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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Ainda era final de tarde de sábado, mas o FC Porto era já o último dos três grandes a entrar em acção na jornada, sabedor, portanto, das linhas com que se cosia, as quais incluíam uma perda de pontos de um dos rivais. Se noutros tempos isso era sentido pela entourage portista como uma motivação extra, nos dias que correm esse desperdício alheio mais não faz que tornar insuportável a pressão. E o FC Porto voltou a ceder. O empate é penalizador para os azuis-e-brancos por múltiplas razões. Desde logo porque o FC Porto deitou janela fora a possibilidade de saltar para o comando da I Liga na próxima ronda, caso vença na recepção ao Benfica; mas também porque cede pontos no Bonfim pela primeira vez em 19 anos – aqui não perde há quase 34 – e porque não foi capaz de matar o jogo enquanto pôde, e diga-se que teve quase uma hora para o fazer.
Dominador no primeiro tempo, o FC Porto teve a sua melhor oportunidade ao minuto 25, num contra-ataque de dois para dois. Diogo Jota levou a bola pela direita e deu para Óliver, que o acompanhara pelo centro do terreno, mas o espanhol, mesmo estando sozinho junto à marca do penálti, preferiu dominar em vez de rematar de primeira. A fracção de segundos que perdeu foi decisiva. Óliver acabou por nem sequer finalizar da melhor maneira, mas o mal já estava feito e a saída de Bruno Varela neutralizou o perigo. André Silva e Diogo Jota foram várias vezes solicitados, mas não atinaram com a baliza, nem de cabeça, nem com os pés. A iniciativa portista justificava um golo, mas o intervalo chegava com o marcador a zero.
O jogo mudou de figura cerca dos 55 minutos, após um lance em que Diogo Jota cabeceou na pequena área para uma defesa milagrosa de Bruno Varela. O Vitória acordou, tornando-se eficaz no bloqueio às movimentações do FC Porto. Nuno Espírito Santo começou a mexer na equipa tirando o hoje inconsequente Herrera para meter Corona, mas terá errado na restante leitura que fez do jogo. O aumento de intensidade dos sadinos pedia a entrada de alguém que desse músculo ao ataque, mas o ponta-de-lança Depoitre acabaria por ficar no banco a ver Brahimi e Rúben Neves irem a jogo. Meter gente nas alas foi uma opção que funcionou em Bruges, mas alguém se esqueceu de informar o técnico de que os jogos não são todos iguais, pelo que aqui o resultado das mexidas foi nulo.
O rastilho da bomba chegou a estar aceso ao minuto 75, quando Fábio Pacheco desviou de cabeça um livre lateral para o fundo da baliza de Casillas, mas o lance foi bem invalidado por fora-de-jogo – o único assinalado em todo o encontro. O FC Porto escapou de boa, mas não o juiz João Pinheiro, que teve duas decisões particularmente duvidosas, primeiro num corte viril de Fábio Pacheco sobre Diogo Jota, depois num lance em que Otávio é penalizado com um cartão por simulação quando parece ter havido falta. Vários jogadores do FC Porto ficaram a reclamar com o árbitro após o apito final, enquanto Nuno se encaminhava sozinho para o balneário. No entanto, claro está, nenhuma reclamação desse tipo justifica o que quer que seja quando a equipa não converte as oportunidades de que dispõe.
Sem presença na área, e sem encontrar meios de marcar o golo que merecia, até porque o Vitória terminou a primeira parte sem remates à baliza e os 90 minutos sem oportunidades – em fora-de-jogo não conta –, o saldo final foi um nulo. O líder escapou um pouco mais. E o FC Porto, mesmo ainda segundo classificado, volta a ter que considerar demasiadas variáveis.
Alguém apagou ao luz ao Vitória quando começou a segunda volta do campeonato. Nono colocado após a 17.ª jornada, o Setúbal terminou em 15.º, um pontinho apenas acima da linha fatal, e só garantiu a manutenção na última jornada, com um empate sem golos diante do Paços de Ferreira no Bonfim. Foi o único jogo da segunda metade da temporada em que o Vitória não sofreu.
Os sadinos começaram a sua carreira com a torneira dos golos, tanto marcados, como sofridos, a jorrar indefinidamente. À 14.ª jornada o Setúbal tinha mesmo mais golos marcados que o Sporting (26 contra 24). Até que a equipa deixou de marcar golos, pelo menos em quantidade suficiente. O Setúbal completaria mesmo uma sequência de 21 jogos consecutivos a sofrer, entre as jornadas 13 e 33, e só por seis vezes manteve a folha limpa nos jogos da Liga NOS. Durante a primeira volta o Setúbal marcou 28 golos e sofreu 30; daí para a frente fez 12 golos, sofrendo 31.
A quebra de produtividade em frente à baliza contrária justifica o péssimo percurso sadino na segunda volta, na qual venceu apenas um jogo (!), frente à Académica (2-1) na 19.ª jornada, e empatou cinco, sendo a pior equipa desse período da época. Os 61 golos sofridos foram o terceiro pior registo defensivo neste campeonato.
O Vitória foi ainda a terceira equipa que somou menos pontos a jogar em casa (15, contra 14 do Moreirense e 13 do Tondela), e aquela que menos jogos venceu como visitado (apenas dois). O conjunto setubalense foi presa fácil para o Sporting, que venceu os dois encontros por um resultado combinado de 11-0, e fez apenas três pontos frente às equipas que ocuparam os primeiros seis lugares na tabela final.
Na sua segunda passagem pelos bancos da I Liga, depois de orientar o Feirense durante 25 jogos em 2011/12, o treinador Quim Machado parecia estar a caminho de ser o primeiro treinador que não se chama José Couceiro a levar o Setúbal a bom porto desde Carlos Carvalhal, em 2007/08, mas não conseguiu reerguer a equipa quando os triunfos desapareceram. O Vitória terminou mesmo a campanha na Liga com uma série de 15 jogos sem vencer, que incluiu cinco derrotas consecutivas numa altura nada conveniente (jornadas 29 a 33), em que a descida já se tinha tornado num cenário bem real à beira-Sado.
André Claro foi o melhor marcador da equipa no campeonato, com respeitáveis 12 golos, mas o treinador bem se pode queixar de ter perdido a sua outra arma ofensiva, o sul-coreano Hyun-Jun Suk, que fez nove golos antes de rumar ao FC Porto em Janeiro, onde apenas faria mais dois golos nas poucas oportunidades que teve (um no campeonato e outro na Taça de Portugal, prova na qual tinha já apontado dois tentos pelos sadinos). Arnold, Costinha e André Horta foram também nomes em foco no plantel do Setúbal, a par com Frederico Venâncio, este no sector mais recuado.
O terrível final de temporada tornou então o bom início numa nota de rodapé, ao mesmo tempo que sublinhou que não existem anos tranquilos no Vitória de Setúbal. O clube não termina duas épocas consecutivas acima do 10.º lugar desde 1988/89 e 1989/90, quando ficou em 5.º e 7.º lugares, respectivamente.
Contas finais
Campeonato: 15.º lugar, com 6v, 12e, 16d, 40gm, 61gs, 30pts
Taça de Portugal: eliminado nos oitavos-de-final (Rio Ave, 1-1 a.p., 1-3 g.p.)
Taça da Liga: afastado na 2.ª eliminatória (Moreirense, 1-0)
Para mais tarde recordar
24.08.2015, jornada 2 – ao vencer em Coimbra por 0-4, o Setúbal obteve a sua maior vitória fora de casa desde Setembro de 2002, quando venceu nos Barreiros por 0-5;
25.10.2015, jornada 8 – vence pela primeira vez em Moreira de Cónegos em jogos a contar para a I Liga;
05.12.2015, jornada 12 – consegue o seu maior triunfo de sempre em casa do Belenenses (0-3).
Para esquecer
06.01.2016, jornada 16 – ao perder por 0-6, sofre a pior derrota caseira com o Sporting desde 1959/60 (1-7);
31.01.2016, jornada 20 – derrotado por 2-1, o Setúbal continua sem vencer em Vila do Conde, incluindo todas as competições. Só na I Liga são já 20 visitas sem nunca ter trazido os três pontos;
19.03.2016, jornada 27 – ao perder por 0-1, o Setúbal continua sem ganhar em casa ao FC Porto desde 1982/83;
03.04.2016, jornada 28 – ao empatar a dois golos, o Vitória continua sem ganhar em casa do União em jogos da I Liga.
A análise a este jogo terá que ser curta, visto que não o acompanhei com a maior das atenções. Foi-me possível perceber que o grosso da acção se desenrolou no meio-campo dos sadinos e que o FC Porto teve um punhado de lances que com maior acerto poderiam ter proporcionado um resultado final mais dilatado, mas a oportunidade mais flagrante foi mesmo do Vitória, já perto do fim, num remate de Fábio Pacheco na pequena área, que Layún milagrosamente desviou pelo ar.
O FC Porto marcou por Sérgio Oliveira bem em cima do intervalo, e esse acabaria por ser o golo decisivo do encontro. O médio portista fez o seu primeiro golo nesta edição da Liga, segundo na época, num pontapé de ressaca após primeiro remate de Aboubakar, que a defensiva do Setúbal conseguiu repelir. Pelo meio Casillas tremeu num ou noutro lance, desta vez sem consequências, e a equipa mostrou as dificulades de articulação que tão frequentes têm sido esta temporada. Valeu o resultado, que permite ao FC Porto continuar a acossar Benfica e Sporting, à espreita de algum eventual deslize destes.
O FC Porto não terminava um jogo de campeonato sem sofrer golos desde 24 de Janeiro, quando derrotou o Marítimo por 1-0. Foi preciso esperar até ao oitavo jogo para ver Casillas sair com a folha limpa. Muito mais longa é a espera dos adeptos do Vitória, que não vêem o seu clube derrotar o FC Porto no Bonfim desde 1982/83. Já é lei não escrita do futebol. Incluindo todos os jogos, o Setúbal não bate o FC Porto desde 1988/89, quando venceu nas Antas por 0-1, e não pontua frente aos dragões desde a temporada 2005/06, altura em que foi ao Dragão empatar a zero. Desde então, este foi o 27.º triunfo consecutivo do FC Porto sobre o Vitória.
A perseguição portista aos grandes da capital continua nos próximos fascículos.
Não há engano. O FC Porto saltou mesmo da oitava para a décima jornada, em virtude do adiamento da partida com o União, que deveria ter-se disputado no pretérito fim-de-semana. Houve engano, sim, sobre o relvado. Ao contrário das últimas visitas ao Dragão, desta vez o Vitória não foi uma equipa pálida e encolhida, e procurou esticar o seu jogo o mais que pôde, na tentativa de chegar a terrenos mais avançados com a bola no pé.
O FC Porto, por seu turno, não se terá incomodado muito com isso, uma vez que pressionou melhor que em outros jogos, pese embora o ocasional rodriguinho, principalmente quando a bola chegava a Brahimi. O argelino deverá ter alergia ao jogo de equipa, pois prefere rodopiar sobre si uma e outra vez quando está acossado pelos defesas contrários e longe dos colegas, que, diga-se, pouco apoio lhe dão em termos de abertura de linhas de passe.
Porque estava então a pressionar melhor, o FC Porto acabou por conseguir criar mais lances de perigo do que na partida com o Braga, mas o golo tardou em aparecer. A resistência dos sadinos durou longos 70 minutos, altura em que Aboubakar finalmente marcou, depois de ter perdido diversos lances mais ou menos claros. Aos 84 minutos Layún coroou mais uma sólida exibição – mais em termos ofensivos que defensivos, pois praticamente não teve trabalho nesse sector – com um golo semelhante ao que apontara em Israel, num remate cruzado sem hipótese para o guarda-redes.
Ruben Neves deu mais uma mostra da sua qualidade na distribuição de jogo, mas cedeu o lugar a André André para a segunda parte. O suplente mexeu com o jogo, dando ao miolo portista a alta rotação que faltou até aí. Com o jogo ainda encravado, Lopetegui teve a rara decisão de colocar outro avançado junto a Aboubakar, fazendo entrar Osvaldo. Mesmo sem acção directa do italo-argentino, a manobra resultou, e o técnico logo fez voltar a equipa à forma anterior, trocando Brahimi por Imbula.
Não fosse o claro domínio dos azuis-e-brancos e poderia pensar-se que o triunfo foi tirado a ferros. O mais que o Vitória conseguiu foi dar ao técnico Quim Machado uma pílula para dourar sempre que precise de motivar as suas tropas. Mesmo tendo sido mais expansivo, o resultado foi nulo e assim continua em vigor a série negra do Setúbal, que não marca no Dragão para a I Liga desde 2006/07, e aí não pontua desde 2005/06. Já o FC Porto acaba por reagir bem quer à desvantagem pontual face ao líder, quer à agravante psicológica de ter um jogo em atraso, que o faz ver-se um pouco mais afastado da frente.
É o pão nosso de cada época nas margens do Sado. Futebol pobre, dependente de rasgos individuais, resultados fracos e as consequentes aflições da linha de água sempre presentes. O Vitória só ocupou lugares da primeira metade da classificação nas jornadas 2 e 3, e viveu séries sem vencer de quatro, seis e sete jogos. Apesar dos sobressaltos, os sadinos só estiveram abaixo da linha de água por uma vez, logo à primeira jornada.
Mas foi mais uma vez de coração nas mãos que se viveu a temporada. A Taça da Liga trouxe alguma luz, com o Setúbal a atingir as meias-finais, onde não seria capaz de travar o Benfica em casa deste. Na Taça de Portugal, o afastamento pelo secundário Oriental na 4.ª eliminatória em nada ajudou à causa do treinador Domingos Paciência. Quatro vitórias e dois empates na primeira volta da Liga era um registo tão parco quanto esclarecedor, e Domingos cedeu o comando a Bruno Ribeiro.
Homem da casa, é o mais recente membro da dinastia de bombeiros setubalense, que inclui Carlos Cardoso, Hélio Sousa e, fugazmente, Quim. Funcionando como candeia do plantel, Ribeiro não fez um registo muito diferente do seu antecessor (três vitórias e seis empates), mas a verdade é que foi o suficiente para que o Vitória celebrasse a manutenção na penúltima jornada, com um triunfo sobre o Arouca (2-1).
Um alívio para o Vitória. Mas mais uma vez ficou claro que faltam referências em campo que dêem outra cor ao futebol exibido. Fica a sensação de que a despromoção é um desastre à espera de acontecer no Bonfim.
Da mesma forma que Braga foi, até finais da década passada, um feudo do Benfica no norte do país, o Estádio do Bonfim é como que uma segunda casa para o FC Porto, já que a última derrota dos dragões em Setúbal data da época 1982/83. Do ponto de vista do Vitória, tarda em aparecer uma excepção que confirme esta regra não escrita.
Já para o FC Porto este triunfo significou o quebrar de um enguiço, no caso o de não vencer partidas a sul do Mondego desde a primeira jornada de 2013/14, quando conseguiu um 1-3… em Setúbal, pois claro! Tratava-se de um pequeno-grande enguiço. Pequeno porque são poucas as deslocações ao sul – tempos houve em que ainda havia Leiria, Alverca, Campomaiorense e Farense na I Liga – e grande porque inevitavelmente inclui Benfica e Sporting. E ainda falta visitar o Restelo, que confirmará se este jogo não terá sido mesmo a excepção de uma sequência que tem deixado o FC Porto em posições delicadas, tanto na época passada como nesta.
E quanto ao jogo? Sim, porque houve um jogo, e o vosso escriba não quer de maneira nenhuma disfarçar o facto de as hipóteses de o FC Porto se sagrar campeão, apesar de ainda válidas, desaparecerem aos poucos depois do empate na Luz. Talvez a equipa secretamente sinta isso e o resultado foi uma prestação um tanto ou quanto cinzenta, nomeadamente na segunda parte.
O FC Porto poderia ter resolvido o desafio antes do intervalo. A acção desenrolou-se maioritariamente junto à grande área sadina, mas a concentração de camisolas listadas de verde e branco dificultava aproximações à baliza de Lukas Raeder, levando a que o jogo por vezes se assemelhasse a uma partida de andebol. Apesar disso, o flanco esquerdo do ataque portista esteve particularmente activo, com Alex Sandro a aparecer repetidamente sozinho e com espaço, perante a frouxa marcação dos setubalenses nesse sector. O lateral pecou apenas no cruzamento, que poucas vezes encontrou o coração da área.
Seria Ricardo, o outro lateral, a cruzar para o primeiro golo do encontro, apontado por Brahimi (15’). Tendo aparecido cedo, a vantagem dava algum à-vontade ao FC Porto, que suportou sem grandes problemas o Vitória ligeiramente revigorado do segundo tempo. Ainda assim, não foi o suficiente para que o jogo se tornasse um pouco mais interessante, pelo que os minutos foram escoando até Jackson Martínez, já na compensação, fazer o 0-2. Um golo importante para o ponta-de-lança, que tem agora a concorrência do benfiquista Jonas pela Bola de Prata.
A crença de que o inesperado aconteça ao Benfica continua na próxima semana. O FC Porto recebe o Gil Vicente, e caso vença oferece automaticamente a manutenção aos sadinos e a descida aos galos.
Por muito debate que haja, por muitas justificações que se busquem, a Liga Portuguesa não é, e dificilmente será, uma das melhores do mundo. Desde logo porque não há imprevisibilidade, visto que 78 dos 80 campeonatos já disputados foram ganhos pelos mesmos três nomes. É verdade que ao longo dessas oito décadas houve diversas equipas valorosas entre os clubes não-grandes, mas o melhor que conseguiram foram vice-campeonatos, que as tornam pouco mais que efémeras. Equilibrar só nivelando a Liga por baixo.
Por isso, face ao estatuto dos clubes grandes e aos plantéis à sua disposição, em condições normais qualquer deles tem a obrigação de ganhar, no mínimo, por 4-0 a mais de metade dos participantes na I Liga. O Vitória de Setúbal é uma dessas equipas.
A postura com que os sadinos abordaram a partida, dando a iniciativa ao FC Porto e ficando à espera de um contra-ataque ou de uma bola parada algures no meio-campo adversário, nada trazia ao jogo e deixava os dragões na inerência de conseguirem um golo o quanto antes, sob pena de a ansiedade tomar conta da manobra da equipa.
O golo apareceria a meio do primeiro tempo, numa grande penalidade que talvez tenha sido mais forçada do que sofrida por Danilo, não obstante o setubalense Manu se ter posto a jeito ao meter os braços sobre o lateral brasileiro. Manu já não vai para novo, e devia saber melhor como os árbitros em Portugal analisam os lances.
Chamado à conversão, o hoje titular Quaresma não tremeu. Quatro minutos mais tarde Jackson Martínez assinava o seu 11.º golo na Liga, escrevendo antecipadamente o nome do FC Porto como vencedor. Assim foi. Uma vez que o Setúbal não foi capaz de reentrar no jogo – terá sequer entrado? –, este manteve-se frio como o tempo, e não deixa nada para memória futura, além dos golos.
Com Campaña em estreia no meio-campo defensivo, a ponta final ainda reservou dois golos. Um por Brahimi, na recarga a um remate de Quintero que o guarda-redes Ricardo Batista defendeu para a frente, e outro no último lance do encontro, em nova grande penalidade, agora batida por Danilo. A falta obrigou o árbitro a expulsar Ricardo Batista, que foi substituído entre os postes pelo extremo Zequinha.
O 4-0 final é muito mais fruto desse Setúbal inerte do que de um FC Porto implacável. Reflexo das ideias com que começa este texto. O Vitória, que não bate o FC Porto desde 1982/83, não consegue fazer melhor, e já não é de agora. Só se chamar José Couceiro.
GD ESTORIL-PRAIA
Não se pode dizer que a edição 2013/14 da divisão maior tenha tido uma equipa-revelação. Teve antes uma confirmação, e foi exactamente o Estoril, que igualou a sua melhor classificação de sempre, obtida há 66 anos.
Mesmo perdendo jogadores importantes como Steven Vitória, Jefferson, Licá e Carlos Eduardo, o técnico Marco Silva teve o mérito de não deixar a equipa seguir a indesejada tradição de tantos emblemas de menor dimensão que caem a pique depois de uma época de sonho.
Marco Silva teve tanto mérito como os jogadores que o conseguiram, pois o Estoril fez ainda melhor que na época passada. Com um impressionante pecúlio de quinze vitórias – metade dos jogos disputados, incluindo Dragão, Alvalade, Guimarães e Barreiros – os canarinhos podem orgulhar-se de ter perdido menos jogos que o FC Porto.
Com nomes como Vagner, Tiago Gomes, Evandro, Bruno Lopes, Carlitos ou Balboa em destaque, o Estoril apresentou um futebol sem autocarros, antes com entreajuda, calma, matreirice, propósito, e com os sectores bem ligados entre si, conforme tive oportunidade de testemunhar na visita ao Dragão.
Esta época assinalou ainda a estreia estorilista nas provas europeias, onde deixou uma imagem mais humilde, mas ainda assim marcando golos em oito dos dez jogos efectuados na Liga Europa, e arrancando um empate em casa do Sevilha, que venceria a competição.
Na Taça atingiu os quartos-de-final, perdendo em casa do FC Porto (2-1), numa partida em que talvez lhe tenha faltado um pouco mais de ambição. Para a história fica também o póquer de Bruno Lopes na goleada sobre o Leixões (1-5) nos oitavos-de-final.
É uma boa altura para ser adepto do Estoril, mas o futuro torna-se agora uma incógnita. Marco Silva anunciou o adeus no final da temporada, e foi apresentado como próximo treinador do Sporting.
O Estoril tem mais uma participação europeia no horizonte, na esperança de que não bata à porta a tal tradição da queda a pique.
CD NACIONAL
Manuel Machado tem de ter uma receita mágica que só utiliza no nevoeiro da Choupana. É a terceira vez que o treinador minhoto qualifica os alvinegros para a Taça UEFA/Liga Europa.
A época foi discreta, mas regular o suficiente para garantir com antecedência o posto europeu. Invicto diante de FC Porto e Sporting, o Nacional provou ser uma equipa sólida, mas é melhor não olhar para a Taça de Portugal, onde caiu à primeira tentativa, aos pés do Santa Maria (1-0), que milita no CNS.
Com Candeias a organizar jogo, e Diego Barcellos e Mário Rondón a converter oportunidades, o Nacional apontou 43 golos, a melhor marca a seguir aos três grandes, no ano em que conseguiu a sua maior vitória de sempre fora de portas (0-5 em Paços de Ferreira). Foi mesmo o triunfo mais gordo de todo o campeonato.
O guarda-redes Gottardi, e ainda Marçal e Claudemir cotaram-se como os pilares da defesa insular.
CS MARÍTIMO
O outro emblema madeirense realizou uma época de trás para a frente. Começou a meio gás, passou por uma série de cinco derrotas entre as jornadas 5 e 9, e terminou a primeira volta com 17 pontos.
Somou 24 durante a segunda metade do campeonato, e acabou por chegar ao sexto posto final, apesar de ter perdido o avançado Heldon para o Sporting.
O treinador Pedro Martins despede-se ao fim de quatro temporadas ao leme verde-rubro, que incluíram uma aceitável participação na Liga Europa em 2012/13.
VITÓRIA FC
O Vitória sadino conseguiu a sua melhor classificação em sete anos, ao terminar no sétimo posto. E se Manuel Machado tem a chave para o sucesso no Nacional, só José Couceiro sabe como fazer as coisas acontecer em Setúbal.
O treinador substituiu José Mota à passagem da jornada 8, quando o clube tinha míseros seis pontos, e logo fez do Setúbal um dos quatro clubes que conseguiram vencer na Amoreira. Foi a primeira de três vitórias em quatro jogos.
Seguiram-se quatro derrotas na viragem do campeonato, mas logo a equipa se reencontrou, somando 23 pontos e marcando 24 golos nos últimos 14 jogos.
Uma das revelações, Rúben Vezo, mudou-se em Janeiro para Valência, abrindo espaço a Rafael Martins e Ricardo Horta, que foram os jogadores em foco na formação sadina.
De saída está o próprio Couceiro, a caminho do Estoril. Será o regresso do Vitória de Setúbal à metade baixa da tabela?
A. ACADÉMICA DE COIMBRA
Os estudantes, por sua vez, obtiveram a melhor classificação em cinco anos, sob a liderança do efervescente Sérgio Conceição.
O jovem técnico de 39 anos é o quarto antigo jogador do FC Porto a orientar a Académica no mesmo espaço de tempo, e à falta tanto de nomes sonantes como de um goleador, montou uma equipa combativa, bem segura nas luvas de Ricardo, e na resistência de homens como Fernando Alexandre, Marinho ou Salvador Agra.
Os 25 golos marcados são o pior registo dos academistas desde 1986/87, mas o Paços de Ferreira não acreditará nestas linhas, já que sofreu oito golos nas duas partidas com a Académica.
O FC Porto começou a segunda volta tal como tinha iniciado a primeira: vencendo o Vitória de Setúbal, desta vez sem sofrer golos.
O jogo foi tranquilo, demasiado, até. A pouca capacidade dos setubalenses não obrigou o FC Porto a puxar dos galões para conseguir o resultado, e uma exibição séria foi o suficiente para os dragões somarem três pontos e se manterem no encalço dos grandes da capital.
Para os adeptos mais antigos do Vitória será um exercício doloroso comparar os plantéis dos últimos anos com aqueles que atingiram os pontos mais altos da ilustre história do clube. Entre os anos 60 e 70 o Setúbal venceu Taças de Portugal e realizou campanhas de sonho nas provas da UEFA, eliminando nomes como Fiorentina, Inter Milão ou Leeds United. Quarenta anos depois, e tomando o presente jogo como exemplo, o Vitória apenas fez um remate com perigo, numa tentativa de chapéu de Pedro Tiba – que já havia marcado no Dragão ao serviço do Limianos, na Taça – à qual Helton teve que se aplicar.
Perante a palidez do jogo do Setúbal, o FC Porto chegou ao 2-0 em pouco mais de meia hora, esvaziando de conteúdo os restantes longos minutos até final. Jackson Martínez voltou a picar o ponto, igualando Montero no topo da lista de marcadores, e Varela duplicou a vantagem num lance individual em que após interceptar um passe no meio-campo, ultrapassou dois defesas e desferiu um potente remate que só parou no fundo das redes.
A segunda parte foi, então, tranquila e permitiu dar minutos a Kelvin e descanso a Quaresma. O recente reforço portista trouxe alguma dinâmica às movimentações da equipa, mas ainda tem caminho a percorrer para chegar à melhor forma.
Para ninguém ir triste para casa, aos 87 minutos Carlos Eduardo marcou um soberbo golo, quase de moinho, que deixou o resultado na conta certa para aquilo que se passou em campo.
Com tudo na mesma na frente da classificação do campeonato, segue-se a conclusão da terceira fase da Taça da Liga.
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