Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Santos da casa não fazem milagres. O ditado é antigo, e explica parte daquilo que foi a temporada do Vitória. Com o homem da casa Armando Evangelista ao leme, os dissabores sucederam-se, e bem cedo na época. O primeiro desaire apareceu logo no início de Agosto, quando o Guimarães saiu do comboio da Liga Europa frente ao modesto SCR Altach, que se estreava nas provas da UEFA. Se perder a primeira mão na Áustria por 2-1 não era suficiente para grandes sinais de alarme, o jogo de retorno clarificou sem margem para dúvidas que algo não estava bem. Por muito humilde que fosse, o Altach venceu no D. Afonso Henriques por 1-4, deixando o conjunto vimaranense a caminhar sobre brasas.
Começar o campeonato com uma visita ao FC Porto era ingrato, e os dragões venceriam sem grande dificuldade (3-0). Apesar da exigência de uma visita a casa de um grande, o arranque em falso foi mais um sinal de que o Vitória estava praticamente parado na casa de partida. Empates com Belenenses (1-1), União (0-0) e Setúbal (2-2), aliados a uma vitória (1-0) sobre o Tondela obtida com um auto-golo, não chegavam para mais que um 13.º lugar, e Armando Evangelista abandonou a equipa. Estava-se ainda nos idos de Setembro.
Sérgio Conceição tomou aí as rédeas da equipa, não sem antes passar por uma conferência de imprensa de apresentação presenciada por sócios do clube. O treinador, que orientou nada menos que o Braga na época anterior, logo tratou de frisar que estava de corpo e alma com o clube, e isso deu-lhe a tranquilidade necessária para trabalhar. Mas os resultados continuaram a não surgir. A estreia de Conceição, de resto, não podia ter corrido pior, sofrendo uma derrota caseira precisamente diante do Braga (0-1, golo de Rafa aos 74 minutos). A jornada 7 traria uma pesada derrota em Alvalade (5-1), seguida das eliminações da Taça da Liga, a 10 de Outubro, e da Taça de Portugal, a 18 do mesmo mês. O regresso do campeonato, a 24 de Outubro, trouxe um empate caseiro com a aflita Académica (1-1). E era justamente a Liga NOS tudo o que restava ao Guimarães até final da época.
A equipa aos poucos daria uma resposta. Primeiro em casa do Paços de Ferreira (0-1), à jornada 9, depois no Bessa (1-2), duas rondas mais tarde. Os conquistadores entrariam de seguida na sua melhor fase da época, um período de 13 jogos – jornadas 12 a 24 – dos quais perderam apenas dois. O Guimarães vergou Rio Ave (3-1), Estoril (0-1), Moreirense (3-4), FC Porto (1-0) e União (3-1), chegando à 20.ª jornada no sexto lugar.
O Vitória subiria a quinto classificado, nas rondas 21 e 22, mas à custa de empates com Tondela (1-1) e Setúbal (2-2). Essas igualdades foram os primeiros jogos de uma terrível sequência de doze sem vencer, que recolocou o Guimarães praticamente no mesmo ponto em que estava no início da temporada. Foi a segunda pior série sem triunfos da época, ex æquo com outras duas formações. O Vitória só ganharia mais um jogo, frente ao Moreirense (4-1) na 33.ª jornada, e terminou em plena série de dez jogos consecutivos a sofrer golos.
O décimo lugar final ficou então seguro pelos rendimentos dessa boa fase a meio da época. Por muito que a equipa estivesse bem entregue a Sérgio Conceição, ficou à vista que a saída de Rui Vitória foi um golpe de que o plantel não conseguiu recuperar. Nem com os golos de Henrique Dourado – nada menos que 12 –, um jogador que o Vitória decerto gostaria que não estivesse na casa por empréstimo, nem com a iniciativa de Otávio, outro homem cedido, que ainda apontou seis golos. Ricardo Valente fez cinco golos mas não esteve em tão boa forma como na época passada, enquanto Licá, ainda mexeu com o ataque, mas não foi além de outros cinco tentos. O jovem guarda-redes Miguel Silva – ou João Miguel, conforme as fontes – destacou-se num ou noutro jogo, na ausência de Douglas.
O Vitória até foi quinto classificado em 2014/15, mas têm sido tempos difíceis em Guimarães. A saúde financeira do clube não é das melhores, e disso se ressente a qualidade global do plantel. É preciso muito coração e alguma felicidade para corresponder em campo à pressão que a massa associativa vitoriana sempre exerce. A recta final de temporada não foi bonita, mas chegou para estar a salvo da insegurança dos últimos lugares. Um bom arranque na próxima época será de capital importância. Vencer apenas nove dos 38 jogos realizados na temporada é manifestamente pouco.
Contas finais
Campeonato: 10.º lugar, com 9v, 13e, 12d, 45gm, 53gs, 40pts
Taça de Portugal: afastado na 3.ª eliminatória
Taça da Liga: afastado na 2.ª eliminatória
Europa: afastado da Liga Europa na 3.ª pré-eliminatória
Para mais tarde recordar
28.11.2015, jornada 11 – ao vencer o Boavista por 1-2, o Vitória consegue o seu primeiro triunfo no Bessa desde 1997/98;
17.01.2016, jornada 18 – vence o FC Porto em casa (1-0) pela primeira vez desde 2001/02.
Para esquecer
06.08.2015, Liga Europa: eliminado logo na terceira pré-eliminatória;
10.10.2015, Taça da Liga – sai da Taça da Liga ao perder em Vila do Conde por 3-2;
18.10.2015, Taça de Portugal – eliminado da prova rainha logo à primeira tentativa, ao perder por 2-0 em casa do secundário Penafiel;
17.04.2016, jornada 30 – ao perder por 3-0, o Vitória sai derrotado de casa do Marítimo pela sexta época consecutiva.
A época dos azuis do Restelo fica marcada pelo ansiado regresso às provas da UEFA, oito anos depois da última, e fugaz, presença, na qual se bateram com o Bayern Munique. A caminhada europeia desta vez durou até Dezembro, graças a uma inédita presença na fase de grupos da Liga Europa, onde roubou pontos ao campeão polaco KKS Lech Poznań (dois empates a zero), juntamente com uma inesperada vitória em casa do hexacampeão suíço FC Basileia (1-2). Para chegar a essa fase da competição, o Belenenses ultrapassou IFK Gotemburgo e SCR Altach, sem sofrer qualquer golo.
É fácil dizer que a distracção proporcionada pela Liga Europa pode ter contribuído para uma campanha sem sal na Liga NOS, mas a verdade é que o Belenenses não foi muito diferente da versão de 2014/15. Os resultados mais uma vez foram mistos, mas desta feita a equipa conheceu um retrocesso notório em termos defensivos. Os 66 golos que concedeu são nada menos que o pior registo do clube em 75 anos de I Liga. O Benfica foi responsável por onze desses golos (seis na Luz e cinco no Restelo), mas o Benelenses sofreu pesadas derrotas também diante de FC Porto (4-0), Braga (4-0), Setúbal (0-3) e Sporting (2-5).
O treinador Ricardo Sá Pinto demitiu-se após a jornada 13, disputada em meados de Dezembro, na qual o Belenenses foi a casa da aflita Académica perder por 4-3. Já estava concluída a participação europeia, e também o percurso na Taça de Portugal, onde na 4.ª eliminatória perdeu no reduto do Portimonense, da II Liga, por 3-2 com um golo ao cair do pano. O substituto foi Julio Velázquez, o que não deixou de ser um contra-senso, se pensarmos que o plantel azul tem uma larga maioria de jogadores portugueses.
Sob o comando do técnico espanhol os resultados não melhoraram de forma visível, embora as chegadas de Juanto e Bakić na reabertura do mercado tenham dado outra consistência ao futebol atacante do Belenenses, que marcou mais dez golos que na época transacta. O melhor marcador da equipa na Liga foi, no entanto, Tiago Caeiro, com sete golos, secundado por Miguel Rosa, com seis, embora este último só a espaços tenha estado na sua melhor forma. Sturgeon é lutador mas não traz consigo muitos golos.
Tendo em conta os muitos golos sofridos, talvez a experiência de Gonçalo Brandão e principalmente do central Tonel tenha sido irrelevante. Ficaram na memória o auto-golo tão ridículo quanto infeliz que Tonel marcou ao FC Porto – o jogador queixou-se do encandeamento provocado pela iluminação artificial –, bem como o penálti cometido nos descontos da visita a Alvalade, que deu a vitória ao Sporting (1-0). O próprio Carlos Martins acabou por nem sempre ser tão efectivo como se esperava.
Contas finais
Campeonato: 9.º lugar, com 10v, 11e, 13d, 44gm, 66gs, 41pts
Taça de Portugal: afastado na 4.ª eliminatória (Portimonense, 3-2)
Taça da Liga: eliminado na fase de grupos
Europa: eliminado da Liga Europa na fase de grupos
Para mais tarde recordar
27.08.2015, Liga Europa – o Belenenses qualifica-se para a fase de grupos ao eliminar, ironicamente, o mesmo SCR Altach que havia mostrado a porta de saída ao Vitória minhoto na ronda anterior. O único golo da eliminatória fora apontado na primeira mão, uma semana antes.
13.03.2016, jornada 26 – ao vencer o Braga por 3-0, o Belenenses conseguiu a sua maior vitória da temporada.
Para esquecer
11.09.2015, jornada 4 – a derrota por 6-0 em casa do Benfica foi a pior dos azuis desde o 7-1 nas Antas em 1987/88;
20.11.2015, Taça de Portugal – eliminado pelo Portimonense (II Liga), ao perder no Algarve por 3-2;
30.11.2015, jornada 11 – derrotado por 1-0 com uma grande penalidade infantil nos descontos, o Belenenses continua sem vencer em casa do Sporting desde 1954/55.
O Estoril terminou a Liga NOS no oitavo posto e até chegou a imiscuir-se na corrida pela Liga Europa, mas a temporada foi, grosso modo, difícil. À 16.º jornada os canarinhos ocupavam o 14.º lugar, não venciam há dez partidas e sofriam golos há onze, numa sequência que tornou irrelevante o bom arranque, no qual o Estoril somou quatro vitórias nas seis primeiras jornadas; era quinto classificado nessa altura.
A segunda volta trouxe melhorias. O Estoril não só marcou golos em todos os jogos desde a jornada 22 até ao fim, como também venceu sete desses 13 jogos. Setúbal (3-0), Rio Ave (1-3), Académica (0-3) e Paços de Ferreira (1-0) caíram aos pés dos homens da Linha. O Estoril poderia mesmo ter-se apurado para a Liga Europa, cenário improvável durante a primeira volta, mas na última jornada, no terreno de um Belenenses já com a vida resolvida, saíram derrotados por 2-1.
O treinador Fabiano Soares resistiu a tudo. Não só àquela má fase a meio da época, mas também à eliminação da Taça da Liga perante o secundário Oriental (3-2), logo na segunda eliminatória. Na Taça de Portugal os canarinhos avançaram até aos quartos-de-final, onde o Rio Ave foi mais forte, vencendo por claros 3-0.
Léo Bonatini esteve de pé quente ao longo de toda a temporada, facturando 17 golos na Liga NOS, incluindo um hat-trick frente ao Setúbal na jornada 24. O avançado brasileiro marcou ainda um golo na Taça da Liga e mais dois na Taça de Portugal, que foram decisivos para ultrapassar a 3.ª eliminatória e os oitavos-de-final. O defesa Anderson Luís, que nunca tinha marcado qualquer golo na carreira, fez dois na Liga NOS, diante de Belenenses e Moreirense. Kieszek cotou-se mais uma vez como um guarda-redes seguro, numa equipa em que Mattheus (4 golos), Mendy (3), Diogo Amado e Diego Carlos (2 cada) também se destacaram.
Contas finais
Campeonato: 8.º lugar, com 13v, 8e, 13d, 40gm, 41gs, 47 pts
Taça de Portugal: eliminado nos quartos-de-final (Rio Ave, 3-0)
Taça da Liga: afastado na 2.ª eliminatória (Oriental, 3-2)
Para mais tarde recordar
07.03.2016, jornada 25 – vitória em Vila do Conde por 1-3; primeira vez que o Estoril marcou três golos ao Rio Ave na I Liga.
Para esquecer
10.04.2016, jornada 29 – ao perder por 4-1, o Estoril mantém-se sem vencer na Choupana em jogos da I Liga;
14.05.2016, jornada 34 – Estoril perde em casa do Belenenses (2-1). Além de não vencer no Restelo desde 1979/80, a derrota impediu os canarinhos de garantir lugar na próxima Liga Europa.
Pelo segundo ano consecutivo o Paços de Ferreira termina a temporada com uma desilusão. Na última jornada de 2014/15, os castores, então sextos classificados, foram derrotados por 3-0 em casa do Nacional, caindo do sexto para o oitavo lugar. Este ano, chegado à derradeira ronda novamente no sexto posto, o Paços voltou a não conseguir vencer e ficou mais uma vez a ver o navio rumo à Liga Europa zarpar mesmo à sua frente. O Rio Ave ficou apenas um ponto acima.
Apesar disso, o Paços não deixa de ser uma das equipas mais simpáticas da I Liga. É incrível como o clube consegue, ano após ano, ter treinadores e equipas capazes de o levar a boas classificações, sem deixar de praticar futebol positivo. Monotonia é coisa que não há quando o Paços de Ferreira entra em campo.
Os castores foram outra das equipas que construíram uma série de jogos a marcar mais longa que FC Porto e Sporting, no caso de dez jogos, entre as rondas 11 e 20. Foi nessa fase que o Paços subiu ao quinto posto, que ocupou entre as jornadas 16 e 20, mas a equipa não conseguiu manter a pedalada e logo entrou num período de oito jogos sem vitórias. O primeiro triunfo da segunda volta só surgiria à jornada 26, e logo fora de casa. E onde mais poderia essa vitória aparecer senão em Guimarães, onde os pacenses perderam apenas por três vezes em 17 visitas a contar para a I Liga.
Na recta final da prova o Paços ainda venceu quatro partidas de enfiada, frente a FC Porto (1-0), União (3-4), Braga (1-0) e Belenenses (0-2), mas fraquejou na pior altura, perdendo com Tondela (1-4) e empatando em Setúbal (0-0) no fecho – curiosamente duas equipas que ainda precisavam de pontos para garantir a permanência. Esses pontos perdidos custaram então caro ao Paços.
O Rio Ave não foi carrasco do Paços de Ferreira apenas no campeonato; também na Taça de Portugal a equipa de Vila do Conde foi feliz, eliminando os pacenses no Capital do Móvel com um triunfo por 1-2, na 5.ª eliminatória.
Treinador
Tendo em conta a reputação do clube, Jorge Simão estava no lugar certo para trabalhar em paz. Ainda um novato nas andanças da I Liga, escalão no qual apenas orientara o Belenenses nos últimos nove jogos da época passada, e treinador principal só desde 2013, Simão conseguiu corresponder às expectativas do clube, que sob o seu comando conseguiu alguns resultados dignos de nota, casos da vitórias caseiras sobre FC Porto e Braga, mas também do empate em Alvalade, logo à terceira jornada.
Figuras
O Paços de Ferreira foi uma das quatro equipas – as outras foram Benfica, Sporting e Braga – que terminaram a I Liga com dois jogadores a atingir os dois dígitos na coluna dos golos marcados. Bruno Moreira (14 golos) e Diogo Jota (12) foram, por isso, os elementos em absoluto destaque no plantel pacense. Jota despertou mesmo o interesse do Atlético Madrid. O guarda-redes Marafona também chamou a atenção, no caso a do Braga, que o recrutou no mercado de Janeiro. Hélder Lopes e Marco Baixinho foram os esteios da defesa, com Pelé a dar músculo ao meio-campo.
Contas finais
Campeonato: 7.º lugar, com 13v, 10e, 11d, 43gm, 42gs, 49 pontos
Taça de Portugal: afastado na 5.ª eliminatória (Rio Ave, 1-2)
Taça da Liga: eliminado na fase de grupos
Para mais tarde recordar
18.10.2015, Taça de Portugal – na 3.ª eliminatória, os castores goleiam no recinto da Naval 1.º Maio por 1-7;
12.12.2015, jornada 13 – vence o União por 6-0, igualando a sua maior vitória de sempre na I Liga, que remontava a Março de 2002, então frente ao Salgueiros;
10.04.2016, jornada 29 – ao vencer por 1-0, o Paços somou o seu primeiro triunfo sobre o FC Porto desde 2002/03
Para esquecer
03.04.2016, jornada 28 – ao perder por 1-0, o Paços continua sem ganhar em casa do Estoril para a I Liga;
14.05.2016, jornada 34 – o empate a zero no Bonfim afastou o Paços da ida à Liga Europa. Os castores eram sextos classificados à entrada para a derradeira ronda.
Há cerca de três anos era o Estoril quem vivia o melhor período da sua história, graças a boas classificações finais, que garantiram mesmo idas à Liga Europa. Volvido esse tempo, o testemunho passou para as mãos do Rio Ave, que repetiu o sexto posto de 2012/13, conseguindo com isso o seu segundo apuramento para as provas da UEFA.
Os vila-condenses não terão sido extravagantes, em termos do futebol praticado, mãs não deixou de saltar à vista a capacidade da equipa em marcar golos. O Rio Ave realizou esta época 43 jogos, em todas as competições nacionais, e apenas ficou em branco em oito ocasiões. O Rio Ave não só marcou golos em cada uma das primeiras dez jornadas do campeonato – nessa altura os restantes 17 participantes já tinham ficado a seco pelo menos uma vez – como ainda conseguiria outra sequência a marcar, agora de nova jogos, entre as rondas 12 e 20. O Rio Ave terminou com 44 golos marcados na Liga NOS; talvez tivesse conseguido ficar um pouco mais alto se não tivesse sofrido igual número.
A produtividade ofensiva, no entanto, permitiu à equipa de Vila do Conde andar praticamente toda a época entre o quinto e o sétimo lugares, com predominância para o sexto posto, o qual ocupou em 12 jornadas. A época terminaria, então, em festa, mas o Rio Ave não se livrou de um susto, já com a meta à frente do nariz. Um empate em Tondela (1-1), à jornada 32, fez o Rio Ave descer ao sétimo posto, que seria oitavo na semana seguinte, após derrota caseira (1-3) com o FC Porto. Uma quebra semelhante, na mesma fase da temporada passada, atirou o Rio Ave para o décimo lugar, mas o desfecho não se repetiu. Na última jornada os vila-condenses a fizeram a sua parte, e a conjugação de resultados fez o resto, devolvendo o Rio Ave ao mágico sexto posto, que abriu então as portas da Europa do futebol.
Sessões contínuas
Rio Ave e Braga parecem ter uma atracção irresistível um pelo outro. Nunca duas equipas se defrontaram tantas vezes no espaço de três temporadas. Vila-condenses e arsenalistas esgrimiram argumentos pela terceira vez consecutiva nas meias-finais da Taça de Portugal, e se no primeiro cruzamento foi o Rio Ave a sair por cima, nos dois anos seguintes o Braga tornou-se na némesis do Rio Ave, que não mais o ultrapassou. Esta época, em cinco jogos, o Rio Ave fez apenas um golo ao Braga, e numa derrota por 5-1, na 19.º jornada da Liga. Confira então a lista dos 15 jogos:
03.11.2013 Braga 0-1 Rio Ave Liga, 9.ª jornada
13.02.2014 Rio Ave 2-1 Braga Taça da Liga, meias-finais
21.03.2014 Rio Ave 1-1 Braga Liga, 24.ª jornada
26.03.2014 Braga 0-0 Rio Ave Taça de Portugal, meias-finais
16.04.2014 Rio Ave 2-0 Braga Taça de Portugal, meias-finais
27.09.2014 Braga 3-0 Rio Ave Liga, 6.ª jornada
04.02.2015 Rio Ave 0-2 Braga Taça da Liga, fase de grupos
28.02.2015 Rio Ave 0-2 Braga Liga, 23.ª jornada
07.04.2015 Braga 3-0 Rio Ave Taça de Portugal, meias-finais
30.04.2015 Rio Ave 1-1 Braga Taça de Portugal, meias-finais
21.08.2015 Rio Ave 1-0 Braga Liga, 2.ª jornada
24.01.2016 Braga 5-1 Rio Ave Liga, 19.ª jornada
27.01.2016 Rio Ave 0-0 Braga Taça da Liga, fase de grupos
04.02.2016 Braga 1-0 Rio Ave Taça de Portugal, meias-finais
02.03.2016 Rio Ave 0-0 Braga Taça de Portugal, meias-finais
O Rio Ave venceu quatro jogos, contra seis do Braga, com cinco igualdades. 19-9 em golos para o Braga.
Treinador
Pedro Martins tem construído uma carreira interessante desde que começou a treinar na I Liga, ao serviço do Marítimo, clube que qualificou para a Liga Europa em 2012 e conduziu a uma digna presença na fase de grupos. Martins repetiu a receita nesta primeira época no Rio Ave e o resultado global é novamente positivo, apesar do amargo de boca na Taça de Portugal.
Figuras
Tarantini tornou-se no jogador com mais jogos pelo Rio Ave, com 201 jogos, ultrapassando o mítico Niquinha. Guedes e Renan Bressan foram os melhores marcadores da equipa no campeonato, com seis golos cada, enquanto mais atrás Kayembé, Roderick e Marvin Zegelaar, que sairia para o Sporting no mercado de inverno, foram os elementos em destaque. Foi também em Janeiro que Hélder Postiga chegou ao clube, ainda a tempo de apontar cinco golos na Liga. Apesar de influente, Ukra não foi tão letal como em outras campanhas, terminando com apenas um golo marcado.
Contas finais
Campeonato: 6.º lugar, com 14v, 8e, 12d, 44gm, 44gs, 50pts
Taça de Portugal: eliminado nas meias-finais (Braga, 0-1f, 0-0c)
Taça da Liga: eliminado na fase de grupos
Para mais tarde recordar
12.12.2015, jornada 13 – vence pela primeira vez o Arouca em jogos da I Liga;
06.01.2016, jornada 16 – ao empatar a um golo, o Rio Ave somou o seu primeiro ponto em casa do FC Porto desde 2004/05;
18.03.2016, jornada 27 – primeira vitória do Rio Ave em casa frente ao Marítimo desde 2003/04;
14.05.2016, jornada 34 – apuramento para a Liga Europa, graças a uma vitória em casa do União (1-2).
Para esquecer
27.01.2016, Taça da Liga: eliminado na fase de grupos após um nulo caseiro com o Braga, que jogou com menos um homem cerca de meia hora;
13.03.2016, jornada 26 – ao perder por 1-0, o Rio Ave continua sem vencer em casa do Nacional em jogos da I Liga.
Qualquer equipa que consiga um ou outro resultado improvável e se aguente, pelo menos por um tempo, em posições classificativas pouco habituais para os seus pergaminhos, é imediatamente apelidada de “equipa sensação”. Acontece tantas vezes que até se torna um chavão. Tal não se aplica, contudo, ao Arouca, a quem o epíteto cai que nem uma luva. Conseguir, imagine-se, um apuramento para a Liga Europa é simplesmente notável, tendo em conta que se trata de um clube que disputava apenas a sua terceira época na categoria máxima.
Ainda assim, a dada altura, o feito do emblema da Serra da Freita pareceu estar muito longe de ser possível. Alguém que chegasse a este mundo nos últimos dias de Novembro e olhasse para a classificação da Liga NOS ao fim de onze jornadas, encontrava o Arouca em 11.º lugar, e sem vencer há nove jogos, cedendo pontos até frente às equipas mais aflitas nessa fase da temporada. O que se seguiu desafiou toda e qualquer lógica.
A primeira curiosidade digna de nota começou a tomar forma precisamente nessa 11.ª ronda, na qual o Arouca empatou a um golo em Coimbra. Foi o primeiro de 13 jogos consecutivos sempre a marcar golos. Por termo de comparação, FC Porto e Sporting não conseguiram mais que nove, enquanto o Braga não passou dos sete. Já perto do fim dessa sequência surgiu o resultado da época, no caso uma vitória em pleno Estádio do Dragão (1-2). Não aconteceu por acidente. Jogava-se a jornada 21 e o Arouca, apesar de ainda oitavo classificado, era, por esta altura, uma equipa que tinha tanto de tranquilo como de confiante.
O nulo caseiro com o Braga, à jornada 24, quebrou a série, e o Arouca só se pôde queixar de si próprio, já que terminou essa partida com mais duas unidades que os minhotos, que até falharam uma grande penalidade. No entanto, esse empate manteve em curso uma outra série dos arouquenses, que entre as jornadas 20 e 26, além de não terem sido derrotados, somaram 17 dos 21 pontos possíveis. Nono classificado à entrada para essa 20.ª jornada, o Arouca subiria até ao quinto posto, que não mais largou até ao final do campeonato, cruzando a linha de meta em nova série de sete jogos sem perder.
O Arouca terminaria a carreira na Liga NOS com apenas seis derrotas, menos, pasme-se, que o FC Porto, que perdeu em sete ocasiões. Nos jogos em Arouca, só FC Porto, Sporting e Moreirense venceram; fora, os arouquenses só foram vergados por Rio Ave, Benfica e Sporting – e só os grandes de Lisboa perderam menos vezes como visitantes. A intenção não é maçar o estimado leitor com estatísticas, mas é impossível escapar-lhes ao passar em revista o conto de fadas vivido pelo Arouca. Os cinco jogos sem sofrer golos, entre as jornadas 22 e 26, foram um registo apenas igualado por Braga, FC Porto e Sporting.
Como se tudo isto não bastasse, o Arouca ainda encontrou forças para chegar aos quartos-de-final da Taça de Portugal, eliminando Leixões (II Liga, 1-2 após prolongamento), Desportivo de Chaves (II Liga, 6-5 no desempate após 120 minutos sem golos) e Amarante (Campeonato de Portugal, 1-2), antes de cair em Braga por 2-0. A Taça da Liga resumiu-se a uma passagem pouco conseguida pela fase de grupos.
A próxima época será território inexplorado para o Arouca. As provas da UEFA por vezes são uma distracção para os clubes de menor dimensão, ao mesmo tempo que os restantes emblemas da Liga NOS não encararão os jogos com o Arouca da mesma forma. É possível também que tenha sido um ano de excepção, com um desfecho totalmente inesperado. 16.º classificado em 2014/15, o Arouca é agora europeu. A viagem poderá até ser curta, mas é inteiramente merecida.
Treinador
Numa era em que o treinador português goza de grande prestígio internacional, é quase um anacronismo ser orientado por um estrangeiro. O angolano Lito Vidigal, contudo, não é um estrangeiro qualquer. Oriundo de uma família de futebolistas, alguns já nascidos em Portugal – o seu irmão Luís representou o Sporting e a selecção portuguesa –, Lito tem uma longa trajectória no futebol português, também como jogador. O Arouca é o quarto clube que treina na I Liga, e aquele que conseguiu levar mais alto. Protagonizou um dos episódios mais caricatos da época, ao envolver-se com o central sportinguista Naldo, nos minutos finais do encontro da 10.ª jornada
Figuras
Com um plantel composto por sobras e antigos jogadores dos grandes, e deprovido de estrelas, o Arouca valeu pelo colectivo. Os 47 golos na Liga NOS ficaram repartidos por 16 jogadores, com Walter González à cabeça (7 golos). Maurides (5 golos) esteve em evidência na primeira metade da época. A defesa também contribuiu com golos, nomeadamente pelo venezuelano Velázquez (3 golos) e por Lucas Lima (4 golos). O guarda-redes Bracali foi sólido ao longo de toda a campanha. Ivo Rodrigues e Mateus também deixaram marca.
Contas finais
Campeonato: 5.º lugar, com 13v, 15e, 6d, 47gm, 38gs, 54pts
Taça de Portugal: eliminado nos quartos-de-final (Braga, 2-0)
Taça da Liga: eliminado na fase de grupos
Para mais tarde recordar
23.08.2015, jornada 2 – ao vencer o Benfica por 1-0, o Arouca não só bateu pela primeira vez um grande, como também conseguiu o inédito feito de liderar a I Liga;
19.12.2015, jornada 14 – marcou quatro golos no mesmo jogo de I Liga pela primeira vez (4-1 diante do Marítimo);
06.01.2016, jornada 16 – vence o Estoril pela primeira vez em jogos da I Liga;
13.03.2016, jornada 26 – ao bater o Setúbal por 1-0, o Arouca completou cinco jogos consecutivos sem sofrer golos;
02.04.2016, jornada 28 – vence a Académica pela primeira vez em jogos da I Liga.
Para esquecer
29.11.2015, jornada 11 – Arouca completa o nono jogo consecutivo sem vencer;
28.12.2015, Taça da Liga: sofreu a segunda pior derrota da época (4-1), na visita ao Portimonense (II liga), no arranque da fase de grupos.
O dia 22 de Maio já era feriado em Braga. Foi nesse dia em 1966 que os arsenalistas conquistaram a sua primeira Taça de Portugal. A segunda demorou, mas chegou mesmo à capital do Minho, curiosamente no exacto dia em que se completavam 50 anos sobre esse primeira conquista. É fácil pegar nesta vitória e extrapolar as ilações que dela se podem tirar, mas este Braga continua a não ser o mesmo da viragem da década. Basta olhar para a sequência de resultados na Liga NOS e constatar que o Braga não conseguiu vencer mais que dois jogos consecutivos. Por muito surpreendente que a estatística possa ser.
É também verdade que o Braga mais uma vez foi quarto classificado, mas o clube é hoje vítima dos standards que foi definindo ao longo da presidência de António Salvador. A partir de 2003/04 os bracarenses registaram um terceiro lugar, sete quartos e dois quintos. Os momentos mais memoráveis desse período foram, no entanto, o vice-campeonato de 2009/10 – perdido por cinco pontos – e a ida à final da Liga Europa em 2010/11, o ponto mais alto da história europeia do Braga. Daí que um quarto lugar a 15 pontos do terceiro não possa ser visto como um ano fantástico. É preciso contabilizar as restantes provas para compor o quadro, e aí é impossível não reparar que o Braga, no início de Abril, era a única equipa portuguesa que se mantinha em prova em todas as frentes, incluindo a europeia.
De facto, na Liga Europa o Braga não deixou os seus créditos por mãos alheias. Passou tranquilamente por um grupo contendo Olympique Marselha, Slovan Liberec e FC Groningen, antes de vergar o FC Sion nos 16-avos-de-final, tornando-se na única equipa portuguesa a seguir em frente entre as três que disputaram essa eliminatória. Os oitavos-de-final reservaram talvez o melhor jogo do Braga em toda a época. Perante o Fenerbahçe SK, um gigante do futebol turco, os bracarenses deram a volta a uma derrota por 1-0 em Istambul com um fantástico resultado de 4-1 na Pedreira, num jogo quente.
Tendo-se fixado no quarto posto da Liga NOS à 11.ª jornada, e progressivamente sem hipóteses de subir mais alto – quatro jornadas mais tarde já estava oito pontos abaixo do pódio –, o Braga centrou em definitivo atenções nos jogos a contar para as restantes provas. O primeiro grande momento dos arsenalistas até já tinha ocorrido, a 22 de Outubro, quando bateu em casa o Marselha, de forma dramática, por 3-2, mas seria a 16 de Dezembro que surgiria a grande declaração de intenções da equipa, com o afastamento do Sporting da Taça de Portugal. Os leões começaram a ganhar, mas três reviravoltas depois era o Braga que saía por cima, por 4-3, com o golo decisivo a ser apontado por Rui Fonte, ao minuto 111.
Janeiro traria a fase de grupos da Taça da Liga, que o Braga ultrapassou sem problemas de maior, ao mesmo tempo que deu sequência ao caminho na Taça, batendo o Arouca (2-0) nos quartos-de-final, a 13 de Janeiro. A longa caminhada europeia foi forçando o adiamento indefinido da meia-final da Taça da Liga, que deveria ter-se jogado em inícios de Fevereiro. O Braga só diria o adeus europeu nos quartos-de-final, em meados de Abril, perdendo com o Shakhtar Donetsk por 1-6 no agregado das duas mãos. A meia-final da Taça da Liga disputar-se-ia semanas mais tarde. Na visita à Luz, os minhotos adiantaram-se aos 19 minutos, por Rafa, mas consentiram a reviravolta e despediram-se da competição.
Já com o quarto posto seguro, apesar de ainda não confirmado pela matemática, restava ao Braga preparar a ida ao Jamor, onde se bateria com o FC Porto. Talvez ainda com o drama da final anterior na memória, o Braga não quis ser expansivo no jogo da decisão, mas acabou mesmo assim premiado, no caso pela intranquilidade dos dragões, que resultou em dois erros defensivos que o Braga aproveitou para transformar em golo. O FC Porto reeditou o que o Sporting fizera um ano antes, levando tudo para o prolongamento praticamente no último fôlego, mas também não conseguiu dar o golpe final no tempo extra. Nas grandes penalidades mais uma vez a intranquilidade dos portistas veio ao de cima, em claro contraste com as cobranças irrepreensíveis de Pedro Santos, Stojiljković, Hassan e Marcelo Goiano. Estava aberto o caminho para uma festa que se prolongou pela madrugada, com a equipa ser vitoriada por um mar de gente à chegada a Braga.
No campeonato, o Braga não foi, então, exuberante, mas soube como fazer para atingir o objectivo mínimo. Competente em casa, onde só Benfica e Sporting ganharam, os arsenalistas conseguiram o seu melhor registo de sempre, com 41 golos marcados, muito à custa das goleadas a Boavista (4-0), Marítimo (5-1), Belenenses (4-0) e Rio Ave (5-1). Fora, o Braga optou por uma abordagem mais cautelosa, como provam os escassos 13 golos marcados, que chegaram para vencer cinco jogos. Longe de impressionar.
Na euforia da festa da Taça, o presidente da Câmara Municipal de Braga pediu o título nacional. Tendo em conta o status quo do campeonato português, para isso é necessário não apenas que o Braga faça uma época, no mínimo, igual a 2009/10, mas também que os três grandes estejam mal ao mesmo tempo – só o Boavista de 2000/01 aproveitou um cenário assim – e que o Braga ele próprio consiga ser mais forte que todas e quaisquer forças estranhas que se possam atravessar no seu caminho. Não sendo este o mesmo Braga desses anos, mas sendo capaz de ir longe noutras provas, haverá estofo para um assalto ao título?
Treinador
Diz-se que por vezes é preciso dar um passo atrás para depois dar dois em frente. Entre então Paulo Fonseca, que fez justamente isso depois de uma passagem mal sucedida pelo FC Porto em 2013/14. No Paços de Ferreira, em 2014/15, ficou a um ponto de levar o clube à Liga Europa; este ano adicionou um título ao seu palmarés pessoal, ao leme do Braga, clube em que a pressão imposta pelo presidente nem sempre é bem suportada pelos sucessivos treinadores. Quão irónico foi que essa vitória no Jamor tenha surgido frente ao FC Porto. Decerto Fonseca terá ficado com um gosto especial.
Figuras
Hassan e Stojiljković terminaram como melhores marcadores da equipa no campeonato, ambos com 10 golos, mas o egípcio marcou onze no total. Esse outro golo foi apontado na segunda jornada, pelo Rio Ave… precisamente contra o Braga, que perdeu mesmo por 1-0. Rafa voltou a cotar-se como um avançado sem medo de ter a bola e furar por entre os contrários; o prémio foi a inclusão nos 23 nomes que estarão no Euro 2016. O veterano Alan voltou a ser um elemento unificador do balneário, enquanto o reforço de inverno Josué foi decisivo tanto na final da Taça, onde marcou, como na Liga Europa. Mais atrás, Ricardo Ferreira, Goiano e Marcelo Baiano foram pilares. Marafona foi o herói do Jamor, ao defender duas grandes penalidades.
Contas finais
Campeonato: 4.º lugar, com 16v, 10e, 8d, 54gm, 35gs, 58pts
Taça de Portugal: vencedor
Taça da Liga: eliminado nas meias-finais (Benfica, 2-1)
Europa: eliminado nos quartos-de-final (Shakhtar Donetsk 1-2c, 0-4f)
Para mais tarde recordar
25.10.2015, jornada 8 – Braga empata no Dragão a zero. Foi a primeira vez que não sofreu golos em casa do FC Porto desde 2001/02;
14.02.2016 – jornada 22 – vitória por 1-3 em casa do Marítimo; nunca o Braga aí tinha marcado três golos no mesmo jogo;
17.03.2016, Liga Europa – ao vencer por 4-1 na segunda mão dos oitavos-de-final, os arsenalistas eliminaram o Fenerbahçe de Vítor Pereira.
Para esquecer
01.04.2016, jornada 28 – derrota na Luz por 5-1; o Braga continua sem vencer em casa do Benfica em jogos da I Liga desde 1954/55;
14.04.2016, Liga Europa: a saída da competição foi dura, após derrota com o Shakhtar Donetsk por 4-0, na segunda mão dos quartos-de-final.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.