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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
10 Junho – Saint-Denis – França 2-1 Roménia
Golos: 1-0 Giroud 57’ / 1-1 Stancu (g.p.) 65’ / 2-1 Payet 89’
Nota: 4
Os jogos de abertura costumam proporcionar bom entretenimento, e este não fugiu à regra, embora tenha sido dominado pela França. A Roménia teve uma oportunidade clara logo aos quatro minutos, quando Bogdan Stancu proporcionou a Hugo Lloris uma defesa no limite, mas os golos só apareceriam no segundo tempo. Quando a Roménia empatou já iam longe não só essa oportunidade inicial, como também o único período em que os tricolorii estiveram por cima do jogo, no caso nos primeiros minutos após o reatamento. Os romenos resistiram até bem perto do fim, altura em que Dimitri Payet puxou dos galões e se tornou no primeiro herói improvável do Euro, ao desferir um vistoso remate em arco, para a gaveta, que não deixou a Ciprian Tătăruşanu hipóteses de defesa. Foi por um triz, mas a equipa da casa entrou mesmo a vencer.
11 Junho – Lens – Albânia 0-1 Suíça
Golo: 0-1 Schär 5’
Nota: 3,5
A estreia da Albânia em fases finais não podia ser mais emocional. A Suíça é um país com o qual os balcânicos têm fortes laços, já que alguns dos seus jogadores nasceram ou cresceram na Suíça. Do lado helvético conta-se também uma mão cheia de jogadores de etnia albanesa, e havia ainda um par de irmãos de cada lado da barricada – Granit Xhaka pelos suíços, Taulant Xhaka pelos albaneses. O laço do resultado foi desatado cedo, quando o central Fabian Schär correspondeu de cabeça a um canto cobrado na direita; o guardião albanês Etrit Berisha não ficou bem na fotografia. A Suíça dispôs de várias oportunidades no segundo tempo, mas as melhores foram da Albânia, que jogava com dez desde os 36 minutos, por expulsão do capitão Lorik Cana. Ao minuto 87 Shkëlzen Gashi teve nos pés um lance flagrante de golo, quando apareceu isolado frente a Yann Sommer, mas a mancha do guardião helvético estragou os planos do avançado.
15 Junho – Paris – Roménia 1-1 Suíça
Golos: 1-0 Stancu (g.p.) 18’ / 1-1 Mehmedi 57’
Nota: 3,5
Jogo movimentado, com perigo nas duas balizas, pelo menos enquanto não se fixou o resultado final. A Suíça foi mais esclarecida em campo, mas ficou atrás do resultado quando Stancu converteu mais uma grande penalidade. Cristian Săpunaru acertou no poste pouco depois, a Roménia entrou melhor na segunda parte, mas os suíços voltaram à carga, e quando o fizeram foi a valer. Numa insistência após um canto, Admir Mehmedi encontrou o caminho das redes e a partir daí a Suíça foi ficando progressivamente mais confortável com o empate, que a deixa mais próximo da fase seguinte. A Roménia fica a fazer contas.
15 Junho – Marselha – França 2-0 Albânia
Golos: 1-0 Griezmann 90’ / 2-0 Payet 90’+6’
Nota: 3
Tal como na partida com a Roménia, a França esteve a um passo de ceder uma inesperada igualdade, agora frente a uma Albânia que foi tão corajosa como tinha sido no primeiro jogo. A França teve o controlo das operações durante todo o encontro, mas a sólida linha recuada albanesa foi dando boa conta de si, sempre à espreita de lançar o contra-ataque. O marcador é que não mexia nem por nada. A França só chegou ao golo quando muitos já não tinham unhas para roer. Antoine Griezmann ficou esquecido na área e cabeceou para o primeiro golo, a cruzamento de Adil Rami. A Albânia, que até aí estivera confortável com o desenrolar dos acontecimentos, desorganizou-se na tentativa de empatar, ficando aberto espaço para Payet voltar a marcar e sentenciar o encontro, já nos segundos finais, garantindo também o apuramento francês para os oitavos-de-final.
19 Junho – Lyon – Roménia 0-1 Albânia
Golo: 0-1 Sadiku 43’
Nota: 3
A Albânia venceu o seu primeiro jogo numa fase final, eliminou a Roménia, mas teve que ficar à espera do desenlace dos restantes grupos para ter a confirmação de que os três pontos e a diferença de golos negativa não seriam suficientes para seguir em frente. O único golo apareceu em cima do intervalo, quando Armando Sadiku, já em queda, correspondeu a um cruzamento largo com um cabeceamento fora do alcance quer de Tătăruşanu, quer de Vlad Chiricheş, que procurava dobrar o companheiro. O jogo não foi propriamente lento, mas não foi nada bem jogado. As equipas só conseguiam articular jogo até perto do último terço, ponto no qual as jogadas se embrulhavam e o perigo potencial se desvanecia. Foi por isso difícil perceber quem estava a jogar menos… A Roménia poderia ter empatado, mas o míssil de Florin Andone, já na segunda parte, explodiu na trave antes de sair, imagine-se, para lançamento. No final, jogadores e adeptos da Albânia festejaram como se tivessem ganho o título. Não chegou para passar, mas o momento feliz, esse, ninguém lhes tira.
19 Junho – Lille – Suíça 0-0 França
Nota: 2,5
Com a França já apurada, o empate garantiu-lhe o primeiro lugar do grupo, ao mesmo tempo que qualificou a Suíça para os oitavos-de-final. Como o resultado servia os intentos dos dois conjuntos, o jogo não teve grande emoção, pese embora a França tenha tido duas bolas à trave, por Paul Pogba e Payet. De resto, os ataques foram tímidos e o jogo terminaria como começou – ao contrário do jogo de há dois anos no Mundial do Brasil, quando a França triunfou por 5-2. A Suíça apura-se pela primeira vez para a fase a eliminar do Campeonato da Europa.
A edição de 2016 do Campeonato da Europa de futebol não ficará para a história como uma das mais memoráveis. Uma vez que estas palavras saem da pena de um cidadão português, afirmá-lo talvez seja heresia, mas a verdade é que o futebol em exibição nesta fase final deixou a desejar. É fácil inferir que tal aconteceu devido ao alargamento para 24 participantes, mas isso explica apenas parte da questão. Mesmo sendo inegável que quanto mais vagas houver, mais baixa a qualidade média, nenhuma das equipas foi uma desgraça completa. À falta de elementos desequilibradores, as formações menos cotadas optaram por ocupar bem os espaços nas zonas mais recuadas e sair pela certa para o ataque. A outra parte da questão prende-se com o deserto de talento que o futebol europeu atravessa de há uns anos a esta parte. Jogadores fora-de-série contam-se três: Cristiano Ronaldo e Ibrahimović, que já não vão para novos, e Messi, que não entra nestas contas por ser argentino. Logo a seguir na hierarquia aparecem os médios Pirlo, Xavi e Iniesta, que se destacam pela leitura de jogo acima da média e não pelos números ofensivos. Dos três, só o último esteve neste Euro, com os restantes já a gozar as suas reformas douradas. Daí para baixo é como se os jogadores tivessem saído de uma linha de montagem. Todos são aptos do ponto de vista físico, mas a nível técnico falta muito do glamour futebolístico que tantos jogadores de há 15 ou 20 anos tinham. Numa palavra, falta arte.
Somando as duas partes da questão, o resultado não podia ser outro que não o equilíbrio em campo. As equipas teoricamente pequenas contrabalançavam o seu futebol limitado com linhas defensivas reforçadas, enquanto os ditos grandes, mesmo controlando as operações, não tinham o que era preciso para desmontar os adversários. A consequência mais visível foi o abaixamento no número de golos marcados. Apenas quatro dos 36 jogos da fase de grupos tiveram pelo menos uma das equipas a atingir os três golos. A média final de 2,12 por jogo é absolutamente reveladora do quão nivelado por baixo este Europeu foi.
Embora o Mundial sub-20 seja disputado por 24 equipas, a última vez que uma grande competição utilizara este formato foi no Mundial dos Estados Unidos, em 1994, pelo que já tinha passado tempo suficiente para os observadores e analistas se esquecerem da imprevisibilidade que lhe está inerente. Além disso, tendo em conta que os quatro melhores terceiros classificados da fase de grupos avançam para as eliminatórias, estava aberto o caminho para um ou outro conto de fadas – País de Gales e Islândia preencheram este espaço –, ao mesmo tempo que algumas equipas beneficiariam de um caminho mais simples para chegar às fases mais adiantadas. O Euro 2016 ainda assim exagerou neste aspecto, ao colocar do mesmo lado do quadro nada menos que Alemanha, Espanha, França, Inglaterra e Itália.
Como se aflora acima, nenhuma das equipas se destacou inequivocamente pelo seu futebol. A campeã mundial Alemanha encontra-se em transição, pelo que a sua máquina não funcionou tão bem como há dois anos no Brasil. A Espanha, também em transição, ainda não encontrou a sua nova identidade agora que o tiki-taka só existe nos livros de História. A Itália mostrou fogachos daquilo que foi nos melhores momentos do seu ilustre passado, mas ficou-se pelos quartos-de-final. Já a Inglaterra, sempre a Inglaterra, voltou a ser vítima de golpes de teatro e de uma eliminação indigesta logo nos oitavos-de-final. Entre os chamados outsiders, a Bélgica voltou a mostrar que dispõe de jogadores de classe como há muito não tinha, mas não tem propriamente uma equipa. A Croácia foi uma das selecções que trouxe melhor futebol, mas pagou caro a falta de eficácia no jogo dos oitavos-de-final frente a Portugal. República Checa e Turquia, nomes com história nesta competição, não só ficaram no mesmo grupo como também se ficaram por aí.
Do lado das surpresas contam-se os nomes de País de Gales, Islândia e Hungria. A maior das desilusões terá sido a Áustria, que chegou ao Euro como segunda melhor equipa da fase de apuramento – 28 pontos em 30 possíveis – mas não passou da fase de grupos. Melhor que a Áustria na qualificação só a Inglaterra, que venceu todos os dez jogos antes de se tornar ela própria na outra grande desilusão da prova.
A final mais desejável, pelo menos para quem organiza, é sempre aquela que opõe dois gigantes. Tal deixou de ser possível ainda antes do final da fase de grupos, quando se confirmou que os crónicos candidatos estavam então todos no horizonte uns dos outros. Daí que uma final entre a equipa da casa e Portugal, cujos emigrantes em terras gaulesas proporcionavam um apoio extra que outras equipas não tinham, não fosse uma proposição à qual se pudesse torcer o nariz. Para não fugir à tendência geral do torneio, tanto a França como Portugal chegaram à final sem convencer; principalmente os portugueses, ao ponto de a imprensa francesa e alguns nomes ilustres do seu futebol terem tecido comentários nada abonatórios à equipa das Quinas. Apesar de só se ter marcado um golo, o jogo da decisão foi um dos melhores do Euro 2016, à conta do drama que se foi vivendo conforme os minutos avançavam. O sofrimento maior, esse, ficou reservado para depois do apito final, que confirmou que o título de campeão da Europa se manteria na Península Ibérica, agora uns quilómetros mais a oeste da sua residência dos últimos oito anos.
As próximas publicações trazem todos os detalhes sobre o que foi este UEFA EURO 2016, grupo a grupo, jogo a jogo. Cada partida recebe uma nota, de acordo com a seguinte escala:
5 - futebol em estado puro, como diria Luís Freitas Lobo;
4 - não foi futebol em estado puro, mas foi mesmo assim um bom jogo;
3 - não foi um jogo para a história, mas já vi muito pior;
2 - a bola rolou, mas pouco mais fica para memória futura;
1 - estou arrependido de ter ligado a televisão;
0 - estou arrependido de gostar de futebol.
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