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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
FC Porto e Sporting gostaram tanto de se defrontar esta época, que não resistiram a mais meia hora de jogo até decidir quem ficava com o bilhete para o Jamor. No fundo, o cenário de um prolongamento tinha que estar em cima da mesa, se considerarmos que a média de golos marcados nos quatro jogos deste ano entre dragões e leões se cifrava em 1. O que vale por dizer que não era expectável que neste capítulo final a tendência se invertesse e o marcador escalasse até números invulgares, de resto como se viria a verificar. Além disso, uma vez que os clássicos entre os ditos grandes são jogos de tripla, um 1-0 para o Sporting encaixava no lote de resultados plausíveis. E assim foi.
Talvez por já estarem fartas de se conhecer mutuamente, nenhuma das equipas conseguiu surpreender a outra. Nem os treinadores inventaram formas de o fazer. O resultado foi um jogo tão desprovido de emoção, que é possível avançar o filme até ao minuto 85 sem prejudicar o estimado leitor por falta de informação. O Sporting esteve espevitado, mas apenas a espaços, enquanto o FC Porto foi pouco mais que circunspecto no seu futebol. Em face da desvantagem na eliminatória a responsabilidade estava, pois, do lado dos leões, mas os azuis-e-brancos pouco fizeram para evitar ficar em apuros. Quando Jorge Jesus trocou o lateral Fábio Coentrão pelo avançado Montero (75'), Sérgio Conceição respondeu introduzindo o mais defensivo Sérgio Oliveira no lugar de Otávio. Até aqui tudo bem, mas prosseguir tirando Óliver para colocar a trinco o central de raiz Reyes (84') era um convite a um eventual último assalto dos da casa. Meu dito, meu feito, passe a expressão. Segundos após essa substituição o Sporting beneficia de um canto, na sequência do qual Marcano acerta nas orelhas da bola ao tentar aliviar e esta sobra para Coates, que remata sem preparação, com a bola a bater no poste esquerdo de Casillas antes de entrar. O FC Porto respondeu através de um cabeceamento à trave do mesmo Marcano (87'). Ainda houve recargas, mas já havia fora-de-jogo, portanto já não contava. Foi o único lance de perigo claro dos dragões em todo o jogo. Já sem substiuições, e também sem pernas, um FC Porto que existiu pouco precisava agora de existir na plena força da vida, o que não se revelou fácil. O Sporting resistiu melhor fisicamente e o prolongamento pertenceu-lhe, mas as suas investidas foram todas travadas - sem grandes dificuldades, diga-se - por Casillas, que terá sido o melhor em campo nos 120 minutos.
E assim o FC Porto reencontrou o seu Adamastor: o desempate por grandes penalidades. Desta vez, um remate bastou para que a nau portista fosse atirada contra as rochas. Depois de Marcano confirmar que não devia ter saído de casa, ao ver a sua conversão embater no poste, as restantes nove tentativas deram todas em golo. Pelo FC Porto bateram ainda Alex Telles, Felipe, Reyes e Sérgio Oliveira; pelos leões cobraram Bruno Fernanes, Bryan Ruiz, Mathieu e Coates, antes de Montero assinar o penálti decisivo.
Cumpriu-se a velha máxima: quem joga para empatar, perde. Pelo menos a avaliar pelos minutos finais do tempo regulamentar. Não sobra agora outra alternativa ao FC Porto senão somar os pontos necessários para assegurar o título de campeão, sob pena de passar mais um ano sem acrescentar um troféu que seja à sua vitrine.
Os clássicos das segundas voltas de cada campeonato costumam ser apelidados de decisivos, mesmo quando não o são realmente. Este, para o Sporting, era mais que isso, já que uma derrota verde-e-branca, se não significasse um adeus ao título, ficaria lá perto. Face aos cinco pontos de vantagem na classificação, só uma derrota do FC Porto relançava verdadeiramente a discussão pelo título, tendo em conta que o outro habitual candidato também está na corrida. Era, portanto, sob pressão que o Sporting subia ao relvado do Dragão; além de não poder contar com o goleador Dost, lesionado, nem com Gelson, castigado. O próprio FC Porto também tinha baixas importantes, casos de Alex Telles, Danilo Pereira ou Soares. Pesando todas essas condicionantes, o Sporting tinha mesmo que arriscar, eventualmente beneficiando o FC Porto, que assim poderia encontrar os espaços que não teve nas partidas anteriores entre ambos esta época. Exemplo disso foi o lance de Marega (26'), que se isolou ainda longe da baliza, mas finalizou ao lado. Por essa altura, já o perigo tinha rondado as balizas, nomeadamente num outro lance de Marega (12'), que por entre a multidão cabeceou ao poste, antes de ver a sua própria recarga ser aliviada em cima da linha por Bryan Ruiz. Os leões responderam através de um avanço de Doumbia (21') e um remate cruzado de Bruno Fernandes (22'), em ambos os casos para defesas de Casillas.
O jogo estava dividido, embora até aí fosse o FC Porto a ter as oportunidades mais claras. Em cima da meia hora os dragões passaram a ter o golo também. Marcano cabeceou em frente à baliza após combinação na direita entre Maxi Pereira e Herrera; o cruzamento do médio mexicano foi tirado com régua e esquadro. Perto do intervalo Jorge Jesus era obrigado a mexer, por força da lesão de Doumbia, sozinho. Foi a melhor coisa que podia ter acontecido ao Sporting. Quer isto dizer que era a oportunidade de trocar um avançado que não está numa época feliz por outro com vontade de se afirmar. Lançado às feras, o jovem Rafael Leão só precisou tocar uma vez na bola para empatar o jogo (45'+1'), desmarcando-se no momento certo a passe de Bryan Ruiz. Furando por entre os centrais portistas, Leão colocou a bola por entre as pernas de Casillas. Se o golo leonino tinha surgido em boa altura, que dizer então do segundo tento do FC Porto? Logo ao minuto 49, Gonçalo Paciência trabalhou na direita sobre Mathieu e cruzou atrasado, rasteiro, para o segundo poste, onde Brahimi penteou de pé direito e rematou com o esquerdo para o 2-1. Momento de grande classe.
O Sporting voltava a estar encostado à parede, e por conseguinte o jogo não tinha por que não se manter vivo. Estava a ser mesmo o melhor dos quatro encontros entre as duas equipas esta temporada, e melhor ficou com a entrada de Rúben Ribeiro (67', saiu Ristovski). Os leões pressionavam muito um FC Porto que por esta altura procurava as transições rápidas em vez do futebol apoiado. Muito mais quando Marega cedeu o lugar a Reyes, também por lesão (82'); o maliano ficou a queixar-se da coxa depois de fazer um chapéu a Rui Patrício, que saíra das redes para tentar a mancha. Num momento inspirado no filme Matrix, Battaglia parou por um segundo à espera que a bola pinchasse antes de a cortar em cima da linha. Sentindo que os dragões iam recuar no terreno na defesa do resultado, Jesus projectou ainda mais a equipa para a frente trocando Fábio Coentrão por Montero (85'), e o colombiano não demorou a ter o golo nos pés, ao aparecer no segundo poste após livre lateral, mas Casillas opôs-se com uma intervenção no limite. O balde de água fria ainda se inclinou sobre o estádio ao minuto 89, altura em que um cruzamento de Rúben Ribeiro na esquerda encontrou Rafael Leão solto no segundo poste, com tudo para fazer o golo; esse balde não despejou, pois a finalização saiu por cima. É inacreditável não ter sido golo.
O FC Porto aguentou o resultado até final e ainda teve um contra-ataque em superioridade numérica no fim dos descontos, mas o cruzamento de Corona não passou pela defesa contrária. Olhando às estatísticas finais - o Sporting teve mais remates, mais cruzamentos, menos faltas cometidas - o empate seria o resultado mais adequado. Contudo, como disse Jorge Jesus na conferência de imprensa pós-jogo, "o futebol não tem lógica nenhuma". Como só contam as que entram, o FC Porto saboreia um triunfo que o mantém firme na liderança.
À semelhança do encontro para a Taça da Liga, esta terceira prestação do clássico não foi um bom jogo. Houve pouca acção em frente às balizas, faltou brilhantismo técnico e até o golo foi solitário. Pelo menos para quem vê de fora, é frequente em jogos desta dimensão as equipas optarem por remeter as decisões para considerações futuras. Foi o caso. Até porque em Abril haverá uma segunda mão e nem dragões, nem leões quiseram arriscar-se a lá chegar já fora da discussão. Dos poucos motivos de interesse que sobraram, as melhores - únicas? - oportunidades de golo, novamente em paralelo com os duelos anteriores, ficaram do lado do FC Porto. O primeiro a fazer perigar as redes leoninas foi Sérgio Oliveira (28'), com um livre directo que acertou em cheio no poste, seguindo-se-lhe Soares, que apontou o golo (60') com um forte cabeceamento entre Piccini e Ristovski, e só não repetiu a dose num lance idêntico (65') porque Rui Patrício lhe fez uma majestosa defesa. Herrera teve o golo à sua mercê (31') ao isolar-se perante Patrício, mas precisava de uma perna do comprimento da de um basquetebolista para ter dado o melhor seguimento ao passe picado de Corona. Brahimi também viu as redes, ainda que de ângulo apertado (21'), mas o guardião da selecção nacional fez uma boa mancha.
O Sporting apostou numa defesa de três centrais, ficando Ristovski e Fábio Coentrão com os corredores a seu cargo, mas já em desvantagem Jorge Jesus removeu-os para lançar Rúben Ribeiro (74') e Montero (84') nos seus lugares, inclinando a equipa para a frente. Esse risco quase era premiado em cima dos descontos, quando Ricardo facilitou e deixou que Rúben Ribeiro irrompesse pela área, e com opções de passe. No limite do pânico, Felipe e depois Casillas acabaram por aliviar. O guarda-redes saiu da baliza e foi por pouco que um instante em que paralisou saía caro. O destaque nos leões acabou por recair no inconformismo de Gelson Martins, mas faltou-lhe, de resto tal como a toda a equipa, a referência Dost, que falhou o jogo por lesão. Doumbia não deu o mesmo élan que o holandês. Num jogo em que Felipe se envolveu numa pequena altercação com Fábio Coentrão a propósito de um lançamento (25'), quem acabou expulso foi Acuña (90'+2'), por acumulação.
Ficou até a sensação de que o FC Porto jogou melhor depois de marcar, ainda que essa fase tenha coincidido com o período em que o Sporting se abriu mais. Talvez uma coisa seja consequência da outra. A verdade é que até aí o jogo foi predominantemente equilibrado, por muito que Casillas quase não tenha tido trabalho. A partida ficou ainda marcada pela forma recorrente como o Sporting contrariou o futebol portista através de faltas. Quiçá surpreendentemente, o juiz João Pinheiro fez uma arbitragem bastante positiva. Fica tudo para decidir em Alvalade, então. Felizmente o resultado não foi novamente 0-0.
Ao fim de 180 minutos, mais descontos, dragões e leões ainda não marcaram golos entre si. Pensando que ainda faltam mais três encontros esta época e que ambas as equipas permanecem invictas nas provas internas, teme-se uma maratona de empates. Neste fascículo dedicado à Taça da Liga, o peso histórico de Sporting e FC Porto nunca terem ganho a prova poderia funcionar como rastilho para um bom jogo; mas não. Talvez porque a arbitragem de Nuno Almeida não ajudou. Se o jogo já estava soluçante pela forma como uma equipa não dava um metro de espaço à outra, pior ficava com o juiz algarvio, muito interventivo, a interromper incessantemente. Os momentos de futebol escorreito escasseavam, até que ao minuto 36 se gritou golo do FC Porto, numa jogada em progressão, a três toques, entre Brahimi, Sérgio Oliveira e Soares, que se desmarcou e finalizou com sucesso. Segundos depois, o vídeo-árbitro decreta fora de jogo e a partida regressou ao ponto morto.
Nos poucos momentos de perigo que restaram, o lance mais gritante terá sido o cabeceamento de Coates ao poste (64'); o ressalto foi ter directo às mãos de Casillas no meio da baliza. Já o FC Porto obrigou Rui Patrício a algumas defesas, nenhuma em oportunidades flagrantes. Como o único antídoto para jogos bloqueados não valeu e as equipas não encontraram outro, não houve meio de escapar à decisão por grandes penalidades, com as quais o FC Porto não costuma dar-se bem. Deveras. Com os dragões a cobrar primeiro, tanto Alex Telles e Marcano como Dost e Bruno Fernandes não desperdiçaram, mas à terceira Patrício defendeu Herrera. Na quarta penalidade, o estreante Waris converteu e Coates parou em Casillas. Patrício respondeu detendo Aboubakar, mas Casillas voltou a sobressair ao negar William Carvalho. Na morte súbita Brahimi colocou tanto que bateu no poste, antes de Bryan Ruiz converter para deixar o FC Porto fora da discussão da Taça da Liga pela 11.ª vez.
O jogo ficou ainda marcado pelas saídas por lesão de Danilo Pereira (11') e do sportinguista Gelson (43'), e por um lance na área entre o mesmo Danilo e Dost (5'), no qual ambos se embrulharam e caíram. O internacional português terá cometido grande penalidade. Com tanto apito que se seguiu, não se percebe como este lance não foi sancionado. O FC Porto acaba por cair tão de pé quanto o Sporting cairia se tivesse perdido. Caindo só no desempate, subsiste a dúvida: terão os dragões cumprido os requisitos mínimos para a Taça da Liga? Haverá sequer requisitos para esta competição?
Se o que em futebolês se denomina "jogo jogado" valesse para alguma coisa, a história do futebol seria muito diferente, nomeadamente no que toca às listas de vencedores de competições. Como é mais fácil decidir uma partida pelo número de golos marcados, o jogo jogado torna-se no mecanismo privilegiado de análise quando os golos não aconteceram. Em casos como este, nos quais o jogo jogado não resulta em vitória moral, o primeiro critério de desempate são os lances claros em frente à baliza, e nesse capítulo o FC Porto saiu por cima. Foi, portanto, um clássico como tantos outros, em que cada uma das equipas se sobrepôs à outra em cada parte, terminando com um cortês aperto de mão. Não tendo havido golos, resta puxar a brasa para a sardinha mais conveniente.
O FC Porto foi então quem esteve mais perto de marcar. À cabeça surge o lance de Marega (44'), cujo remate embateu na trave, mas existiram ainda avanços de Brahimi (22') e Aboubakar (40'), ambos anulados por boas intervenções de Rui Patrício. Ainda que ao longo da primeira parte o domínio fosse portista, esses lances constituíram também os únicos momentos em que a defesa do Sporting foi furada. Grande parte do crédito da coesão defensiva leonina recaiu sobre Coates, que se mostrou mais assertivo que Mathieu. Nas laterais, Jonathan Silva e Piccini procuravam alargar a longitude do ataque verde-e-branco, mas esbarravam invariavalmente no miolo do FC Porto, que ia recuperando a bola sem problemas. Repetindo dez nomes em relação ao encontro com o Mónaco - mudou apenas Ricardo na lateral direita, entrando Layún -, o FC Porto manteve a dinâmica, tendo-lhe faltado, porventura, um pouco mais de velocidade no último terço do terreno. Na única vez em que o Sporting se aproximou das redes de Casillas, William Carvalho - bom jogo - cabeceou para defesa fácil do internacional espanhol (43').
Na segunda metade os papéis inverteram-se. O meio-campo do FC Porto deixou de estar tão afinado e os leões começaram a aparecer mais vezes perto da área contrária. Ainda assim, os lances mais perigosos do Sporting nasceram de erros directos dos dragões, como ao minuto 59, quando um lançamento lateral apanhou Danilo Pereira distraído, permitindo a Bruno Fernandes um remate sem oposição, mas muito por cima. Pouco depois começava a dança das substituições. Sérgio Conceição apostou na chamada troca-por-troca, preferindo não mexer num esquema que mesmo não dando espectáculo no ataque, mantinha a defesa bem segura - grande jogo de Felipe e Marcano -, por muito que Danilo Pereira não aparentasse estar nas melhores condições. Já Jorge Jesus refrescou apenas o meio-campo, tirando Bruno Fernandes para meter Bruno César (62'), operando só mais uma substituição - Acuña por Podence (90'). Conceição tirou então Herrera para colocar Otávio (74'), trocando também Aboubakar por Soares (86') e Brahimi por Corona (88').
Apesar do maior domínio sportinguista no segundo parcial, o FC Porto esteve mais uma vez perto de marcar (79'), num lance que se tivesse dado golo, dava também polémica da grossa, à conta de um desentendimento entre o juiz Carlos Xistra e o seu auxiliar acerca de um lançamento lateral após bola dividida. As imagens televisivas mostram que Xistra teve razão ao autorizar a posse de bola do FC Porto, mas nesse segundo de indecisão os dragões seguiram jogo e Marega, isolado, desviou para defesa apertada de Rui Patrício. Os adeptos dos verdes-e-brancos terminariam o jogo com novo susto, na forma de um livre frontal (90'+2'). Layún cobrou mais em jeito que em força e mais uma vez Patrício esteve lá.
O jogo acabaria como começou e as equipas permaneceram como estavam nos primeiros lugares da classificação - obviamente. Só uma coisa mudou: o FC Porto, única equipa com registo ainda imaculado neste campeonato, perdeu os primeiros pontos.
Por vezes diz-se que a tradição já não é o que era, mas os exemplos que provam o contrário não páram de aparecer. Tal como noutras épocas do passado, o Sporting de 2016/17 voltou a ser vítima do fatídico síndrome do Natal, esse pesadelo recorrente que tantas noites sem dormir custa aos adeptos leoninos. Na última jornada de Liga antes da data festiva – 18 de Dezembro – o Sporting perdia em casa com um Braga (0-1) orientado interinamente pelo ex-leão Abel Ferreira e caía para o quarto lugar, a oito pontos do topo, por troca precisamente com os minhotos. Por essa altura já a presença europeia tinha terminado, e o novo ano não significaria um recomeço, já que logo a 4 de Janeiro o Sporting era eliminado também da Taça da Liga, ao perder no Bonfim com o Setúbal (2-1), curiosamente também treinado por um homem com história em Alvalade, no caso José Couceiro. O golo decisivo dos sadinos apareceu numa grande penalidade sobre o final da compensação, o que motivou veementes protestos dos verdes-e-brancos. A 17 de Janeiro o Sporting despediu-se de mais um objectivo, ao ser afastado da Taça de Portugal pelo Chaves (1-0), que marcou aos 87 minutos por Carlos Ponck. O saldo das festas nesse dia era esclarecedor: restavam ao Sporting os 17 jogos da segunda volta do campeonato, com os mesmos oito pontos para recuperar face ao líder Benfica.
O cenário era diametralmente oposto ao do início da época, altura em que o optimismo era a nota dominante na casa do leão, muito por culpa da boa prestação global de 2015/16. Mesmo quando confrontado com um grupo difícil na Liga dos Campeões, o discurso da direcção do clube apontava a uma passagem aos oitavos-de-final. E enquanto na prova europeia a percepção ia mudando ao sabor das derrotas pela margem mínima frente a Real Madrid e Borussia Dortmund, na frente doméstica o Sporting não conseguiu capitalizar um arranque interessante, com cinco vitórias nas primeiras seis jornadas, que incluíram um clássico frente ao FC Porto (2-1), à terceira ronda. A derrota em Vila do Conde (3-1, 5.ª jornada) deu nas vistas, mas seriam os três empates consecutivos entre as rondas 7 e 9 que colocaram os leões em verdadeiros apuros. O primeiro a travar o Sporting nessa sequência seria o Guimarães, que recuperou de 0-3 para 3-3 no quarto-de-hora final do encontro, seguindo-se Tondela (1-1 em casa) e Nacional (0-0 fora).
O Natal aproximava-se então a passos largos, e o sinal mais claro disso apareceria a 7 de Dezembro, dia do fecho da fase de grupos da Liga dos Campeões. Um empate bastava para o Sporting assegurar o terceiro lugar do grupo e a passsagem para a Liga Europa, mas os leões saíram de Varsóvia derrotados pelo Legia (1-0), que assim se apurou com míseros quatro pontos, de resto os mesmos que teriam servido ao Sporting. O jogo seguinte, na jornada 13 da Liga, trouxe uma derrota (2-1) no dérbi da Luz, antecedendo a já referida derrota caseira com o Braga. Era então o princípio do fim para os leões. O desfecho ficou virtualmente confirmado pelos empates cedidos nas jornadas 17 (2-2 em Chaves) e 18 (2-2 no Marítimo), que elevaram a fasquia para os dez pontos de distância, e tiveram a saída da Taça de Portugal pelo meio. Pouco mais restava ao Sporting senão começar desde logo a pensar na próxima temporada, enquanto assistia à continuação uma luta particular.
FIGURA
Autor de 13 golos até à viragem do campeonato, Bas Dost não abrandou o ritmo até final da temporada, ao ponto de se ter imiscuído na luta pela Bota de Ouro com a fina flor do futebol europeu. Foi por pouco que o holandês perdeu o troféu para Lionel Messi, mas os seus 34 golos na Liga não só bateram os 32 do benfiquista Jonas em 2015/16, como foram o melhor registo desde os 42 de Jardel em 2001/02. Mais que isso: totalizaram metade dos golos marcados pelo Sporting neste campeonato! Dost terminou com três hat-tricks, frente a Boavista (28.ª jornada), Braga (31.ª) e Chaves (34.ª), mas o seu melhor momento aconteceu na jornada 25, na qual apontou os quatro golos do Sporting na visita a Tondela (1-4). Como nota de curiosidade, os últimos três póqueres na I Liga foram apontados por jogadores do Sporting: Liedson, frente ao Belenenses em 2009/10, e Carlos Bueno diante do Nacional em 2006/07). Bas Dost foi apenas o sexto jogador a assinar um póquer na I Liga desde a viragem do século.
NO OCASO
A performance de Bas Dost foi de tal forma luminosa que acabou por ofuscar o trabalho dos outros integrantes do Sporting de 2016/17, que ora foram tidos como flop, como Joel Campbell, ora passaram praticamente despercebidos, como aconteceu com Bryan Ruiz. Os golos do holandês tiveram também o condão de apagar quaisquer vestígios da passagem do seu antecessor, o argelino Islam Slimani, que ainda ficou o tempo suficiente para marcar no triunfo sobre o FC Porto na 3.ª jornada (28 de Agosto), antes de seguir para o Leicester City. Nessa partida o outro golo leonino foi apontado por Gelson Martins, que espalhou qualidade pelos flancos do ataque verde-e-branco.
Adrien Silva mais uma vez deu coração ao meio-campo, com o eterno Rui Patrício a adicionar coragem nas redes. Alan Ruiz despontou na segunda volta, a tempo de marcar seis golos na Liga, enquanto Coates se destacou no rector recuado.
TREINADOR
Com a equipa progressivamente fora da luta pelo título, faltaram a Jorge Jesus argumentos para alimentar a sua inesgotável fonte de declarações vistosas, pelo que se pode considerar que o técnico teve um ano atípico. Pelo menos em comparação com a última década. Ainda assim, em nenhum momento o seu lugar esteve perigosamente em causa, mesmo tendo chegado a ver lenços brancos.
CONTABILIDADE
Liga NOS: 3.º lugar, 21v-7e-6d, 68gm-36gs, 70 pontos; apurado para o play-off da Liga dos Campeões;
Taça de Portugal: derrotou Famalicão (0-1), Praiense (5-1) e Setúbal (0-1), antes de cair diante do Chaves (1-0) nos quartos-de-final;
Taça da Liga: eliminado no grupo A (6 pontos), atrás do Setúbal e à frente de Arouca e Varzim;
Liga dos Campeões: eliminado na fase de grupos, ao ser último do grupo F (3 pontos), atrás de Borussia Dortmund, Real Madrid e Legia Varsóvia.
De entre todos os jogos que ao longo de cada época são apelidados de decisivos, uns são mais decisivos que outros. É certo que ficam a faltar ainda catorze jornadas para o fim – no fundo, fica tudo por decidir –, mas a verdade é que este encontro era mesmo decisivo, na medida em que ambos os intervenientes tinham muito em jogo. O FC Porto acabara de se colocar a apenas um ponto da liderança e precisava de uma vitória num clássico como de pão para a boca, até porque não venceu nenhum dos da primeira volta; o Sporting chegava aqui em convalescença de uma série de resultados menos positivos que deixou com um pé na cova as intenções leoninas de discutir o título, pelo que só um triunfo lhe permitiria não ser riscado desde já de toda e qualquer luta pelos lugares cimeiros.
A pressão começou a ser sacudida logo ao minuto 6, altura em que Soares, reforço de inverno que se estreou pelo FC Porto logo como titular, cabeceou colocado para o primeiro golo da noite, a cruzamento de Corona. Letais os dragões, pois até esse momento ainda não tinha acontecido praticamente nada. O avançado brasileiro não ficou satisfeito e faria o bis perto do intervalo (40’), num contra-ataque tirado directamente dos compêndios. Ainda no meio-campo portista, Brahimi e Palhinha embrulharam-se e a bola ficou à disposição de Danilo Pereira, que logo lançou Soares com um excelente passe em profundidade. Em velocidade, Soares ultrapassou a última linha do Sporting e contornou Rui Patrício antes de finalizar. O resultado era justíssimo. O FC Porto controlou o jogo sem cometer loucuras e o Sporting, quase sempre através da imprevisiblidade de Gelson Martins, ficou reduzido a esporádicos remates que não causaram grande perigo.
No reatamento o FC Porto quis manter o controlo da partida da mesma forma como fizera no primeiro parcial, subindo em bloco sem pôr velocidade excessiva no jogo, mas a verdade é que não o conseguiu e acabou por passar quase todo o tempo em sobressalto. Não terá sido apenas pela troca de Matheus Pereira por Alan Ruiz, mas o Sporting regressou do descanso com outro ânimo e não demorou a inclinar o jogo sobre a baliza de Casillas. Os leões eram mais rápidos na execução e no desenvolvimento das jogadas, e com isso passavam quase sem problemas pelo miolo portista, nomeadamente nos flancos. Os livres laterais junto à área do FC Porto sucediam-se, mas o perigo maior veio de um remate de ressaca de Adrien Silva (57’) que encontrou a trave. Se os avisos não eram suficientes, o Sporting adicionou algo de concreto através do golo de Alan Ruiz (60’), num remate de fora da área após solicitação de Dost. Casillas ainda tocou na bola, mas o selo era mesmo de golo.
Nuno Espírito Santo respondeu tirando André Silva para reforçar a zona central com André André (64’), ainda que sem grandes efeitos, já que o jogo continuou a desenrolar-se nas imediações da área do FC Porto. De seguida saiu Brahimi para entrar Diogo Jota (70’) e Corona cedeu o lugar a João Carlos Teixeira (83’), mas o FC Porto só seria capaz de causar algum frisson em lances de bola parada. O Sporting há muito que já tinha tornado o empate moralmente justo, mas só contam as que entram, e aí Casillas teve uma palavra mais que decisiva a dizer, quando se lançou para uma monstruosa defesa junto ao poste direito, respondendo a um cabeceamento de Coates (90’+3’). Jogava-se o último segundo da partida e os verdes-e-brancos estavam no auge da pressão, mas não seriam felizes.
O FC Porto precisava de uma vitória com contornos semelhantes a esta. Dois golos do reforço acabado de chegar, boas defesas de um guarda-redes que tão criticado foi na época passada, e uma equipa que susteve as investidas contrárias, não entrando em pânico. Conseguido o objectivo de colocar pressão total sobre o líder é impossível não começar a olhar para o que resta do calendário, e a conclusão é simples: o do Benfica é aparentemente mais favorável que o do FC Porto. Mantenham-se as cautelas, portanto.
Sem ganhar em Alvalade desde 2008/09, o FC Porto parecia chegar em forma ao último teste do primeiro lanço da temporada, mas o tónico trazido de Roma não foi suficiente para que o FC Porto mantivesse o registo imaculado nesta Liga NOS. Ainda assim, a entrada em jogo do FC Porto não fazia prever um desfecho desfavorável. Sensivelmente ao mesmo minuto que no jogo de Roma, Felipe voltou a fazer das suas, abrindo o activo com um desvio à boca da baliza após livre sobre a direita. Antes do golo o FC Porto já havia procurado lançar o ataque através de bolas em profundidade pelo corredor central, conseguindo um lance em que André Silva viu o seu esforço negado por um corte no momento certo de Rúben Semedo. Ao quarto-de-hora Slimani empatava num lance do qual alguns jogadores portistas se queixaram de mão na bola, mas não parece haver irregularidade. Bruno César cobrou um livre directo que bateu no poste e sobrou para Gelson Martins, que ajeitou a bola e a encostou na direcção da baliza. O esférico prensou no corpo de Casillas, e o tento só seria confirmado por Slimani, em cima da linha. Talvez houvesse tempo para o FC Porto evitar o golo, mas os jogadores preferiram ficar parados, de braço no ar, virados para o árbitro assistente. No entanto, a haver irregularidade só nos livres que deram origem aos dois golos; em nenhum deles parece haver falta.
O Sporting não demorou a corrigir o seu posicionamento em campo depois de sofrer o golo, com isso fechando a torneira ao miolo do FC Porto, que não conseguiu mais fazer a bola chegar perto da pequena área. O mais perto que os azuis-e-brancos estiveram do golo até final do jogo foi num remate em arco de André André que tocou no poste antes de sair, num contra-ataque em que Layún dominou mal a bola quando tinha dois colegas em posição privilegiada no meio, e já no estertor do desespero, quando Adrián López pareceu escapar-se na esquerda com espaço para rematar mas optou por flectir para o meio, perdendo de imediato a bola.
Aos 26 minutos Gelson Martins consumou a reviravolta leonina num remate firme à entrada da área. As queixas dos portistas repetiram-se, novamente por alegado domínio com o braço de Bryan Ruiz antes de endossar ao colega, mas também aqui não parecem existir motivos para tal. Os argumentos a que os dragões podem recorrer residem noutras vertentes da arbitragem de Tiago Martins – que dirigia o seu primeiro clássico –, nomeadamente no lance em que Bruno César, logo ao minuto 10, teve uma entrada de sola ao tornozelo, em tudo idêntica à que rendeu uma das expulsões no jogo de Roma. Aqui, nem o cartão amarelo saltou do bolso, e ao longo da partida o juiz foi permitindo que o mesmo Bruno César acumulasse faltas suficientes para ser expulso duas vezes, mas também que em várias disputas de bola – com Slimani à cabeça – o cotovelo também fosse utilizado. Otávio foi dos jogadores mais visados pelos adversários. A excessiva permissividade do árbitro perante os abusos do Sporting deixa-o em condições de ser acusado de caseirismo. Num jogo em que todos os golos oferecem dúvidas, é incrível como o foco das queixas incide sobre outros lances.
Os níveis de tensão foram elevados ao longo da partida, ou não estivesse em jogo uma liderança isolada com vantagem pontual sobre os outros dois candidatos crónicos ao título, e Jorge Jesus seria expulso durante a segunda parte, juntamente com o médico dos leões. Por vezes uma expulsão do técnico mexe com a equipa, mas o Sporting tinha o jogo bem controlado e segurou a vantagem. Nuno Espírito Santo efectuou substituições que inclinaram a equipa para o ataque, mas o efeito foi praticamente nulo. Óliver Torres foi utilizado na segunda parte, mas tendo chegado apenas a meio da semana, talvez tenha sido uma entrada prematura.
Ficar cedo sob pressão classificativa não é cenário novo para o FC Porto nestes últimos anos, mas a equipa não dá sinais do desnorte em campo tantas vezes visto nos dias de Julen Lopetegui, pelo que o alarme não deverá soar desde já. Antes pelo contrário. Os elogios tecidos durante a semana pelo presidente leonino Bruno de Carvalho à qualidade das arbitragens, e a actuação caseira de Tiago Martins só mostram que a concorrência está em sentido com o arranque de época do FC Porto.
A época do Sporting foi como que um clímax ao contrário. Começou em clima de euforia, mas terminaria sem nada de palpavelmente positivo a reter. Esse entusiasmo inicial tinha razões de ser. A chegada de Jorge Jesus, vindo directamente do Benfica, funcionou como uma promessa tácita de vitórias. Afinal de contas, o treinador ingressava no Sporting não por ter falhado no anterior clube, mas sim porque não renovou contrato no final de seis anos, globalmente, de sucesso. As palavras do treinador no momento da apresentação – “a partir de agora há três candidatos ao título” – ajudou ainda mais a que os adeptos e simpatizantes leoninos sentissem que estavam perto de uma temporada de sonho.
A conquista da Supertaça Cândido de Oliveira, justamente diante do Benfica, com um golo solitário do reforço colombiano Gutiérrez, foi sem dúvida o melhor dos arranques que o Sporting poderia desejar, mas não seria preciso esperar muito por um desaire. Ainda em Agosto, os leões eram eliminados da Liga dos Campeões no play-off de acesso, passando assim ao lado do prémio de entrada e da oportunidade de se exibirem na montra principal do futebol europeu. A digestão foi difícil, ou não tivesse a eliminação acontecido às mãos do CSKA Moscovo, esse velho fantasma sportinguista.
Com o avançar da época, e de resto tal como fazia no Benfica, Jorge Jesus tendeu a desvalorizar as outras competições, no sentido de focar o plantel exclusivamente no campeonato. Daí que talvez não tenham sido assim tão surpreendentes os resultados menos positivos na fase de grupos da Liga Europa, nomeadamente as derrotas com o Lokomotiv Moscovo (1-3) e em casa dos albaneses do KF Skënderbeu (3-0). Na conferência de imprensa após a vitória em casa do Lokomotiv (2-4), na penúltima ronda, que recolocou o Sporting no caminho do apuramento, Jesus chegou mesmo a admitir que esse triunfo o ia obrigar a encarar o derradeiro encontro de outra maneira, o que diz muito da importância que o técnico dava à Liga NOS, em detrimento das outras frentes.
E não ficaram mesmo dúvidas de que vencer o campeonato era o desiderato que o Sporting mais procurava atingir. Os verde-e-brancos não só foram a equipa que mais tempo passou na liderança (15 jornadas), como terminaram com recordes de pontos (86) e vitórias (27), além do seu melhor registo ofensivo (79 golos) desde 1973/74, quando Yazalde, sozinho, marcou 46. Os números levaram a decisão do campeonato para a última jornada, mas não foram suficientes para mais que vender bem caro o título que ficaria nas mãos do Benfica.
Mais do que a derrota (0-1) com o Benfica, na 25.ª jornada, que significou uma troca de comandante, o que verdadeiramente traiu o Sporting foram os empates caseiros com o Paços de Ferreira (1-1) na terceira jornada, com o Tondela (2-2) na 18.ª e com o Rio Ave (0-0) na 21.ª. Bastava que um desses não tivesse acontecido e o Sporting seria mesmo o campeão, beneficiando da vantagem no confronto directo com os encarnados. O Sporting foi ainda a equipa que menos vezes foi derrotada (apenas duas) e venceu todos os clássicos da temporada, à excepção dessa recepção ao Benfica, que apesar do que se escreve acima, haveria de ser decisiva para o desfecho da Liga NOS. A partir desse jogo, que deixou o Sporting com dois pontos de atraso, os gigantes de Lisboa venceram todos os jogos até final.
A Taça de Portugal deixaria aos leões um sabor agridoce. Depois de eliminar o Benfica (2-1 após prolongamento), a defesa do troféu conquistado no ano transacto terminaria na Pedreira, onde o Braga sairia vencedor de um jogo louco (4-3 após prolongamento), em que o Sporting se pode queixar de um golo limpo que o juiz Fábio Veríssimo não sancionou, minutos antes do quarto tento bracarense. No tocante à Taça da Liga, a participação leonina cingiu-se à fase de grupos, onde o surpreendente Portimonense, da II Liga, bateu um Sporting em poupanças (2-0) e comprometeu a passagem deste às meias-finais.
O afastamento da Taça da Liga aconteceu semanas antes do regresso da Liga Europa, onde o Sporting acabara por se apurar para os 16-avos-de-final, que se revelariam a paragem final dos leões na sua viagem pela Europa. Tal como os outros dois grandes, também o Sporting tombou frente a uma equipa alemã, no caso o Bayer Leverkusen, outro velho conhecido de Alvalade. O Werkself – “onze da fábrica”, traduzindo à letra – venceu os dois jogos, com Bellarabi a fazer o único golo em Lisboa, e mais dois na confirmação na Alemanha (3-1).
O verde, diz-se, é a cor da esperança, e essa manteve-se então até à última ronda da Liga NOS. O Sporting fez a sua parte, vencendo em Braga (0-4), mas o jejum do título nacional completaria mesmo 14 anos. Se bater recordes e completar séries de 13, 10 e 9 jogos sem perder não chegou, na próxima época, para ser campeão o Sporting terá que ser perfeito.
Treinador
De uma coisa ninguém se pode queixar: Jorge Jesus defende a sua dama até ao fim, nem que para isso lhe possam chamar convencido, arrogante, ou mesmo cego. No fundo, Jesus foi igual a si próprio. Enquanto a equipa conseguiu vitórias importantes, o técnico acumulou muitas frases fortes e uma enorme falta de cortesia para com o homem que lhe sucedeu no Benfica, mas assim que o Sporting ficou em desvantagem tudo se resumiu a uma bolha que rebentou e não libertou mais que ar quente. Pelo menos no campeonato, o Sporting de Jesus praticou bom futebol ao longo de toda a campanha, e nunca deixou de acreditar, mas o treinador teria que se contentar com a Supertaça na hora de conferir o saldo final da temporada.
Figuras
Slimani foi o segundo melhor marcador do campeonato, com 27 golos, o melhor pecúlio de um jogador do Sporting desde os 42 de Jardel em 2001/02, e superando os 25 de Liedson em 2004/05. O argelino não o teria conseguido sem o bom trabalho de Adrien Silva e João Mário no equilíbrio do meio-campo.
Ruiz e Gutiérrez contribuíram com 19 golos entre si, só no campeonato. Conhecido por não utilizar muitos jogadores jovens, Jorge Jesus concedeu algumas oportunidades a outros elementos principalmente nos encontros extra-campeonato, onde Matheus Pereira e Gelson Martins mostraram algo de positivo.
Contas finais
Campeonato: 2.º lugar, com 27v, 5e, 2d, 79gm, 21gs (melhor defesa), 86pts
Taça de Portugal: afastado na 5.º eliminatória (Braga, 4-3 a.p.)
Taça da Liga: eliminado na fase de grupos
Supertaça Cândido de Oliveira: vencedor (Benfica, 1-0)
Europa: eliminado da Liga dos Campeões no play-off; eliminado da Liga Europa nos 16-avos-de-final (Bayer Leverkusen 0-1c, 1-3f)
Para mais tarde recordar
25.10.2015, jornada 8 – vitória na Luz por 0-3. Primeira vitória aí desde 2005/06, e a mais folgada desde 1947/48;
06.01.2016, jornada 16 – vitória no Bonfim por 0-6; a maior desde 1959/60 (1-7);
13.02.2016, jornada 22 – Sporting consegue a sua vitória mais folgada nas visitas ao terreno do Nacional (0-4)
Para esquecer
26.08.2016, Liga dos Campeões: perde em Moscovo frente ao CSKA por 3-1 na segunda mão do play-off de acesso, e baixa à Liga Europa;
05.03.2016, 25.ª jornada – derrota caseira por 0-1 frente ao Benfica; o Sporting viu-se ultrapassado pelas águias e não mais voltaria ao comando da classificação.
Matematicamente arredado de tudo desde a jornada anterior, restava ao FC Porto defender a sua honra até final do campeonato. Mas nem isso os dragões conseguiram nesta recepção ao Sporting, numa partida em que ficou bem claro o motivo por que os leões ocupam o segundo lugar, bem na peugada do líder Benfica.
É impossível não achar que o Sporting venceu bem, na medida em que a equipa mostrou que tem fio de jogo e processos consolidados. O FC Porto, por seu turno, mais uma vez deixou transparecer que não sabe bem como segurar o touro pelos cornos, permitindo ao adversário jogar com a tranquilidade que os oponentes não tinham quando defrontavam versões passadas do FC Porto.
O cômputo geral da exibição portista é parco. Herrera acertou no poste aos sete minutos de jogo, Sérgio Oliveira encontrou a trave na cobrança de um livre directo (51’), e sobraram queixas de um lance em que Aboubakar parece ser derrubado por Coates em plena grande área (67’). De resto, a segunda parte do FC Porto foi tão fraca que não existem outros lances a registar. A hipotética grande penalidade por assinalar oferece menos dúvidas que o lance que foi de facto sancionado pelo árbitro Artur Soares Dias (35’). Numa jogada que também envolveu Coates, o juiz considerou que o central uruguaio do Sporting rasteirou Brahimi, mas o lance é bastante duvidoso.
Herrera não perdoou na conversão, lançando a ilusão de que os azuis-e-brancos conseguiriam pegar no jogo e possivelmente dar uma alegria aos cerca de 40 mil adeptos presentes. Seria apenas isso: uma ilusão. O FC Porto já corria atrás do prejuízo, por força do golo de Slimani (23’), que apareceu solto na zona fatal para desviar o cruzamento rasteiro de João Mário. O argelino voltaria a celebrar ao minuto 44, agora de cabeça, colocando a bola onde se exigia, a cruzamento de Ruiz.
Como se escreve acima, a segunda parte do FC Porto foi terrível. Mais que isso: em todo o jogo, não houve um único momento em que se sentisse que o FC Porto poderia inclinar a balança do jogo a seu favor. Ainda haveria um golpe final (85’), quando Bruno César, que entrara havia escassos quatro minutos, avançou sozinho sobre a baliza contrária e desferiu um remate que passaria por baixo do corpo de Casillas, deixando-o muito mal na fotografia. O guarda-redes espanhol terminará a época com uma colecção de fífias que não deixam morrer o debate em torno das suas capacidades.
A final da Taça de Portugal aproxima-se a passos largos. As três derrotas nos últimos cinco jogos, inclusive, deixam os adeptos e simpatizantes do FC Porto em grande sobressalto. Apesar de um ou outro jogo mais conseguido ao longo da temporada, este FC Porto é progressivamente uma equipa sem norte, sem rumo, e agora também com a motivação perto do zero. Por ter pegado na equipa já com o barco a meter muita água, José Peseiro não será o principal culpado da situação em que o FC Porto se encontra, mas é bem possível que a sucessão de derrotas venha a queimar os créditos que o técnico amealhou por ter verticalizado o futebol da equipa.
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