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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
O Houdini do campeonato português desta vez viveu uma luta pela manutenção mais convencional. Ou seja, sem as longas séries negativas - excepção feita a 15 jogos consecutivos a sofrer - e os tempos intermináveis de lanterna vermelha na mão. Mesmo não tendo sido último classificado neste campeonato, o Tondela passou onze jornadas nos lugares que não interessam e não conseguiu mais que seis pontos de vantagem sobre a linha de água (à jornada 16). A permanência só seria selada, como não podia deixar de ser, na última jornada. E com um daqueles jogos que não acontecem muitas vezes.
Chegados à derradeira jornada, faltava saber quem era o último despromovido à II Liga. Ou Tondela, ou Chaves. E o caprichoso calendário, taxativo, decretava precisamente um Tondela-Chaves! Tecnicamente, uma final. Ícaro abriria o marcador logo aos 4 minutos, e antes da meia hora o Tondela já vencia por 4-0. O Chaves reduziu a diferença para metade ainda antes do intervalo, mas seriam os da casa a fixar o 5-2 final, pelo venezuelano Murillo (78').
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Pepa completou duas épocas e meia ao comando dos beirões, e esteve à altura das exigências em cada momento.
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Tomané (à esquerda) marcou doze golos no campeonato.
GALO
Na Taça de Portugal o Tondela foi eliminado pelo Leixões pela terceira época consecutiva.
Tendo conseguido em 2017/18 a sua primeira manutenção no escalão máximo, à quarta tentativa, o Desportivo das Aves ainda lhe acrescentou nada menos que a Taça de Portugal, fazendo deste um potencial ano de ressaca. Entretido com uma defesa desse título até aos quartos-de-final - ultrapassando Sacavenense (1-3), Cova da Piedade (0-3 ap) e Chaves (2-0), antes de cair com o Braga (1-2) -, o Aves só entrou realmente em prova no campeonato na segunda volta.
Durante a primeira volta, com José Mota no comando, o Aves somou apenas 12 pontos, dobrando o campeonato como lanterna vermelha. O técnico saiu após essa eliminação na Taça, mas voltaria ao campeonato jornadas mais tarde.
A segunda metade da Liga, a cargo de Augusto Inácio, rendeu o dobro dos pontos da primeira volta, mas foi preciso agradecer à matemática por proporcionar a manutenção na antepenúltima jornada. É que o Aves perdeu os últimos três jogos, o último dos quais frente a um Feirense que não ganhava desde a jornada 2. Imagine-se o que seria se os pontos ainda estivessem a fazer falta...
O Vitória de Setúbal é talvez o maior caso de estudo do futebol português. Época atrás de época, quando tudo parece indicar que é desta que a despromoção vai acontecer, eis que o emblema sadino escapa, quer graças a uma recuperação de última hora, quer porque algum outro clube envolvido na mesma luta se desmorona. Em 2018/19, porém, é tudo menos fácil explicar as razões que levaram o Vitória a mais uma permanência. Nem houve qualquer equipa em queda livre na ponta final, nem houve notória recuperação do próprio Setúbal após uma longa série de 15 partidas sem saborear o triunfo (jornadas 12 a 26). Além disso, o Bonfim foi o estádio que menos golos viu (31) e os jogos do Vitória foram os que menos golos tiveram (67). Só 28 desses golos foram dos sadinos; a oitava vez nas últimas 15 temporadas em que não atingem a barreira dos 30 golos. Foi, pois, mais uma época da endémica aflição que o Vitória de Setúbal tem vivido. Um dado estatístico, no entanto, não deixa de saltar à vista: a equipa nunca desceu à zona de despromoção em todo o campeonato.
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Lito Vidigal saiu após a primeira jornada da segunda volta.
Sandro Mendes, antigo jogador do clube, tomou conta da equipa de forma interina, mas ficaria até final da temporada.
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Cádiz (à esquerda) foi o melhor marcador da equipa no campeonato, com nove golos.
Se houvesse prémio para a equipa mais entusiasmante da Liga, esse galardão ficaria bem entregue ao Portimonense. O futebol positivo exibido pelos algarvios resultou, desde logo, numa profusão de golos, tanto marcados, como sofridos. De resto, o Portimonense concluiu o trajecto no campeonato com o sexto melhor ataque e a terceira pior defesa. Além disso, o Municipal de Portimão foi o terceiro estádio onde se viram mais golos (53) neste campeonato. Só na Luz (80) e nos Arcos (54) se festejou mais. Um pouco à semelhança do Vitória de Guimarães, o Portimonense somou o grosso dos seus 39 pontos em casa. Longe do Algarve o seu percurso, olhando apenas aos resultados obtidos, foi medíocre; apenas três triunfos (Nacional, Feirense e Boavista) e dois empates (Belenenses e Setúbal) nos 17 jogos. Com o Portimonense como visitado a história foi outra, contando-se escassas cinco derrotas. Dos nomes que saíram de Portimão com os três pontos não constam Sporting nem Benfica, vergados por 4-2 e 2-0, respectivamente. O Portimonense dobraria o campeonato no oitavo lugar e esses rendimentos acabaram por ser importantíssimos para que a equipa resistisse a uma segunda volta durante a qual venceria apenas quatro partidas. Chega a ser incrível como o clube nunca caiu para a zona perigosa, nem sequer para perto dela.
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António Folha foi o obreiro do bom entretenimento proporcionado pelo Portimonense neste campeonato.
FIGURAS
Mesmo limitado por problemas físicos, Jackson Martínez liderou a equipa com nove golos na Liga.
Nakajima voltou a estar em foco. Saiu do clube em Janeiro, com destino ao Al-Duhail, do Catar. Por 35 milhões de euros.
Ostentando já o rótulo de histórico do futebol português, ou não fosse o quinto clube há mais tempo consecutivamente na I Liga (desde 1985/86), o Marítimo parece ter recuado até aos seus primeiros tempos na divisão máxima, em que a luta era mais pela manutenção que pela Europa. Se nas épocas mais recentes acabou por não se poder escrever o seguinte com as letras todas, desta vez não houve margem para dúvidas: o Marítimo esteve efectivamente na luta pela permanência. O arranque até foi prometedor, com nove pontos em 12 possíveis, mas logo os leões do Funchal entraram numa terrível série de onze jogos sem vencer (jornadas 5 a 15), que os deixaram no proibido 16.º lugar nessa jornada. Valeu que a equipa ainda foi a tempo de se recompor, pese embora tenha sido o pior ataque desta edição do campeonato, com 26 golos marcados; o terceiro pior total dos verde-rubros na I Liga. O decréscimo de competitividade do Marítimo talvez não seja alheio aos treinadores que têm passado pelo clube nos anos recentes. É certo que Daniel Ramos fez do reduto maritimista uma fortaleza entre 2016/17 e 2017/18, mas nomes como Leonel Pontes (2014/15), ou Paulo César Gusmão (2016/17), não deram conta do recado. Tal como a aposta ousada que se lhes seguiu.
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Cláudio Braga não trazia consigo um currículo por aí além, mas chegava ao Marítimo depois de promover o Fortuna Sittard à Eredivisie holandesa em 2017/18. A presença do técnico na ilha terminaria ao fim de dez pontos noutras tantas jornadas e uma eliminação da Taça de Portugal diante do Feirense (0-3), na 4.ª eliminatória.
O substituto foi Petit, que chegava já calejado por situações bem mais periclitantes que viveu noutros emblemas.
A quarta temporada dos açorianos na I Liga foi também a melhor do clube até agora. Longe das aflições da despromoção, mas também dos lugares de destaque que fazem os adeptos aumentar a exigência, o Santa Clara passou praticamente toda a época nessa zona segura chamada "meio da tabela". O décimo lugar final trouxe consigo novos recordes de golos marcados (43), de menos golos sofridos (45) e de pontos conquistados (42). Marcar em 14 dos 17 jogos da primeira volta trouxe um acréscimo de confiança à equipa, que viveu da qualidade de Zé Manuel (8 golos) e Osama Rashid (6), além de não ter acusado a saída de Fernando Andrade (4 golos) para o FC Porto na reabertura do mercado. Enquanto visitante, o Santa Clara terminou o campeonato com saldo de golos nulo (19-19); apenas outras quatro formações conseguiram melhor neste capítulo, nada menos que Benfica, FC Porto, Sporting e Braga, todos com diferença de golos positiva nos jogos fora.
O grande desafio para o Santa Clara na próxima temporada será, julga-se, resistir ao maldito síndrome do segundo ano, que tantas vítimas faz. Afinal de contas, foram 15 épocas afastado da divisão maior.
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João Henriques conduziu a equipa a uma época tranquila.
Depois de vários anos de candeias às avessas, clube e SAD chegaram a vias de facto. Não tendo sido renovado o protocolo que unia as duas entidades, a SAD perdeu, numa fase inicial, o direito de usufruir das instalações e do nome do clube; no decorrer da época ser-lhe-ia também vedado o uso dos símbolos do Belenenses. Consumava-se, portanto, um imbróglio com ramificações aparentemente intermináveis. Enquanto a SAD preparava mais uma época na Liga NOS, o clube criava uma equipa própria, que tomou parte na I Divisão da AF Lisboa (correspondente ao sexto escalão do futebol nacional). A quem creditar, então, os registos deste Belenenses 2018/19? Pela lógica, à SAD, mas tal implicaria separar os registos de todos os anos anteriores em que competiu como SAD. No entanto, uma vez que SAD e clube eram entendidos como um só, essa separação não pode ser feita, sob pena de o clube ficar com anos vazios no seu historial. A solução mais simples será manter registos de ambos juntos, mas separados, numa situação tão confusa quanto aquela provocada pelo diferendo entre as partes.
Assim, enquanto a equipa do CF Os Belenenses se sagrava campeã da I Divisão do distrital da capital, a formação d'Os Belenenses SAD andava com a casa às costas, a disputar a Liga NOS no Jamor; com excepção das "recepções" a Moreirense e Marítimo (jornadas 20 e 22), que se realizaram no Bonfim. Quão curioso, portanto, que o jogo da 21.ª jornada fosse uma visita precisamente ao Vitória de Setúbal...
Talvez o facto de jogar tecnicamente sempre fora tenha feito com que nas partidas efectivamente extramuros o Belenenses SAD apenas tenha sido derrotado em cinco ocasiões - só Benfica e FC Porto perderam menos vezes como visitantes. De resto, a pior classificação dos azuis em todo o campeonato foi o 12.º lugar (jornadas 6 e 7) e só na recta final, à conta de uma sequência de nove jogos sem vencer, abandonou um sétimo posto que parecia seguro. Essa série incluiu uma terrível derrota com o Sporting (1-8), a pior de sempre do clube/SAD em casa. Nesses nove encontros o Belenenses SAD sofreu nada menos que 28 golos, contribuindo para um total de 51 sofridos, um dos piores registos de sempre do clube/SAD. Aliás, em 78 épocas de I Liga esta foi apenas a oitava vez em que a defesa azul sofreu 50 ou mais golos. No capítulo ofensivo, Licá foi o homem com a pontaria mais afinada, assinando onze golos - nenhum de grande penalidade.
O Belenenses SAD foi ainda a única equipa que não perdeu com o Benfica esta época, registando uma vitória no Jamor (2-0) e um empate na Luz (2-2), depois de estar a perder por dois golos. O jovem Kikas assumiu-se como revelação da equipa, terminando com cinco golos no campeonato.
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Tendo dirigido a equipa em 16 jogos na época passada, desta vez Silas tinha em mãos o desafio adicional de manter o plantel à margem dos problemas directivos. E não se saiu nada mal, pese embora o referido final atribulado.
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O Belenenses SAD ainda a equipar à Belenenses clube.
As panteras terminaram a Liga no oitavo posto, igualando a prestação da temporada transacta, mas passaram 29 jornadas abaixo do décimo lugar - três delas dentro da zona proibida -, o que diz bem das dificuldades por que a equipa passou. Valeu a recta final, que não só trouxe quatro triunfos consecutivos (Moreirense 3-1, Setúbal 0-3, Braga 4-2 e Marítimo 0-1), como também arrastou até ao Bessa molduras humanas como há muito não se viam. Esse jogo em Setúbal, à 32.ª jornada, foi de capital importância, já que ambas as equipas ainda tinham a sua vida por resolver.
O Boavista ficou-se pelos 34 golos marcados (quinto pior total desta edição da I Liga), o que também atesta que facilidades foi coisa que não houve em 2018/19. O angolano Mateus foi o melhor marcador no campeonato, com apenas cinco tentos.
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Jorge Simão iniciou a época, mas os maus resultados fizeram estalar o chicote após a jornada 18.
Jorge Couto orientou a equipa interinamente na ronda 19.
Lito Vidigal foi o homem que se seguiu, conseguindo nove triunfos em quinze jornadas. O treinador ingressou no Boavista cerca de uma semana depois de ter saído do Vitória de Setúbal.
Mais discreto que noutras temporadas recentes, o Rio Ave repetiu o sétimo lugar final, mas fê-lo a muito custo, pois teve que viver uma série de dez partidas sem vencer (jornadas 9 a 18). Tendo ficado pontualmente longe dos lugares acima, fica a ideia de os vila-condenses terem sido a formação que resistiu melhor aos resultados adversos, ao mesmo tempo que aproveitou da melhor maneira a quebra de uma ou outra equipa que seguiu, nessa fase, mais acima na classificação - nomeadamente o Belenenses. A defesa não esteve particularmente assertiva, ao conceder 52 golos - pior, só em anos de descida de divisão -, mas o ataque bateu o recorde do clube na I Liga; os 50 golos superaram o anterior melhor registo de 44, em 2015/16.
Golos foi o que também não faltou na Taça de Portugal, onde o Rio Ave bateu Torreense (1-5) e Silves (7-0), antes de tombar nos oitavos-de-final, em Alvalade (5-2).
Bruno Moreira foi o artilheiro da equipa na Liga, com nove golos.
TREINADORES
José Gomes dirigiu os destinos do Rio Ave até à jornada 13, altura em que saiu para o Reading, do Championship inglês.
Augusto Gama, mítico médio das equipas dos anos 90, foi técnico interino nas duas jornadas seguintes.
O resto da temporada ficou por conta de Daniel Ramos, homem da terra, que tinha deixado o Chaves semanas antes.
O adjectivo "histórico" e a expressão "fazer história" têm sido usados ao desbarato nos tempos que correm, pelo que é preciso ponderar muito bem sobre o seu emprego. No caso do Moreirense, porém, podemos escrever à vontade que o clube fez história, pois esta foi a sua melhor participação de sempre na I Liga, superando o nono lugar de 2003/04. O Moreirense poderia mesmo ter ficado no quinto posto, mas a última jornada reservava um dérbi vimaranense no qual, pelo menos no campeonato, os cónegos não têm um bom registo. Com efeito, o Vitória triunfou (1-3) e saltou para o quinto posto, ainda que em igualdade pontual. Falando em pontos, os 52 averbados pelo Moreirense tornaram-se também recorde do clube no campeonato, batendo os 46 somados igualmente em 2003/04. Por bater terá ficado apenas o melhor registo de golos marcados, que assim se mantém nos 42, em 2002/03 - esta época o Moreirense fez 39.
Ainda assim, o Moreirense só começou verdadeiramente a carburar após a jornada 7. Somando nada menos que sete vitórias nos nove jogos seguintes, os axadrezados do Minho pularam até ao quinto lugar (jornada 16). Uma sequência de seis jogos sem perder (jornadas 19 a 24) consolidou a posição do clube e permitiu-lhe resistir a uma ponta final menos assertiva, na qual venceu apenas um dos últimos seis encontros. As consequências dessa derrapagem só não foram maiores porque o clube não se inscreveu nas provas da UEFA; caso contrário, a tal derrota na última jornada teria certamente tido uma digestão diferente.
Valerá agora a pena consultar os livros de história, para que o clube não repita a dúbia façanha do Arouca, que foi de quinto classificado - com acesso à Europa - em 2015/16, a despromovido em 2016/17.
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Em 2016, quando pegou no Aves, então na II Liga, o madeirense Ivo Vieira referiu que queria trabalhar no continente por considerar que, havendo menor necessidade de fazer viagens longas, a estabilidade é maior no trabalho diário. Demorou, mas o técnico acabou por fazer justificar essas palavras, ficando ligado à história dos cónegos por bons motivos.
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