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Olhando para o jogo de forma simplista, é possível dizer que o Borussia Dortmund foi feliz nesta segunda mão. Em dois lances claros frente à baliza, os alemães conseguiram um golo e uma bola no poste, esta já no estertor do tempo regulamentar. Incluindo na equação as muitas variáveis que estavam em jogo, o Borussia não terá vencido apenas por felicidade, já que soube jogar com a vantagem que trazia de casa e controlou o jogo praticamente como quis.
Do outro lado, o FC Porto não terá tido tanta identidade quanto seria necessário para reverter a eliminatória. Em parte porque José Peseiro apostou num onze, no mínimo, alternativo, com Danilo Pereira, Ruben Neves e Evandro no meio-campo, Marega e Varela nas alas, mas também porque as coisas continuam a não acontecer, por mais que a equipa se esforce. O empenho, de facto, existiu, mas os passes nem sempre saíam nas melhores condições, e quando saíam a bola não era dominada a preceito. Além disso, os jogadores teimam em escolher as piores alturas para escorregar.
E para provar que o que pode correr mal, corre mesmo mal, na primeira ida à área (23’) o Borussia marcou, com uma quota importante de fortuna. Reus rematou forte para uma defesa extraordinária de Casillas, mas Aubameyang – em fora-de-jogo que passou despercebido, até ao árbitro assistente – estava no local certo para uma recarga que bateu na trave e caiu no colo do guarda-redes portista, que se estirava pela segunda vez e até acabou por ajudar a introduzir a bola na baliza.
Mesmo esforçados, os dragões não se conseguiram libertar da teia montada pelo Dortmund. A pressão do conjunto alemão não dava tempo nem espaço para os da casa pensar, e quando tinha a bola a preferência era conservá-la, através de trocas que por vezes se assemelharam a um meiinho. Nas poucas vezes em que o FC Porto colocou a defensiva adversária em sentido, a sorte não esteve consigo. Aos 40 minutos Evandro trabalhou bem na área mas o seu remate cruzado saiu um pouco ao lado do poste; dois minutos mais tarde Varela cabeceou para uma defesa espantosa de Bürki. Não havia meio de violar as redes do Dortmund.
Peseiro só começou a mexer na equipa aos 56 minutos, trocando o desinspirado Aboubakar por Hyun-Jun Suk, numa mexida que trouxe um ânimo passageiro à equipa. Seria a última vez que os azuis-e-brancos teriam uma sucessão de lances junto ao último reduto adversário. Mais tarde entrariam Brahimi para o lugar do indistinto Varela, e Herrera renderia Evandro. Já tinham passado demasiados minutos sem que houvesse a mínima sensação de que a equipa conseguiria marcar um golo que fosse.
Numa derradeira amostra de que a infelicidade do FC Porto neste jogo era mesmo congénita, ao minuto 87 Suk embrulhou-se em si próprio e caiu sobre a bola, que caprichosamente sobrou para Brahimi; mesmo solto, o argelino não fez melhor que acertar em cheio na trave. Numa última nota sobre o encontro, mais uma vez ficou patente que José Ángel é muito limitado e que Marega não estará na sua melhor forma.
O resultado final confirmou uma saída portista da Europa por uma porta bastante mais pequena do que a dada altura, ainda na Liga dos Campeões, se previa. Apesar do agregado de 3-0, e mesmo tendo o FC Porto sido temerário na primeira mão, a diferença entre as equipas não será assim tão grande, pelo que a chave da eliminatória foi o estado de alma de cada um dos plantéis. É até tentador pensar que o FC Porto de Vítor Pereira teria conseguido ultrapassar esta barreira.
A tarefa do FC Porto em Dortmund afigurava-se mais difícil que na Luz, por força das baixas que massacraram os sectores recuados. Entre lesões e castigos, Maxi Pereira, Marcano e Danilo Pereira estavam indisponíveis, enquanto Chidozie não foi inscrito na UEFA. Maicon decerto seria opção, mas já não mora no Dragão, uma vez que pagou o erro decisivo no jogo com o Arouca com um empréstimo ao São Paulo.
José Peseiro foi então forçado a puxar pela cabeça para montar o onze e a solução encontrada foi colocar José Ángel na esquerda, Layún a central e, imagine-se, Varela na posição habitual do mexicano na direita. Seria uma receita para o desastre, mas tal não se verificou, por diversas razões.
Desde logo porque o Borussia se adiantou logo aos seis minutos de jogo, numa recarga de Piszczek ao seu próprio remate, que Casillas não conseguira deter; mas também porque talvez o Borussia tenha demonstrado demasiado respeito por um FC Porto de bloco baixo, que deixava Aboubakar como uma ilha remota no meio-campo contrário. Por seu turno, também o FC Porto respeitava o Borussia, já que não terá querido abrir o mínimo espaço junto à sua baliza e simplesmente não se esticou o suficente no relvado para chegar ao ataque. Em muitos momentos nem sequer deu para passar a linha divisória.
Seriam necessárias tantas cautelas? A fama do Dortmund provinha mais da velocidade de Aubameyang e da produtividade ofensiva, do que propriamente de um plantel assustador. Não é que os schwarzgelben não tenham um plantel de qualidade, mas não são o Bayern. E o resultado de tanto respeito mútuo foi um jogo que certamente fez os neutros adormecer. O FC Porto estava então fechado na sua gaiola, e quando dela saía, sucumbia sempre à bem aplicada pressão do conjunto alemão. O Dortmund teve quase sempre a bola, mas não carregou incessantemente sobre a área adversária, preferindo um futebol paciente.
Só assim se explica que o resultado se tenha mantido tanto tempo em 1-0. Foi preciso esperar pelo minuto 71 para um ataque mais veloz do Borussia resultar num remate de Reus, que Martins Indi desviou, traindo Casillas. Só aí o FC Porto se soltou um pouco, já com André André em campo, entrando depois Hyun-Jun Suk, que teve a única oportunidade dos azuis-e-brancos, ao minuto 87. Evandro conseguiu desmarcar-se e o guarda-redes Bürki saiu-se, provocando uma carambola que sobrou para Suk, que já em desequilíbrio acabou por rematar frouxo. Antes, os da casa tiveram lances para fechar a eliminatória, incluindo um cabeceamento de Mkhitaryan ao poste, mas o 2-0 era mesmo final.
A segunda mão pode ter várias leituras. Pelo que se viu em campo, e partindo do princípio de que já terá um onze mais composto, não é impossível o FC Porto reequilibrar a eliminatória. Para isso os dragões terão que se abrir mais, o que poderá fazer com que o Dortmund encontre mais espaço para aproveitar. Por outro lado, considerando que não precisa de arriscar muito, como lidará o Borussia com um FC Porto mais ofensivo?
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