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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
Quase todos os grandes momentos internacionais do FC Porto incluíram uma boa dose de dramatismo. Este não foi excepção. Aliás, aqui a carga dramática foi de tal ordem, que é impossível fugir ao óbvio e escolher outro adjectivo que não "épico". Teremos assistido, portanto, à encenação de mais um canto d'Os Portíadas. Os primeiros dez minutos do encontro deram um cheirinho do que viria mais lá para à frente, com uma troca de boas oportunidades junto a cada uma das balizas, mas depressa o FC Porto tomou o controlo das operações, gerindo a posse de bola como queria e tomando o seu tempo antes de procurar incomodar a defensiva bianconera. O minuto 19 trouxe aquilo que todos anteviam ser imprescindível para os dragões: o golo fora. No caso, através de uma grande penalidade, sofrida por Taremi e convertida por Sérgio Oliveira. Nem isso espicaçou a Juventus. Por momentos, chegou até a parecer que era o FC Porto quem jogava em casa, tal era o à-vontade com que os dragões iam manobrando. Na segunda parte a música mudou, e de que maneira. A Juventus reapareceu em modo allegro spiritoso e o FC Porto começou a ver o chão fugir-lhe debaixo dos pés. Chiesa igualou com um remate colocado, em arco (49'), e logo a seguir Taremi era expulso por acumulação (54'), de forma um tanto ou quanto infeliz. Aparentemente, o iraniano do FC Porto tentou fazer um chapéu ao mesmo tempo que o lance era interrompido por fora-de-jogo de outro interveniente. A decisão foi dura para o FC Porto, mas o experiente juiz holandês Björn Kuipers entendeu tratar-se de um protesto e decidiu de acordo. A Juve ainda mais animada ficou, e Pepe foi imediatamente chamado a intervir, com um corte salvador, quando o mesmo Chiesa já tinha contornado Marchesín e só tinha pela frente uma baliza deserta. Pepe atirou-se, literalmente, para a frente dos pés de Chiesa, com a bola a bater ainda no poste antes de sair para canto. Não seria a única vez que o FC Porto ficava de coração nas mãos, pois ainda haveria uma bola na trave (90'+3'), num bom remate em arco de Cuadrado. Muito antes desse lance, contudo, já estavam bem à vista as fragilidades físicas de uma equipa que chegava a este encontro já muito espremida pela sucessão frenética de jogos desta época. Valia Marchesín, que mais uma vez ia coleccionando defesas, excepto em novo lance de Chiesa (63'), que ao segundo poste bisou com um cabeceamento. A Juventus continuou a pressionar o FC Porto, mas não voltaria a haver golos durante o tempo regulamentar. Face às substituições já efectuadas, ao desgaste das duas equipas e a tudo o que estava em cima da mesa, o jogo partido que caracterizou o prolongamento foi impróprio para cardíacos. Do lado do FC Porto, era Luis Díaz quem mais agitava o jogo, ligando o turbo e avançando firme sobre o último reduto contrário sempre que tinha a bola; a melhor oportunidade, contudo, foi de Marega (98'), mas o seu cabeceamento frontal saiu fácil para Szczesny. Por esta altura, Cuadrado, que fez inúmeros cruzamentos ao longo dos 120 minutos, já não sabia para onde se virar sempre que Díaz ou Corona lhe apareciam pela frente. Apesar desse jogo partido, seria só de bola parada que o FC Porto marcaria o golo fulcral da eliminatória (115'), novamente por Sérgio Oliveira, agora na cobrança de um livre directo, com a bola a passar por baixo da barreira. Szczesny ainda tocou na bola, mas ela entrou bem juntinho ao seu ângulo inferior direito. A Juventus respondeu de imediato (117'), com Rabiot, de cabeça, a desviar um canto, mantendo assim o ponteiro do dramatismo no vermelho até ao fim. Afinal de contas, mais um golo italiano tiraria o FC Porto da fase seguinte. Assim não seria, não só pela acção de Marchesín e da miríade de homens defensivos em campo pelos dragões - Manafá, Mbemba, Sarr, Diogo Leite, Grujic, Loum -, mas também porque Pepe, mesmo feito em pedaços e mais parecido com um jogador de râguebi do que com um futebolista, ainda arranjou forma de autografar a sua monstruosa exibição com um último alívio, de bicicleta (120'+). O jogo foi tão rico que é impossível recordar tudo, ou escrever sem entrar nos domínios da literatura de fôlego. Só faltou mesmo um desempate por grandes penalidades para que o enfarte fosse inevitável. E ainda bem que não houve, porque assim continuamos vivos para ver o que vem a seguir.
Contando apenas quatro vitórias nos últimos dez jogos, o FC Porto chegava a este encontro extremamente necessitado de um triunfo. Seguro, de preferência. Esse triunfo começou a desenhar-se cedo, mercê de um golo de Uribe (7'), que disparou forte, em zona frontal, para resolver um lance repleto de ressaltos, mas demorou para que o FC Porto pudesse respirar um pouco melhor. É que do outro lado estava um Gil Vicente que, embora praticamente não criasse perigo, estudou bem a master class defensiva ministrada pelo Braga no encontro anterior do FC Porto. Não era fácil descobrir por onde entrar na área gilista. Marega teve uma abertura, solicitado por um passe visionário de Nanu, mas não conseguiu superar o guarda-redes Denis (22'). Sérgio Oliveira tentou de longe, mas muito por cima (28'), e Otávio rematou bem, mas frouxo, permitindo nova defesa a Denis (45'). As intenções eram boas, mas ia faltando eficácia. Ao intervalo, Sérgio Conceição era forçado a trocar Pepe e Corona. Enquanto o central acusava o esforço de uma época sem paragens, o mexicano tinha que sair devido a um choque de cabeças com o gilista Rodrigo (41'), que não o deixou bem. O segundo tento portista surgiria à hora de jogo, de fora da área, por Sérgio Oliveira, que encheu o pé e cá vai disto. Denis ainda tocou na bola, mas o destino era mesmo o ângulo superior direito da sua baliza. O jogo não teve muitos mais motivos de interesse até final, mas ainda houve lugar a um festejo-fantasma de Evanilson (90'), que estava fora-de-jogo por poucos centímetros. O golo, cheio de ressaltos e trambolhões, não seria um golo bonito. E o 0-3 seria exagerado para o que foi o jogo. Para a história ficam três pontos que funcionam como cuidados paliativos para o FC Porto, num momento mais delicado da temporada.
Dizem que pela boca morre o peixe. O que estaria, então, a pensar Sérgio Conceição enquanto via o Braga fazer o 0-3 ainda antes da meia hora, depois de no final da primeira mão ter, alegadamente, dito a Carlos Carvalhal que "onze contra onze levavas cinco ou seis"? Gritante nem era o resultado; era antes a naturalidade com que tudo ia acontecendo. O avançado bracarense Abel Ruiz estava particularmente endiabrado, assinando o 0-1 com um remate que ressaltou em Mbemba e traiu Diogo Costa (9'), prosseguindo a sua caça ao dragão com novo golo (14'), numa bela finalização após recuperação alta e boa jogada colectiva do ataque arsenalista. Até deu para Ricardo Horta, já dentro da área, assistir o colega de calcanhar. Ruiz não estava satisfeito e, em nova recuperação de bola, irrompeu área adentro com surpreendente facilidade para um remate à trave (19'). O hat-trick ficou ali bem perto, mas seria Lucas Piazón a apontar o terceiro golo arsenalista (28'), na conversão irrepreensível de um livre directo. Nem um Lev Yashin na sua melhor forma teria conseguido defender. A falta que originou o livre é que aparentemente não existiu... Ainda com 0-2, Sérgio Conceição mexera na equipa, trocando Mbemba e Grujic por Zaidu e Taremi (23'), mas era como se houvesse uma ferida que não parava de jorrar sangue. A hemorragia só começou a estancar com o golo de Otávio (30'), que, desmarcado por Corona, dominou a bola com o ombro antes de rematar sem deixar a bola cair. Um golaço. Pouco depois (34'), a expulsão de Borja, por derrubar Marega quando este se isolava rumo à baliza, parou de vez com o sangramento. O lance foi claro, pelo que não se entende que o juiz Artur Soares Dias tenha precisado de o rever para corrigir a cor do cartão exibido. O próprio Braga também teve que fazer uma revisão, retirando Galeno para recompor a defesa com Bruno Rodrigues (37'), ao mesmo tempo que Carvalhal dava ordens à equipa para cerrar fileiras. Dito em futebolês, o Braga fechou a loja. O FC Porto não tinha outra hipótese senão tentar, tentar e voltar a tentar obter os golos que lhe permitissem sair do fundo do poço. E foi isso que aconteceu até final do encontro; uma avalanche ofensiva pintada de azul-e-branco (28 remates contra 7 do Braga), que, no entanto, só renderia mais um golo (74'), num remate de ressaca de Marega. Bem fechado junto à sua área, o Braga obrigava os dragões a circular a bola por todos os sítios e mais algum, mas sem nunca lhes conceder o espaço para chegar às melhores posições de remate. Tendo Matheus defendido bem uma ou outra investida mais prometedora, o sucesso do Braga na sua estratégia de contenção foi total. E assim, os guerreiros avançam para a sua terceira final da Taça em sete épocas.
Nos últimos anos, FC Porto e Sporting têm-se cruzado tantas vezes que cada um já conhece o outro melhor que a si próprio. Sendo difícil um conjunto surpreender o outro, a batalha pode assumir um enfoque táctico tão pronunciado que o golo se transforma num D. Sebastião, como foi o caso aqui. Envoltas no nevoeiro, nem as equipas se conseguiram desencaixar uma da outra, nem os acasos do jogo fizeram a sua obra, pelo que o apito final chegaria com o marcador por estrear. Nos poucos momentos de perigo que houve a registar, Taremi, do lado do FC Porto, não trouxe a mira calibrada e desperdiçou um par de lances, enquanto Matheus Nunes disparou por cima na única oportunidade criada pelo Sporting em todo o jogo (73'). O médio correu uns bons 40 metros em alta velocidade antes de rematar. Já Taremi, no seu lance mais flagrante, desviou um bom cruzamento contra o próprio pé de apoio como só os craques dos jogos de amigos sabem fazer (57'). No cômputo geral, as oportunidades foram tão poucas que nem houve espaço para os guarda-redes brilharem. Face à posição privilegiada em que chegou a este jogo, o Sporting optou por não correr riscos desnecessários e adoptou uma postura expectante, convidando o FC Porto a ter bola e tentar furar a melhor defesa do campeonato até agora. No entanto, por muito solícitos que fossem, os dragões não encontraram forma de dar um pontapé na crise de resultados que têm atravessado neste mês de Fevereiro. Tendo o seu homem mais perigoso em noite não, e não aparecendo o herói improvável que os jogos grandes às vezes escondem, o FC Porto chegaria ao final do jogo à mercê do resultado de outros encontros da jornada para saber que contas fazer. Contas essas que, em qualquer circunstância, não parecem favoráveis aos dragões. Mesmo que todos saibamos que o futebol é uma caixinha de surpresas, este clássico era como que a última saída para o título na estrada que o FC Porto percorre. E o FC Porto não a tomou, mantendo os dez pontos de distância para o topo e ficando ainda mais dependente de demasiadas coisas.
Como separar duas equipas que, conferido o essencial da acção em campo, fizeram o mesmo? Com um lance fortuito, pois. No caso, uma grande penalidade por carga de Rúben Macedo sobre Francisco Conceição. Compensação é mesmo o conceito a reter. Não num sentido pejorativo, e não só porque o lance ocorreu já em tempo de descontos; tendo o Marítimo, ao longo de praticamente todo o jogo, abusado de entradas durinhas que nem sempre foram punidas, acabou por funcionar a lei das compensações, num lance que, no fundo, não deixa de ser mais uma grande penalidade de liga portuguesa. Desta vez, saborosa para o FC Porto, que assim pôde apanhar o voo de regresso aliviado por não ter visto a distância para o topo aumentar. É que jogar em casa do Marítimo tem o condão de deixar os dragões sem saber bem o que fazer. Já se viu muito pior, mas o FC Porto mais uma vez sentiu dificuldades em contrariar o futebol truculento da equipa da casa. Talvez seja por haver muitas cadeiras verdes e vermelhas à vista. Do lado do Marítimo também já se viu pior, mas os leões do Funchal voltaram a basear o seu jogo num bloco recuado e na busca da falta fácil. O FC Porto marcou primeiro (14'), por Uribe, que aproveitou uma sobra após alguns ressaltos para atirar a contar, por entre a densidade populacional da área naquele momento. Pouco depois, marcava o Marítimo (18'), de canto, com o lateral Léo Andrade, ao segundo poste, a desviar para a baliza uma bola que passeou de um lado ao outro da área. Num ápice, o jogo voltava à igualdade que o Marítimo queria, pelo menos a julgar pelo que se ia passando em campo. Haveria mais duas oportunidades claras, uma para cada lado. Em ambas as situações foram os guarda-redes a brilhar. Primeiro Amir (34'), com uma bela estirada para deter um cabeceamento colocado de Mbemba, seguido de recarga de Taremi; depois Marchesín (84'), cujos reflexos tiraram do caminho da baliza um cabeceamento de Zainadine ao poste, e também a segunda tentativa de Léo Andrade. Tudo somado, chegava-se à compensação com pouco mais que a posse de bola a separar as duas equipas. Mas, diz essa lei não escrita, quem joga para empatar, perde. Nem sempre acontece, claro. Bem ou mal, infelizmente para o Marítimo, desta vez aconteceu, e Otávio converteria essa salvadora grande penalidade na recta final (90'+3'). Pensando bem, talvez não tenha sido só o FC Porto a regressar aliviado ao Continente. Também as orelhas do árbitro Vítor Ferreira agradeceram, pois o juiz não teve propriamente uma actuação para recordar.
Alguns jogos terminam com resultados que só são surpresa para quem não assistiu. Neste, é ao contrário; surpreendido, só quem viu a Juventus não encontrar forma de escapar à teia que o FC Porto lhe montou. Marcar cedo, neste caso, ajudou. Mal se tinha completado o primeiro minuto e já Taremi festejava, aproveitando um atraso de Bentancur a Szczesny. O avançado do FC Porto fez tão bem a pressão, que o guarda-redes não teve tempo para se livrar da bola. Nesse lance, a Juventus tentava jogar em largura, incluindo com o guarda-redes, para isso trazendo a bola para demasiado perto da sua baliza. Não correu bem, assim como outros momentos do jogo não correram bem aos campeões italianos. Desde a lesão de Chiellini (35'), que cedeu o lugar a Demiral, até ao segundo golo do FC Porto (46'), tão rápido após o pontapé de saída quanto no primeiro tempo. Uribe, Corona e Manafá construíram a jogada pela direita, antes de Marega assinar o golo, colocando a bola rasteira, ao poste mais próximo. Sérgio Oliveira tentou um remate em óptima posição (52'), mas a bola não subiu o suficiente e Szczesny agarrou. A Juventus continuava sem mostrar mais que um ou outro remate de longe, sem perigo para Marchesín. Tal era resultado directo da acção de um FC Porto que obrigou a vecchia signora a jogar mal, numa exibição que ia sendo um mimo para os entusiastas do pressing. A Juventus não tinha espaço para jogar, a bola chegava poucas vezes em condições ao ataque e, com isso, os seus jogadores mais influentes pouco podiam fazer. Confiante, e com um resultado interessante na mão, o FC Porto ia realizando um jogo que fazia os seus adeptos esquecerem o quotidiano do campeonato. Tanto, que Sérgio Conceição poucas mexidas fez no onze inical, trocando numa primeira fase apenas Otávio por Luis Díaz (57') e Marega por Grujic (66'). Ainda assim, a Juventus marcaria mesmo um golo que, em teoria, lhe reduz em um terço a carga de trabalhos para a segunda mão. Esquecido ao segundo poste, na direita, Chiesa finalizou bem uma assistência de Rabiot. Face ao que foi o jogo, não é heresia escrever que a Juventus fez pouco para merecer o golo que leva. Já o FC Porto ganha bem, mas vai para Turim com esse enorme inconveniente no resultado final. Sonhar, como sempre, é que não custa.
O calendário do futebol todos os anos faz das suas, ao encadear jogos relevantes. Desta vez, coube ao FC Porto ter um dérbi antes do regresso da Liga dos Campeões. Motivação ao máximo? Nem por isso, a avaliar pela primeira parte do jogo. A cabeça do FC Porto estava mais que na lua. Estava nas estrelas, mesmo; as da Champions. Só isso poderá explicar que ao intervalo a sensação fosse a de que o 0-2 no marcador era justíssimo. Logo ao segundo minuto, Marchesín teve que se aplicar para parar um desvio de Elis em zona frontal. Dois minutos mais tarde, na sequência de um canto que talvez não fosse, Porozo elevou-se ao primeiro poste e desviou para o golo. Elis ameaçou novamente ao aparecer solto para novo desvio e nova defesa de Marchesín (32'), e aos 45'+1' marcou mesmo, agora a cruzamento de Ricardo Mangas. O lance nasce de uma boa tabelinha entre Mangas e Angel Gomes no flanco esquerdo, perante três adversários, que ficaram bastante mal na fotografia. Do lado do FC Porto não havia nenhum lance de perigo a registar. O único alívio da equipa seria mesmo a ausência de público. Imagine-se o tamanho da vaia, caso existisse uma plateia agastada a priori pelos empates e incidências das três partidas anteriores... Sérgio Conceição fez uma cirurgia ao intervalo, removendo Diogo Leite, Fábio Vieira e João Mário para colocar Zaidu, Grujic e Otávio, e finalmente a equipa mostrou qualquer coisa. Mas não terá sido apenas pelas substituições que o FC Porto ligou o motor. Terá sido também porque, face à conjugação dos muitos pontos desperdiçados nas jornadas recentes, com o percurso de um líder da classificação que não tem fraquejado, já não é sustentável perder mais pontos. Taremi relançaria o jogo relativamente cedo na segunda parte (54'), mas o FC Porto, embora mais empreendedor, não colocava verdadeiramente o Boavista em apuros. Seria uma grande penalidade, por derrube de Devenish a Evanilson, a proporcionar aos dragões a oportunidade de empatar. Sérgio Oliveira não enjeitou (82'). Já estava em campo Francisco Conceição (entrou aos 77'), filho de Sérgio, que trouxe uma agitação diferente ao jogo sempre que teve a bola. Pouco depois, numa jogada em que dois axadrezados fecharam o caminho a Conceição (86'), Sérgio Oliveira teve nova oportunidade da marca de 11 metros. O médio escolheu atirar para o outro lado, mas a cobrança saiu ao poste. Sobre o final do tempo regulamentar (89'), Francisco Conceição furou área adentro, pela direita, e entregou a Evanilson, que desviou a contar. Entre festejos efusivos e alguma comoção, o lance ia ao vídeo-árbitro. Talvez porque Evanilson chutou o pé de Devenish ao mesmo tempo que chutou a bola? Não. Ao subir após o remate, a bola terá ressaltado no braço do homem do FC Porto. As imagens não são particularmente esclarecedoras. O golo é que não contou, mesmo. Foi só mais um festejo-fantasma proporcionado por este bravo novo futebol do século XXI. No final da partida, a certeza é só uma: o Boavista consegue um feito, ao sair de casa do seu rival citadino com um ponto. Não é assim tão vulgar.
Se as incidências do encontro anterior deixaram o FC Porto com os nervos em franja, que dizer da reedição, três dias mais tarde, agora a contar para a Taça de Portugal? De uma expulsão fizeram-se duas, a arbitragem de critério confuso repetiu-se, e os dragões voltaram a não conseguir segurar o resultado. Desta vez, o FC Porto saltou cedo para o comando (10'), com Taremi a aproveitar uma saída de Matheus para lhe fazer um chapéu. O guarda-redes dos bracarenses quis cortar a bola de cabeça, mas não o fez para o melhor sítio. Talvez tenha estado a ver vídeos de Manuel Neuer. O jogo em si não foi muito diferente do anterior. O Braga foi novamente competente, mas não conseguia chegar ao golo, pelo que se podia dizer que o FC Porto ia controlando os acontecimentos, com maior ou menor dificuldade. O pomo da discórdia surgiu ao minuto 65. Luis Díaz transporta a bola pela esquerda, entra na área e remata. Ao mesmo tempo, o defesa arsenalista David Carmo intrometia-se para cortar, metendo a perna onde Díaz concluía a passada. De forma tão inadvertida quanto inevitável, Díaz calca a perna de Carmo e provoca-lhe uma fractura. Infeliz é a palavra-chave do lance. Após revisão das imagens, o árbitro Luís Godinho entendeu que não havia lugar a quaisquer atenuantes e expulsou o médio do FC Porto. Tendo em conta que não é costume os árbitros darem muitas justificações, o facto de Godinho ter fundamentado a sua decisão tanto a Luis Díaz, como junto de Sérgio Conceição, apenas vem sublinhar o carácter fortuito do lance. Escaldado por incidências que já vinham do penúltimo jogo, o FC Porto pouco se interessou pela justificação e teve dificuldades em acalmar-se. Mais do que na partida do campeonato, aqui os dragões recuaram a sério, na tentativa de levar para a segunda mão esse solitário golo de vantagem. O Braga, mais uma vez, aproveitou a deixa da superioridade numérica para tentar igualar. Face à demorada assistência a David Carmo, houve 12 minutos de compensação. Tempo suficiente para Uribe também ser expulso, na sequência de uma disputa de bola mais acesa com André Horta, que depois o empurra. Ricardo Esgaio juntou-se à festa dando uma peitada em Uribe, que respondeu com um encosto de cabeça. Também aqui o FC Porto ficou com razões de queixa, já que Uribe teve uma punição mais grave que a dos outros intervenientes. Aqui, Luís Godinho já não sentiu necessidade de explicar porque é que entendeu que numa altercação envolvendo elementos das duas equipas - é raro haver um desaguisado entre colegas. Pepe? Loum? -, mostrou cartões de cores diferentes quando os jogadores abusaram em doses iguais. Sobre o final da compensação (90'+12') o Braga conseguiria o golo da igualdade, por Fransérgio, que estava no lugar certo para capitalizar o ressalto de um cabeceamento de Sporar ao poste. Tal como no encontro do campeonato, os guerreiros salvaguardaram o empate nos segundos finais. O FC Porto não se conformou, ao ponto de ter sido o próprio Pinto da Costa a assumir a reacção do clube, na sala de imprensa. Se a memória durar até lá, a segunda mão promete.
A fechar, uma nota para o caricato momento em que a ambulância que transportava David Carmo não conseguia arrancar porque as rodas patinavam na relva molhada. Os jogadores tiveram que ajudar empurrando o veículo, numa imagem que dificilmente voltará a ser vista num estádio perto de si.
A fé move-se por caminhos misteriosos, dizem. Pois o futebol também. Pelo menos, a avaliar por este encontro, que se desenrolava de forma predominantemente tranquila, até tomar um caminho diferente algures na segunda parte. Até aí, mesmo perante um Braga competente, o FC Porto ia controlando o jogo, escudado, a partir do minuto 36, também pela vantagem no marcador, mercê do golo de Sérgio Oliveira, na conversão de um castigo máximo por agarrão de Tormena a Marega. O segundo golo portista apareceria por intermédio de Taremi (54'), que finalizou bem após boa jogada conduzida por Corona. Ao minuto 60 Corona era expulso por acumulação de cartões amarelos. Nenhum dos cartões mostrados ao mexicano do FC Porto foi consensual. Em ambos os lances, trataram-se de disputas de bola pouco meigas de parte a parte - na primeira delas (4'), o braguista Raul Silva calca mesmo Corona -, pelo que faltam explicações para que a punição disciplinar tenha ocorrido apenas sobre um dos intervenientes nesses lances. Ainda para mais, quando o juiz Artur Soares Dias se mostrava rigoroso, exibindo cartões desde cedo. Certo é que a expulsão mexeu mesmo com o jogo. O FC Porto recuou um pouco e o Braga, naturalmente, ganhou um fôlego extra para tentar relançar a partida. Enquanto Carlos Carvalhal refrescou o ataque arsenalista com as entradas de Sporar (59', segundos antes da expulsão), Gaitán e Piazón (ambos 68'), Sérgio Conceição trocou Luis Díaz por Zaidu (75') e Taremi por João Mário (84'). Inicialmente, Zaidu andou bem avançado no terreno, procurando impedir a saída de bola do Braga, mas depressa o lateral se juntou em efectivo ao bloco defensivo, convidando os guerreiros ao proverbial último assomo. O qual teve grande sucesso. Fransérgio reduziria a desvantagem, a cruzamento de Piazón (87'), e num momento em que o FC Porto já só existia junto à sua baliza, Gaitán apareceu na pequena área a encostar para o empate (90'+4'), após primeira investida mal aliviada pelos dragões. O FC Porto ainda teve um último lance de perigo (90'+7'), num remate de Marega, mas o guarda-redes Matheus não vacilou e segurou a igualdade final. Nem sempre é assim, mas neste jogo uma decisão mudou tudo. Globalmente não foi, decerto, uma das melhores noites de Soares Dias.
Não assisti ao jogo.
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