdadeiramente traiu o Sporting foram os empates caseiros com o Paços de Ferreira (1-1) na terceira jornada, com o Tondela (2-2) na 18.ª e com o Rio Ave (0-0) na 21.ª. Bastava que um desses não tivesse acontecido e o Sporting seria mesmo o campeão, beneficiando da vantagem no confronto directo com os encarnados. O Sporting foi ainda a equipa que menos vezes foi derrotada (apenas duas) e venceu todos os clássicos da temporada, à excepção dessa recepção ao Benfica, que apesar do que se escreve acima, haveria de ser decisiva para o desfecho da Liga NOS. A partir desse jogo, que deixou o Sporting com dois pontos de atraso, os gigantes de Lisboa venceram todos os jogos até final.

A Taça de Portugal deixaria aos leões um sabor agridoce. Depois de eliminar o Benfica (2-1 após prolongamento), a defesa do troféu conquistado no ano transacto terminaria na Pedreira, onde o Braga sairia vencedor de um jogo louco (4-3 após prolongamento), em que o Sporting se pode queixar de um golo limpo que o juiz Fábio Veríssimo não sancionou, minutos antes do quarto tento bracarense. No tocante à Taça da Liga, a participação leonina cingiu-se à fase de grupos, onde o surpreendente Portimonense, da II Liga, bateu um Sporting em poupanças (2-0) e comprometeu a passagem deste às meias-finais.

O afastamento da Taça da Liga aconteceu semanas antes do regresso da Liga Europa, onde o Sporting acabara por se apurar para os 16-avos-de-final, que se revelariam a paragem final dos leões na sua viagem pela Europa. Tal como os outros dois grandes, também o Sporting tombou frente a uma equipa alemã, no caso o Bayer Leverkusen, outro velho conhecido de Alvalade. O Werkself – “onze da fábrica”, traduzindo à letra – venceu os dois jogos, com Bellarabi a fazer o único golo em Lisboa, e mais dois na confirmação na Alemanha (3-1).

O verde, diz-se, é a cor da esperança, e essa manteve-se então até à última ronda da Liga NOS. O Sporting fez a sua parte, vencendo em Braga (0-4), mas o jejum do título nacional completaria mesmo 14 anos. Se bater recordes e completar séries de 13, 10 e 9 jogos sem perder não chegou, na próxima época, para ser campeão o Sporting terá que ser perfeito.

 

Treinador

De uma coisa ninguém se pode queixar: Jorge Jesus defende a sua dama até ao fim, nem que para isso lhe possam chamar convencido, arrogante, ou mesmo cego. No fundo, Jesus foi igual a si próprio. Enquanto a equipa conseguiu vitórias importantes, o técnico acumulou muitas frases fortes e uma enorme falta de cortesia para com o homem que lhe sucedeu no Benfica, mas assim que o Sporting ficou em desvantagem tudo se resumiu a uma bolha que rebentou e não libertou mais que ar quente. Pelo menos no campeonato, o Sporting de Jesus praticou bom futebol ao longo de toda a campanha, e nunca deixou de acreditar, mas o treinador teria que se contentar com a Supertaça na hora de conferir o saldo final da temporada.

 

Figuras

Slimani foi o segundo melhor marcador do campeonato, com 27 golos, o melhor pecúlio de um jogador do Sporting desde os 42 de Jardel em 2001/02, e superando os 25 de Liedson em 2004/05. O argelino não o teria conseguido sem o bom trabalho de Adrien Silva e João Mário no equilíbrio do meio-campo.

 Ruiz e Gutiérrez contribuíram com 19 golos entre si, só no campeonato. Conhecido por não utilizar muitos jogadores jovens, Jorge Jesus concedeu algumas oportunidades a outros elementos principalmente nos encontros extra-campeonato, onde Matheus Pereira e Gelson Martins mostraram algo de positivo.

 

Contas finais

Campeonato: 2.º lugar, com 27v, 5e, 2d, 79gm, 21gs (melhor defesa), 86pts

Taça de Portugal: afastado na 5.º eliminatória (Braga, 4-3 a.p.)

Taça da Liga: eliminado na fase de grupos

Supertaça Cândido de Oliveira: vencedor (Benfica, 1-0)

Europa: eliminado da Liga dos Campeões no play-off; eliminado da Liga Europa nos 16-avos-de-final (Bayer Leverkusen 0-1c, 1-3f)

 

Para mais tarde recordar

25.10.2015, jornada 8 – vitória na Luz por 0-3. Primeira vitória aí desde 2005/06, e a mais folgada desde 1947/48;

06.01.2016, jornada 16 – vitória no Bonfim por 0-6; a maior desde 1959/60 (1-7);

13.02.2016, jornada 22 – Sporting consegue a sua vitória mais folgada nas visitas ao terreno do Nacional (0-4)

 

Para esquecer

26.08.2016, Liga dos Campeões: perde em Moscovo frente ao CSKA por 3-1 na segunda mão do play-off de acesso, e baixa à Liga Europa;

05.03.2016, 25.ª jornada – derrota caseira por 0-1 frente ao Benfica; o Sporting viu-se ultrapassado pelas águias e não mais voltaria ao comando da classificação.

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por Miran Pavlin às 22:30

Terça-feira, 24.05.16

SL BENFICA 2015/16

Depois do primeiro bicampeonato em 31 anos, o Benfica escavou um pouco mais nos livros de história e regressou trazendo em mãos o seu primeiro tricampeonato em 39 anos. E pode até dizer-se que os encarnados foram campeões quando tinham tudo para não o ser. Além das saídas de jogadores, o Benfica entrava na primeira época pós-Jesus, era alvo de ataques constantes por parte do ex-treinador, chegou a ver-se no oitavo posto, à oitava jornada, e passou as cinco rondas seguintes com um atraso de oito pontos face ao primeiro lugar, em parte motivado pelo jogo que teve em atraso, e que só acertou – com um empate – após a jornada 13, altura em que ficou cinco pontos abaixo do líder.

Até essa oitava jornada, o Benfica tinha perdido três jogos, aos quais se somava o desaire na Supertaça Cândido de Oliveira, frente ao Sporting (0-1). As águias encontravam-se mesmo num bloqueio de clássicos, uma vez que perderam os encontros da Liga NOS com FC Porto (1-0, na 5.ª jornada) e Sporting (0-3, na jornada 8). A saída da Taça de Portugal ocorreu bastante cedo, e novamente às mãos dos seus rivais de Alvalade, que saíram vencedores por 2-1, após prolongamento.

O Benfica parecia estar perto de uma calamidade, mas seria por essa altura que arrancaria para uma impressionante sequência, que justificou por inteiro a conquista do título de campeão. Entre a jornada 9, na qual bateu o Tondela, em Aveiro, por 0-4, e a última, o Benfica venceu 25 dos 27 jogos que realizou, cedendo pontos apenas nesse tal jogo em atraso com o União (0-0) e na recepção ao FC Porto (1-2). A prova cabal de que o Benfica é um justo campeão reside num dado estatístico: foi o campeão mais pontuado da era dos três pontos por vitória, com 88, número que nem as melhores edições do FC Porto atingiram. Nem se deu pelas ausências, devido a lesão, do guarda-redes Júlio César e do central Luisão.

A jornada 25 foi simbólica para o Benfica, que disputou aí o último clássico da época, novamente em Alvalade, com os dois conjuntos separados por dois pontos. Carregando o peso de ainda não ter vencido nenhum dos clássicos já realizados, as águias estavam perante uma autêntica final, e não perderiam a hipótese de saltar logo aí para o topo da classificação. Um golo de Mitroglou, ao minuto 20, foi o suficiente para quebrarem o enguiço. A marcha do Benfica continuou a todo o vapor até ao termo do campeonato, e foi bem necessário que assim fosse, já que a vantagem de dois pontos obtida em casa do Sporting se manteve até final.

A campanha europeia foi também ela positiva, com o Benfica a atingir os quartos-de-final da Liga dos Campeões. O saldo da fase de grupos não foi particularmente esclarecedor, mas os dez pontos somados, ao contrário do que sucedera em 2013/14, foram suficientes para passar à fase seguinte. Aí, o Benfica ultrapassou o Zenit, numa eliminatória de nervos, antes de se bater dignamente com o Bayern Munique nos quartos-de-final, onde cairia por 2-3 no agregado das duas mãos.

A época terminaria com a conquista da sétima Taça da Liga, em nove edições possíveis. Numa repetição da época anterior, o Benfica defrontou o Marítimo na final de Coimbra, triunfando desta vez por um robusto 6-2. Num dado tão impressionante quanto a carreira nesta Liga NOS, o Benfica apenas perdeu um jogo nos 90 minutos em toda a história da Taça da Liga – 2-1 em Setúbal, em 2007/08. Mas não só: ao bater o Moreirense por 1-6 na fase de grupos, tornou-se na primeira equipa a atingir a meia dúzia nessa competição.

 

Treinador

Enquanto as suas ideias não deram frutos, foi impossível a Rui Vitória escapar às comparações com o seu antecessor. Pois aqui fica mais uma: enquanto Jorge Jesus frequentemente reclamava para si o mérito dos triunfos da equipa, Vitória é credor de uma fatia generosa do mérito da época benfiquista, e não o reclama. O técnico é um homem cordato, que sabe estar no futebol, e lidou da melhor maneira com toda a pressão que teve nos seus ombros. Não apenas aquela inerente ao cargo que ocupa, mas também aquela a que o seu antecessor o sujeitou, através das inúmeras tiradas que lhe dirigiu durante praticamente toda a época. O clube teve a paciência necessária para que Rui Vitória se ajustasse, e os dividendos não tardaram a aparecer, em termos de lançamento de jogadores jovens e, mais importante, títulos.

 

Figuras

Se a época passada tinha sido boa, que dizer então desta, na qual Jonas apontou nada menos que 31 golos na Liga NOS, cifra que ninguém atingia desde Jardel, em 2001/02. O seu companheiro de ataque, o grego Mitroglou, demorou algum tempo a acomodar-se, mas assim que o fez foi tão letal como o brasileiro, terminando a campanha na Liga com 19 golos. Os 50 golos da dupla representam perto de 57% dos golos apontados pela equipa no campeonato.

Entre os mais jovens, Gonçalo Guedes destacou-se na primeira fase da época, apontando mesmo o golo da vitória em casa do Atlético Madrid (1-2) na Liga dos Campeões, cedendo depois o epíteto de next big thing a Renato Sanches, que pese embora a dureza por vezes excessiva que emprega nas disputas de bola, tem uma rebeldia que empresta um perfume diferente à equipa. O central sueco Lindelöf aproveitou da melhor maneira a indisponibilidade de Luisão para se afirmar, enquanto Jardel mostrou uma segurança que se lhe desconhecia.

Em sentido contrário, Gaitán não foi tão proeminente como em outros anos e Talisca ficou reduzido a um papel secundário.

 

Contas finais

Campeonato: 1.º lugar, com 29v, 1e, 4d, 88gm,22gs, 88pts

Taça de Portugal: afastado na 4.ª eliminatória (Sporting, 2-1 a.p.)

Taça da Liga: vencedor

Supertaça Cândido de Oliveira: derrotado pelo Sporting (0-1)

Europa: eliminado nos quartos-de-final da Liga dos Campeões (Bayern 0-1f, 2-2c)

 

Para mais tarde recordar

30.09.2015, Liga dos Campeões: vitória por 1-2 sobre o Atlético Madrid, depois de estar a perder, na segunda jornada da fase de grupos;

05.02.2016, jornada 21 – ao vencer no Restelo por 0-5, o Benfica consegue a sua maior vitória em casa do Belenenses desde o 0-6 de 1964/65;

01.04.2016, jornada 28 – vitória por 5-1 sobre o Braga; os encarnados não marcavam tantos golos nas recepções aos minhotos desde 1983/84

 

Para esquecer

23.08.2015, jornada 2 – sofreu a sua primeira derrota de sempre diante do Arouca (1-0).

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por Miran Pavlin às 22:00

Terça-feira, 24.05.16

FC PORTO 2015/16

Cedendo à tentação do revisionismo histórico, 2013/14 entrou para os livros como um ano de ressaca, conduzido por um erro de casting chamado Paulo Fonseca, e com poucos ovos, em termos de plantel, para uma omoleta melhor. O ano seguinte foi o ano zero de um projecto, com novo treinador e equipa revista e melhorada, mas o resultado foi praticamente o mesmo, salvando-se a boa carreira europeia e a manutenção da luta pelo título até à jornada 32, apesar das críticas e dúvidas que subsistiram.

A época que agora termina foi um regresso a esses dias negros de há dois anos. Quem pagou, como quase sempre acontece, foi o treinador, mas Julen Lopetegui não deixa de ter a seu favor um aspecto que em nenhum momento foi mencionado: o técnico perdeu praticamente toda a equipa de 2014/15 e teve que começar a construção de novo.

Independentemente da análise que se possa fazer em relação aos jogadores, o desagrado dos simpatizantes portistas para com Lopetegui nascia do futebol feio, cinzento, lateralizante que a equipa praticava, e só depois se chega ao capítulo dos resultados insuficientes. A verdade, porém, é que o início da temporada não foi propriamente horrendo. O FC Porto liderou o campeonato entre as jornadas 3 e 7, e tudo corria bem na fase de grupos da Liga dos Campeões. Entre os derrotados dessa sequência contavam-se os nomes de Benfica e Chelsea. A pedra no sapato foram os empates (ambos 2-2) com o Dinamo Kiev (no arranque da prova continental) e com o Moreirense (6.ª jornada), os quais deram nas vistas, uma vez que os dragões estiveram em vantagem em ambos os casos. Essas igualdades, juntamente com o já referido futebol tristonho, impediam os adeptos de dizer à boca cheia que a equipa estava no bom caminho.

Até porque se viria a verificar que efectivamente não estava. O primeiro tropeção surgiu no jogo de retorno com o Dinamo Kiev, a 24 de Novembro, no qual o FC Porto precisava apenas de um ponto para garantir os oitavos-de-final, mas saiu derrotado por 0-2, com um penálti e um lance em que Casillas não ficou bem visto. Foi o mesmo que virar a mesa de pernas para o ar. De quase apurado, o FC Porto passou a estar dependente de vencer o Chelsea em Londres, o que não viria a acontecer.

O FC Porto ainda voltaria à liderança à passagem da jornada 14, altura em que venceu a Académica (3-1) com uma exibição airosa, enquanto o então líder Sporting era derrotado na visita ao União. Essa combinação de resultados deixava os azuis-e-brancos numa encruzilhada semelhante àquelas em que várias equipas do passado se engrandeceram; o jogo seguinte era precisamente em casa do Sporting, e em caso de vitória, os dragões abririam um fosso de quatro pontos em relação aos leões. Seria aqui que a carruagem portista descarrilaria definitivamente.

A derrota por 2-0 em Alvalade (2 de Janeiro), seguida de um empate caseiro com o Rio Ave (1-1) quatro dias depois, fez o FC Porto descer ao terceiro lugar – nesta fase já o Benfica vinha em crescendo – e a situação de Lopetegui tornou-se insustentável. Ainda estavam frescas na memória as imagens da recepção à equipa no aeroporto, à chegada de Londres, em que alguns adeptos mais exaltados quase comeram o treinador vivo.

Era então o fim da linha para Lopetegui. Os dias que se seguiram deixaram claro que o desnorte do FC Porto não se circunscrevia à equipa, mas também à direcção da SAD, que demorou quase duas semanas a anunciar o novo treinador. O adjunto Rui Barros assegurou a transição, orientando a equipa em quatro jogos, salvaguardando o mais importante naquele momento. No caso, a continuidade na Taça de Portugal, numa batalha no Bessa (0-1) em que Helton foi herói ao defender uma grande penalidade nos descontos, três dias depois de uma goleada azul-e-branca, no mesmo local, em jogo da Liga NOS.

O senhor que se seguiu foi então José Peseiro, que se estreou no banco a 24 de Janeiro com uma insípida vitória (1-0) sobre o Marítimo. Sob o comando de Peseiro a equipa largou o futebol horizontal do seu antecessor, mas o técnico ribatejano não foi capaz de despertar nela a crença necessária. Cinco pontos atrás do topo no seu primeiro jogo, o FC Porto terminaria a 15 de distância. É óbvio que esse afastamento pontual resultou de desaires mais ou menos embaraçosos, que não importa aqui enumerar, mas não deixa de ser paradoxal que Lopetegui tenha sido despedido debaixo de grande contestação após ceder uma derrota e quatro empates, enquanto Peseiro assistiu a cinco derrotas e não se viu uma ponta de indignação a si dirigida.

Certamente que a vitória na Luz, de reviravolta, à 22.ª jornada, contribuiu para isso, mas foi também debaixo da sua tutela que os dragões saíram da Liga Europa, logo nos 16-avos-de-final, aos pés do Borussia Dortmund. Restava a Taça de Portugal, prova na qual o FC Porto atingiria a sua primeira final em cinco anos. Nem aí a sorte esteve com José Peseiro. Mesmo resgatando o resultado (2-2) no último fôlego, forçando um prolongamento que pareceu improvável, o FC Porto cairia nas grandes penalidades, onde Herrera e Maxi Pereira falharam, deixando os azuis-e-brancos a assistir à festa do Braga.

Mais do que todos os problemas que se possam salientar, o que o FC Porto verdadeiramente vive é uma crise de identidade. Estão a ser dados passos no sentido de a solucionar, mas ainda não é suficiente. André André e Rúben Neves acabaram por ser as primeiras pedras do desejado incremento de portugueses na equipa, com Sérgio Oliveira a aparecer mais na segunda volta. A esperança maior reside, no entanto, no jovem André Silva, a quem bastou um punhado de jogos na recta final da época para deixar marca, nomeadamente na final da Taça, onde marcou os dois golos do FC Porto, o último num pontapé de bicicleta.

Numa altura em que se precisa de portistas no plantel, apetece pensar onde andará a cabeça dos dirigentes quando se vê Hélder Postiga marcar um golaço pelo Rio Ave no jogo da 33.ª jornada, Josué fazer o segundo do Braga no Jamor e Ricardo Carvalho, do alto dos seus 38 anos, ser convocado para o Euro 2016. Sem esquecer Quaresma, que saiu para ser campeão no Beşiktaş, e Ricardo Costa, que lutou pela manutenção em Espanha pelo Granada.

Dos que cá estiveram, Casillas cometeu fífias a mais, Maicon foi de desastre em desastre até uma saída abrupta, Herrera e Aboubakar são demasiado inconstantes, Brahimi joga mais para si do que para a equipa, Corona começou bem mas desapareceu sem deixar rasto, Tello não mostrou nada e o trio formado por José Ángel, Marcano e Varela simplesmente não está à altura. Até Helton comprometeu, no seu caso na final da Taça. Falta ainda mencionar Osvaldo e Imbula, flops tão grandes que mereciam mais letras que aquelas que a palavra tem. Salvaram-se, além dos mencionados mais acima, Danilo Pereira e os laterais Maxi Pereira e Layún.

Alguns estarão por esta altura a perguntar “e a Taça da Liga”? Foi terrível, mesmo para os parâmetros do FC Porto, que foi último na fase de grupos, com zero pontos, ao cabo de derrotas com Marítimo (1-3), Famalicão (1-0) e Feirense (2-0), estes últimos da II Liga.

Num paradoxo final, foi o FC Porto quem obteve a mais longa sequência sem derrotas nesta edição da Liga NOS, com 14 jogos, correspondentes às primeiras 14 jornadas. Naturalmente que não vale de nada, mas é uma tímida prova de que, apesar de tudo, a qualidade existe no plantel azul-e-branco. É imperioso que a estrutura dos dragões resista a enveredar mais uma vez por uma limpeza de balneário, porque mesmo não havendo um ou dois nomes de qualidade em posições-chave, o que falta realmente é alguém com capacidade de dar aos jogadores espírito de grupo, coesão, consistência, crença… no fundo, identidade.

 

Contas finais

Campeonato: 3.º lugar, com 23v, 4e, 7d, 67gm-30gs, 73pts

Taça de Portugal: finalista vencido, após grandes penalidades, frente ao Braga

Taça da Liga: afastado na fase de grupos, com três derrotas em três jogos

Europa: 3.º lugar na fase de grupos da Liga dos Campeões; saída da Liga Europa nos 16-avos-de-final, diante do Borussia Dortmund

 

Para mais tarde recordar

29.09.2015, Liga dos Campeões: vitória por 2-1 na recepção ao Chelsea ainda de José Mourinho;

10.01.2016, jornada 17 – vitória no Bessa por 0-5; dérbi mais desnivelado desde o 0-6 de 1981/82;

12.02.2016, jornada 22 – vitória na Luz por 1-2, a primeira dos dragões em casa do Benfica desde 2011/12;

21.02.2016, jornada 23 – ao bater o Moreirense por 3-2 depois de estar a perder por 0-2, o FC Porto consegue a sua maior reviravolta na I Liga desde 1975/76.

 

Para esquecer

24.11.2015, Liga dos Campeões: quando tudo parecia encaminhado para o apuramento, os azuis-e-brancos perdem em casa com o Dinamo Kiev (0-2);

02.01.2016, jornada 15 – ao perder em Alvalade por 2-0, o FC Porto perdeu também a liderança da classificação, para não mais a alcançar. Os dragões não vencem em Alvalade desde 2008/09;

06.03.2016, jornada 25 – a derrota por 3-1 em Braga praticamente arredou o FC Porto da discussão pelo título, pese embora a matemática ainda não o confirmasse;

03.04.2016, jornada 28 – derrota caseira frente ao lanterna vermelha Tondela por 0-1.

 

Marcadores

Campeonato: Aboubakar 13; Herrera 9; Corona 8; Brahimi 7; Danilo Pereira 6; Layún 5; Varela 3; Maicon, Marcano, André André, Sérgio Oliveira 2; Osvaldo, Hyun-Jun Suk, Evandro, Maxi Pereira, Rúben Neves, André Silva 1. Dois auto-golos de adversários.

Taça de Portugal: Bueno, André Silva 2; Tello, André André, Aboubakar, Brahimi, Rúben Neves, Hyun-Jun Suk, Sérgio Oliveira, Chidozie, Marega 1.

Taça da Liga: Aboubakar 1.

Liga dos Campeões: Aboubakar 3; André André 2; Maicon, Brahimi, Tello, Layún 1.

 

Números e curiosidades na Liga NOS

Líder em seis jornadas; não marcou em cinco jogos; não sofreu em 13 jogos; conseguiu séries de 9, 7 e 6 jogos sempre a marcar; uma série de seis vitórias consecutivas; uma série de cinco jogos sem sofrer golos, a melhor ex æquo com outros três emblemas; uma série de sete jogos sempre a sofrer golos.

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por Miran Pavlin às 19:00



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