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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Em abstracto, quanto mais vezes uma determinada situação se repetir, menos valor notícia tem. No entanto, o nono apuramento do Marítimo para as provas da UEFA é mesmo uma proeza, em face dos problemas por que a equipa passou. Desde logo o péssimo arranque de campeonato, com uma vitória e quatro derrotas nas primeiras cinco jornadas – e apenas um golo marcado. Nessa jornada 5, a derrota (2-0) que significou o fim da linha para o brasileiro Paulo César Gusmão, que se estreava no futebol português, não foi propriamente uma gota de água; foi uma enxurrada, já que o adversário era nada menos que o Nacional. Além do mal-estar de perder com o rival (2-0), o Marítimo era 17.º classificado e via bem de perto o espectro da má época de 2015/16, na qual bateu recordes negativos do clube.
Só havia uma solução. A habitual. Foi o primeiro estalar de chicote na Liga esta época, e a verdade é que funcionou. A escolha de Daniel Ramos para substituir Gusmão foi também ela arriscada, já que o novo técnico, apesar do currículo, nunca tinha treinado na divisão maior. Na hora do balanço, uma estatística basta para provar que a aposta foi acertada: o Marítimo não voltou a perder em casa até final do campeonato. Na verdade, perdeu apenas mais seis vezes nesses 29 jogos, metade delas nas visitas aos ditos três grandes. Falando neles, nenhum venceu nos antigos Barreiros, e o Benfica saiu mesmo do Funchal derrotado (2-1), na jornada 12.
O Marítimo teve ainda que lidar com a nuvem do castigo de nove meses a Dyego Sousa por agressão a um árbitro auxiliar num jogo da pré-época. Enquanto o processo correu trâmites o avançado brasileiro ainda marcou cinco golos, mas por alturas do início da segunda volta passou a ser necessário um substituto que nunca apareceu. Talvez também porque o meio-campo – Fransérgio em destaque – e a defesa estivessem a funcionar bem. Principalmente o sector recuado, com os centrais Raul Silva e Maurício António à cabeça, que consentiram apenas 32 golos – a terceira melhor defesa da temporada, logo a seguir a Benfica e FC Porto. Este é mesmo o segundo melhor registo dos insulares na I Liga, ex æquo com as épocas 2004/05 e 2010/11, apenas atrás dos 28 golos sofridos em 2007/08. E como a defesa é o melhor ataque, o artilheiro da equipa na I Liga foi precisamente Raul Silva, com sete golos.
A escalada maritimista na classificação consolidou-se entre as jornadas 14 e 23, nas quais a equipa não perdeu – o encontro da jornada 15 havia sido antecipado. O Marítimo foi sexto classificado na jornada 17, e a partir da 20.ª não mais o largou, mas a qualificação europeia só ficaria garantida na última jornada. A turma madeirense foi ainda uma das cinco equipas que conseguiram sequências de pelo menos dez jogos sem perder, e a única além dos ditos grandes que somou quarto partidas sem sofrer golos, no caso entre as rondas 19 e 22 – Guimarães (f), Moreirense (c), Rio Ave (f) e Nacional (c).
PONTO ALTO
A vitória na 12.ª jornada, a 2 de Dezembro, sobre um Benfica até aí invicto. O arménio Ghazaryan abriu o activo (5’), Gonçalo Guedes igualou (27’) e Maurício fixou o marcador final ao minuto 69. O resto foi obra e graça do guarda-redes Gottardi, que coleccionou defesas monstruosas.
PONTO BAIXO
Aquele triunfo foi o reverso da indigesta medalha trazida da Luz a 19 de Novembro, na 4.ª eliminatória da Taça de Portugal. Nesse dia, o Marítimo foi vergado a um pesado 6-0, num encontro em que fez pouco mais que figura de corpo presente.
TAÇA DA LIGA
O Marítimo entrou em cena na 2.ª eliminatória, onde o esperava um dérbi com o União. Os unionistas entraram a ganhar – marcou N’Sor aos 35 segundos –, mas Edgar Costa (12’), Dyego Sousa (47’) e Ghazaryan (55’) impediram uma gracinha como aquelas que o União conseguiu na I Liga da época passada. Na fase de grupos os verde-rubros começaram por empatar com o Covilhã (1-1 fora), batendo depois o Rio Ave (1-0). A última jornada reservou uma final frente ao Braga, onde quem ganhasse passava. As equipas anularam-se até aos descontos, para proveito do Rio Ave, que assim seguiria em frente. Até que Gottardi se lesionou quando já não havia substituições, avançando Maurício para a baliza. O Braga marcaria aos 90’+4’ minutos por Velázquez, saltando assim para a fase seguinte.
CONTABILIDADE
Liga NOS: 6.º lugar, 13v-11e-10d, 34gm-32gs, 50 pontos; apurado para a 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa;
Taça de Portugal: eliminou a Naval 1.º de Maio (0-4), antes de perder na 4.ª eliminatória diante do Benfica (6-0);
Taça da Liga: afastou o União na 2.ª eliminatória; terceiro classificado no grupo C (4 pontos), atrás de Braga e Rio Ave, e à frente do Covilhã.
Olhando para os números finais do campeonato, o Braga repetiu, grosso modo, a prestação da época anterior, mas há uma diferença notória: os quatro pontos a menos em relação a 2015/16 zpenas chegaram para um quinto posto, ainda para mais tendo sido ultrapassado precisamente pelo seu rival de Guimarães, ao longo de uma segunda volta terrível, na qual os arsenalistas venceram apenas quatro partidas. Além disso, há um ano havia a conquista da Taça de Portugal para festejar, ao passo que esta época a defesa do troféu terminou com estrondo nos oitavos-de-final aos pés do Covilhã, que venceu de reviravolta na Pedreira. O resultado teve consequências catastróficas para José Peseiro, que sentiu o chicote estalar nas suas costas. A eliminação da Taça foi a gota de água para o técnico, que aparentemente gastou os seus créditos junto da direcção arsenalista nos jogos da Liga Europa.
DESASTRE EUROPEU
O sorteio da prova continental ditou ao Braga um grupo respeitável, mas acessível, com o condimento extra do regresso de Paulo Fonseca ao Minho aos comandos do Shakhtar Donetsk, adversário com quem os bracarenses têm um registo europeu terrível. O Braga voltou a perder os dois jogos frente ao gigante ucraniano, mas o destino da equipa na prova ter-se-á decidido na visita ao Gent, na qual o Braga desperdiçou duas vantagens no marcador, que lhe teriam dado logo aí o apuramento para a fase seguinte. Tendo empatado (2-2), o Braga entrava na última jornada (8 de Dezembro) de calculadora na mão, enquanto recebia precisamente o Shakhtar (2-4). Face ao resultado do outro jogo, os arsenalistas estavam apurados mesmo perdendo, mas da Turquia chegou um golpe de teatro: aos 90’+4’ minutos o Genk marcava e saltava para o segundo lugar do grupo. O Braga ficou sem palavras.
DE VOLTA A CASA
Seguiu-se então o desaire com os serranos na Taça (14 de Dezembro) e o Braga entrou em curto-circuito. Olhando ao que se ia passando no campeonato, é até difícil entender o porquê da troca de treinador, já que os minhotos eram quartos classificados a apenas dois pontos do segundo e a seis do topo. E com Abel Ferreira – ex-leão – como treinador interino o Braga foi a Alvalade vencer com um golo solitário de Wilson Eduardo – ex-leão –, saltando para o terceiro lugar por troca precisamente com o Sporting. Jogava-se a 14.ª jornada e Jorge Simão parecia pegar numa equipa motivada para responder aos desaires, mas tal não se verificou. Até final da primeira volta o Braga ainda venceu Moreirense (c) e Tondela (c), e empatou com o Nacional (f), mas somaria então apenas mais quatro vitórias até final, com uma série de seis jogos sem ganhar pelo meio. E como se tratou de uma temporada de dissabores, a Taça da Liga reservou mais um.
TAÇA DA LIGA
Vencedor em 2012/13, o Braga não conseguiu tornar-se no primeiro clube que não o Benfica a repetir a vitória na Taça da Liga, ao perder com o Moreirense (0-1). Curiosamente, da mesma forma que tinha ganho há quatro anos: com uma grande penalidade em cima do intervalo. Até chegar à decisão, o Braga precisou de alguma sorte para chegar às meias-finais, tendo terminado o grupo em igualdade pontual com o Rio Ave, que até venceu em Braga (1-2) na primeira jornada. Na última, o Braga venceu de forma dramática em casa do Marítimo, com o único golo a surgir aos 90’+4’ minutos, numa altura em que os da casa tinham um jogador de campo na baliza por lesão de Gottardi quando já tinham esgotado as substituições. Os critérios de desempate deram então a passagem ao Braga, que vergou o Setúbal (0-3) na meia-final.
FIGURAS
Rui Fonte foi o melhor marcador da equipa na Liga, com 11 golos. Wilson Eduardo, Pedro Santos e Ricardo Horta fizeram seis golos cada. Stojiljković apontou cinco.
TREINADORES
José Peseiro comandou a equipa até à jornada 13, não resistindo então aos fracassos na Europa e na Taça.
Jorge Simão entrou na 15.ª jornada mas não conseguiu dar seguimento ao trabalho que vinha fazendo até aí em Chaves. Com a equipa progressivamente em perda, pouco mais fica da sua passagem pela cidade dos arcebispos além da “parábola da posse de bola” e da demissão, após a 30.ª jornada, por não haver mais hipóteses de garantir os 65 pontos que prometeu quando foi apresentado.
E assim Abel Ferreira terminou a época como treinador de corpo inteiro, reassumindo funções antes do jogo com o Sporting, tal como na primeira volta.
CONTABILIDADE
Liga NOS: 5.º lugar, 15v-9e-10d, 51gm-36gs, 54 pontos; apurado para a 3.ª pré-eliminatória da Liga Europa;
Taça de Portugal: eliminou AD Oliveirense (1-3) e Santa Clara (2-1), caindo nos oitavos-de-final frente ao Covilhã (1-2);
Taça da Liga: finalista vencido; venceu o grupo C (6 pontos), à frente de Rio Ave, Marítimo e Covilhã;
Supertaça Cândido de Oliveira: derrotado pelo Benfica (3-0);
Liga Europa: eliminado na fase de grupos (6 pontos), atrás de Shakhtar Donetsk e Gent, e à frente do Konyaspor.
O Vitória de Guimarães foi uma das poucas histórias de sucesso desta edição da Liga NOS. O quarto lugar final é a melhor classificação do clube desde o terceiro posto conseguido em 2007/08, e faltou apenas um triunfo mais para igualar o melhor registo do Vitória na I Liga (19 jogos, em 1995/96). 10.º classificado ao fim de cinco jornadas, o Guimarães venceria sete dos dez jogos seguintes, chegando a essa 15.ª jornada já no quinto posto, a apenas oito pontos do topo. Seguir-se-ia um período de maior instabilidade entre as jornadas 19 e 25 – apenas uma vitória nesses sete jogos –, antecedendo a sequência que viria a definir a temporada do Vitória no campeonato. Foram nada menos que sete triunfos consecutivos – Rio Ave (c), Nacional (f), Tondela (c), Chaves (f), Boavista (c), Setúbal (f) e Arouca (c) –, que guindaram os conquistadores até esse quarto lugar, numa numa saborosa troca de posições com o Braga. Foi ingrato para o Vitória ver a série terminar com uma goleada (5-0) que assinalou o título do Benfica, ainda para mais quando estava perante o adversário que encontraria na final do Jamor apenas duas semanas depois. Independentemente do desfecho desse jogo, uma coisa estava desde logo garantida: o quarto lugar deu acesso à fase de grupos da Liga Europa.
TAÇA DE PORTUGAL
A carreira vitoriana começou não muito longe de onde haveria de terminar alguns meses mais à frente. O 1-2 na visita ao Santa Iria, dos distritais da capital, foi apertado, mas os da casa só marcaram na compensação. A 4.ª eliminatória trouxe um osso bem mais duro, na forma de uma ida ao Bessa. Se já no campeonato este jogo é um clássico, na Taça muito mais, e o Guimarães só o resolveu (1-2) aos 118 minutos, por intermédio de Hurtado. O peruano voltou a ser decisivo ao apontar o único golo da vitória sobre o Vilafranquense nos oitavos-de-final. Na eliminatória seguinte, novo triunfo à tangente, agora diante do Covilhã – marcou Hernâni.
A meia-final entrou directamente para a galeria de clássicos da Taça, ao colocar os conquistadores frente a frente com um Chaves que trazia consigo os escalpes de FC Porto e Sporting. O Guimarães avançou para a segunda mão com dois golos à maior – bis de Hernâni –, que os flavienses logo trataram de obliterar, por Perdigão (1’), Renan Bressan (32’) e Nuno André Coelho (63’). Marega apontou o fatídico golo fora logo depois (66’), e Douglas foi herói ao defender uma grande penalidade de Braga já em tempo de descontos. Impróprio para cardíacos. Na final, o Vitória criou um punhado de boas oportunidades no primeiro tempo, mas não tendo capitalizado, sucumbiu a dois golos em oito minutos no arranque da segunda metade e viu o troféu fugir para as mãos do Benfica, com o golo de Zungu a servir de consolação.
PONTO ALTO
Na jornada 7 da Liga, a 1 de Outubro, o Vitória tornou-se na primeira equipa desde 2004/05 a recuperar de três golos de desvantagem, na recepção ao Sporting. A vinte minutos do tempo os leões venciam tranquilamente com golos de Marković, Coates e Elias, e pareciam encaminhados para uma vitória tranquila, mas o Guimarães tinha outras ideias. Em apenas dois minutos, entre os 74 e os 75, Marega relançou o jogo com um par de golos, cabendo a igualdade a Soares (89’), num lance que deixou dúvidas por alegada carga ao guarda-redes.
FIGURAS
Marega fez 13 golos no campeonato, reencontrando-se com as redes depois da passagem difícil pelo FC Porto em 2015/16. Hernâni, também emprestado pelos dragões, marcou oito, mais um que Soares, que saiu para o FC Porto no mercado de inverno. Hurtado, Texeira, Josué e Pedro Henrique foram outros dos nomes em foco.
TREINADOR
Pedro Martins deu continuidade à sua sólida trajectória, fundada no bom trabalho realizado quando orientou o Marítimo e o Rio Ave. Foi um dos cinco sobreviventes da autêntica roda viva de treinadores esta temporada.
CONTABILIDADE
Liga NOS: 4.º lugar, 18v-8e-8d, 50gm-39gs, 62 pontos; apurado para a fase de grupos da Liga Europa;
Taça de Portugal: finalista vencido;
Taça da Liga: isento da 2.ª eliminatória; eliminado no grupo D (4 pontos), atrás do Benfica e à frente de Paços de Ferreira e Vizela.
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