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CORTE LIMPO

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Domingo, 17.07.16

EURO 2016 - Final

10 Julho – Saint-Denis – Portugal 1-0 França (a.p.)

Golo: 1-0 Éder 109’

Nota: 4

Diz-se, embora seja praticamente impossível prová-lo, que os organizadores das grandes competições fazem tudo para que a final coloque frente-a-frente dois integrantes do restrito lote de tubarões. Gorada a perspectiva de um duelo clássico ainda antes do final da fase de grupos, a UEFA não se pode de maneira nenhuma queixar de um Portugal-França; a equipa da casa frente à de um país que há décadas aí tem um numeroso contingente emigrante – não é à toa que se diz jocosamente que Paris é a segunda cidade portuguesa. Imagine-se Portugal receber outro Euro e haver uma final Portugal-Ucrânia, por exemplo. Além disso, os intervenientes nesta final têm história entre si, já que se cruzaram em três meias-finais, sempre com vitória gaulesa – Euro 1984 (3-2 a.p.), Euro 2000 (2-1 a.p.) e Mundial 2006 (1-0). Criticado pelo futebol insosso apresentado ao longo do torneio, Portugal chegava à final no reverso do filme que viveu em 2004, enquanto a França, que também não convenceu por aí além, apesar de pelo caminho ter eliminado a campeã mundial vigente, procurava o terceiro título enquanto ainfitriã, depois do Euro 1984 e do Mundial 1998. Ingredientes para um grande jogo efectivamente não faltavam.

A boa nota que o Corte Limpo atribui não advém tanto do jogo em si, mas sim de todo o drama que se foi vivendo ao longo dos 120 minutos. Com efeito, não houve futebol ofensivo de deixar os (tele)espectadores na ponta da cadeira, nem estrelas a ofuscar de tanto cintilar. O torneio não proporcionou jogos assim, e a final não foi excepção. Repetindo-nos, foi o dramatismo que ganhou o dia. Num jogo então de poucos momentos de perigo junto às balizas, foi a França quem procurou assumir as primeiras despesas, e Antoine Griezmann, quem mais, obrigou Rui Patrício a uma vistosa defesa para canto (10’). A partida nem por sombras foi quezilenta, mas ao minuto 18 Dimitri Payet entrou bem forte sobre Cristiano Ronaldo, atingindo o joelho que não devia atingir. Do ângulo em que viu o lance, o juiz inglês Mark Clattenburg foi… inglês e mandou seguir. De facto, desse ângulo, o lance não parece faltoso; interpretações e análises ficam para quem de direito. A verdade é que Cristiano Ronaldo não ficou em condições. Ainda regressou ao relvado mas ao minuto 25 não dava para esticar mais a corda e a substituição era inevitável. O técnico Fernando Santos não deu qualquer sinal de nervosismo e lançou Quaresma no jogo.

Parecia coisa de filme. O melhor jogador da equipa que teoricamente tinha a missão mais difícil abandonava o relvado em menos de meia hora. Era só o primeiro capítulo do drama. Os bleus sentiram a oportunidade e voltaram a ameaçar ao minuto 33, por Moussa Sissoko, que partiu Adrien Silva e rematou para boa defesa de Rui Patrício. Mais perigo só na segunda parte. Raphaël Guerreiro fez um corte cirúrgico a cruzamento de Payet (53’), Olivier Giroud tentou um remate cruzado mas Rui Patrício disse presente (75’) e Sissoko voltou a disparar forte mas Patrício voltou a estar lá (84’). A tensão era evidente, tanto em campo como nas bancadas. Impassível, a equipa das Quinas não se desconcentrava, enquanto os gauleses iam coçando a cabeça sem saber como desfeitear o adversário. Nos descontos, drama e sorte deram as mãos. André-Pierre Gignac, entrado aos 78 minutos para o lugar de Giroud, recebe a bola junto à pequena área, tira Pepe do caminho e a finalização finalmente ultrapassa Rui Patrício, mas o poste devolveu a bola. O prolongamento era mesmo o destino, e Portugal teria que o enfrentar já sem substituições. Foi nesse período que os lusos colocaram a cabeça fora da toca. Aos 104 minutos um cabeceamento de Éder, que substituíra Renato Sanches 25 minutos antes, obrigou Hugo Lloris a uma defesa apertada, seguindo-se um livre venenoso de Raphaël Guerreiro (108’) que rebentou na barra. Um livre nascido de uma mão… de Éder, que o árbitro erradamente julgou ter sido do defensor francês.

De apenas incómodo, Éder passou a letal. 109 minutos. O avançado recupera uma bola perdida a meio do meio-campo adversário, enquadra-se praticamente sem oposição e ainda de fora da área remata forte, rasteiro, colocado, com a bola a entrar bem junto ao poste direito de Lloris. Criticado antes do torneio por ser um avançado nada produtivo, Éder acabava de marcar aquele que se confirmou ser o golo mais importante da história do futebol português e era engolido pelos festejos de equipa e técnicos. A França não encontrou forma de se recompor do choque, mas agora sim Fernando Santos já não escondia o nervosismo. Ele e Cristiano Ronaldo, tão ou mais agitado, que de pé em frente ao banco ia agindo como um segundo treinador, dando indicações aos colegas e vigorosos abanões ao treinador.

O apito final lançou a selecção portuguesa de 2016 rumo à eternidade. Tal como na partida dos oitavos-de-final, Portugal pediu meças à Grécia de há doze anos, infligindo à França o mesmo golpe que sofrera dos gregos naquela noite de 4 de Julho de 2004. Pelo menos por umas semanas, essa final e os dissabores frente aos bleus em 1984, 2000 e 2006 podiam ser esquecidos. Mas só mesmo por umas semanas, porque a história não os apaga. Tal como não apagará as palavras de Fernando Santos após o empate com a Áustria na fase de grupos: “só vou para casa dia 11 [de Julho] e vou ser recebido em festa”. Em cheio. A glória, efémera como sempre, desta vez é portuguesa.

 

As equipas

 

PORTUGAL

Atrás: Nani (17), Pepe (3), William Carvalho (14), José Fonte (4), Rui Patrício (1), Cristiano Ronaldo (7).

À frente: Raphaël Guerreiro (5), Adrien Silva (23), Cédric Soares (21), Renato Sanches (16), João Mário (10).

 

FRANÇA

Atrás: Paul Pogba (15), Laurent Koscielny (21), Hugo Lloris (1), Olivier Giroud (9), Samuel Umtiti (22), Moussa Sissoko (18).

À frente: Dimitri Payet (8), Patrice Evra (3), Blaise Matuidi (14), Bacary Sagna (19), Antoine Griezmann (7).

 

O treinador vencedor

Fernando Santos

 

A celebração

Os vencedores erguem a Taça Henri Delaunay

 

A fotografia de conjunto

Autoria e outros dados (tags, etc)

por Miran Pavlin às 12:30



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