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Todas as fotografias neste blog encontram-se algures em desporto.sapo.pt, salvo indicação em contrário
A mãe de todas as despromoções
31 jogos sem vencer. Recorde do campeonato português. E por larga margem. A partir daqui a fasquia de uma descida de divisão em estilo fica demasiado alta. O Feirense entrou de rompante, batendo Rio Ave (2-0) e Vitória de Guimarães (0-1), mas só voltaria a vencer na derradeira jornada da época (2-1 frente ao Aves).
Atenção, não foram as únicas vitórias do ano, pois na Taça de Portugal os fogaceiros chegaram aos quartos-de-final e na Taça da Liga venceram três dos quatro encontros que disputaram. Fora isso é surreal. Que mais se pode dizer da temporada de uma equipa que não saboreou uma vitória no campeonato entre 20 de Agosto e 18 de Maio seguinte? Virtualmente despromovido à jornada 30, na qual entrou em campo já com esse nefasto estatuto, o Feirense ainda encontrou forças para apontar oito golos em dois jogos (jornadas 32 e 33)... e mesmo assim não vencer! Foram dois empates consecutivos a quatro bolas (Chaves em casa e Santa Clara fora), nos quais os homens da Feira não conseguiram segurar cinco situações de vantagem. O Corte Limpo pede desculpa por não ter investigado se há alguma ocorrência anterior de dois 4-4 consecutivos.
TREINADORES
Nuno Manta, treinador do ano em 2016/17, saiu ao cabo de 20 jogos. O Feirense levava 18 sem ganhar...
... e Filipe Martins, vindo do Mafra, ficava com o menino nas mãos. O técnico foi pouco mais que impotente para reverter o rumo que a equipa levava.
Não assisti ao jogo.
Não assisti ao jogo.
O grito por que os portistas tanto ansiavam soltara-se na noite anterior, assim que o nulo no clássico lisboeta enviou o título de campeão para a Invicta, pelo que foi em clima de festa que o FC Porto viveu a sua última jornada caseira da época. Havia, no entanto, uma partida para disputar frente a um Feirense que ainda não tem a vida resolvida, pelo que era importante o FC Porto não se colocar a jeito de ser acusado de influir na verdade desportiva da luta pela manutenção. De resto, e até porque não era certo que o título se decidisse nesta jornada, o FC Porto decerto preparou o jogo como se fosse apenas mais um, e subiu ao relvado sem poupanças no onze. Numa frase, foi com grande dose de profissionalismo que os dragões encararam o jogo.
Além disso, convém não esquecer de que no campeonato, quando se trata dos ditos grandes, a luta é sempre até ao fim. E foi esse o caso. Muito mais quando Crivellaro aproveitou o adiantamento de Casillas e tentou um chapéu desde o meio-campo, levando a bola a embater na trave (16'). O FC Porto estava por cima praticamente desde o apito inicial, mas o Feirense não deixava de procurar o ataque, contribuindo assim para um jogo mexido. Nenhuma equipa quer estar em campo para fazer parte de uma festa que não é sua, mas, afinal de contas, não é todos os dias que se participa num jogo com esta envolvência, pelo que independentemente da aflição classificativa, era um momento para desfrutar. O Feirense fê-lo até aos 37 minutos, altura em que o FC Porto abriu o activo e reavivou o espectro da despromoção que os fogaceiros ainda não descartaram. Sérgio Oliveira foi o autor do golo, com um remate forte em frente à baliza, após cruzamento atrasado de Ricardo; o feirense Flávio Ramos aliviou mal e o médio portista dominou de peito antes de rematar. O golo era o coroar da boa exibição dos azuis-e-brancos, que construíram diversas jogadas com princípio, meio e fim, em mais uma prova de que o foco competitivo não esmoreceu. O momento da noite surgiu aos 59 minutos, já com Aboubakar em campo. O camaronês recebeu a bola junto à área, virou-se para a baliza com um belo toque e levantou para Brahimi, que dominou a bola no ar com o pé esquerdo, rodopiou e rematou de primeira com o direito, tirando do caminho com esse movimento o homem que o marcava. Um golaço.
Só aí o FC Porto abrandou ligeiramente o ritmo, mas sem nunca perder o controlo do jogo. Enquanto o público endereçava cânticos aos elementos mais destacados da equipa, a Sérgio Conceição e a Pinto da Costa, os dragões viram Reyes sair por lesão (70') - entrou Óliver Torres, que coincidentalmente já estava pronto para ir a jogo nesse momento - e viram também o Feirense apontar um golo, já ao cair do pano (90'+1'), com José Valencia a aparecer por entre os centrais e a desviar de cabeça, sem espinhas, o cruzamento de Kakuba. Um prémio justo para os fogaceiros, embora o FC Porto tenha feito o suficiente para obter um terceiro golo.
Seguiu-se o prolongamento da festa, primeiro dentro do estádio, com a apresentação um a um dos novos campeões e a entrega do troféu no centro do relvado, depois no exterior, para uma última consagração junto dos adeptos que não assistiram ao jogo ao vivo.
Este épico triunfo do FC Porto só não é visto como tal de uma forma generalizada porque o adversário não responde por um nome sonante, mas os ingredientes estiveram todos lá: chuva, relvado pesado, pouco tempo em vantagem, arbitragem pouco ou nada consensual, estádio claustrofóbico e, para quem tem memória mais curta, o Feirense ele próprio, que por mais que uma vez travou os dragões nos tempos mais recentes. Era, de facto, um jogo exigente para o FC Porto, ideia reforçada quando os fogaceiros recolocam a igualdade apenas quatro minutos depois do primeiro golo portista, apontado por Aboubakar (21'). Talvez seja imagem de marca do FC Porto desta temporada marcar na primeira vez em que vai à baliza. Corona cruza da direita sem perigo, Brahimi recolhe do lado contrário, roda sobre um contrário e solicita Aboubakar, que remata em frente à pequena área. O empate surge num livre batido com régua e esquadro por Tiago Silva, com a bola a pingar na zona proibida, onde Luís Rocha desviou certeiro, de cabeça. Vivia-se a fase mais intensa do encontro, e foi por pouco que o FC Porto não voltou a marcar na resposta (28'), com Brahimi a isolar-se na esquerda da área, parando numa óptima saída do guarda-redes Caio, que voltou a brilhar ao defender um livre de Alex Telles (33').
A igualdade satisfazia o Feirense. Tanto, que principalmente após o intervalo, a equipa se fechou no seu meio-campo. A bola estava literalmente do lado do FC Porto, que agora se deparava com mais um daqueles jogos que se traduzem num exército a tentar ultrapassar uma muralha. Óliver Torres substituiu André André (56') na tentativa de procurar espaços com a bola no pé, mas o FC Porto parecia mesmo assim ter perdido a assertividade. Do outro lado, o técnico feirense Nuno Manta já tinha frisado que o lema era manter o 1-1, ao tirar o médio Babanco, por lesão, para entrar o central Briseño (50'), pelo que o FC Porto precisava mesmo de partir pedra. Mas o engenho era então pouco. Foi por esta altura que entrou em cena a pouca aptidão do árbitro Fábio Veríssimo para segurar o jogo quando a agressividade sobe. Embora o Feirense até tivesse visto mais cartões até aí, deixou de os ver assim que passou a entrar mais duro sobre os dragões, nomeadamente nos lances em que Marega sofre uma clara entrada de sola e em que Soares - dentro da área - leva uma valente calcadela que tinha tudo para ser falta punível com cartão à escolha do árbitro, mas que foi tida como simulação. Com amarelo (78').
O FC Porto já tinha a artilharia toda em campo - Óliver, Brahimi, Marega, Aboubakar, Soares, you name it - mas teve que esperar até ao minuto 76 para quebrar a resistência fogaceira, num cabeceamento de Felipe após canto de Alex Telles. Titular no campeonato pela primeira vez desde a expulsão com o Mónaco há cerca de um mês, o central foi... expulso novamente (83'), ao ver segundo cartão amarelo por uma entrada mais viril sobre Edson Farias. Embora Felipe tenha colocado o pé à altura do peito do adversário, a dureza do lance em nada se compara à de outros momentos do jogo, pelo que as hostes portistas não ficaram nada satisfeitas com o cartão exibido. O árbitro, de resto, não recuperaria a autoridade nas suas decisões, e até voaram cadeiras para o relvado já nos descontos, motivando Veríssimo a pedir escolta policial assim que apitasse para o final. Não tendo havido sequer tentativa de invasão do relvado, nem tendo os jogadores ameaçado o árbitro, porquê esse pedido? Será apenas falta de personalidade?
Face às incidências, depois do segundo golo, e muito mais depois da expulsão, o FC Porto procurou congelar o jogo e o resultado, mas ainda esteve perto de marcar novamente (90'+5'), quando Marega se isolou perigosamente, valendo Caio, que pensou mais rápido que o avançado. Esta difícil vitória reforça o espírito de compromisso que o plantel do FC Porto tem demonstrado, ao mesmo tempo que cimenta Fábio Veríssimo no topo das preferências dos adeptos portistas quando o tema de conversa forem as eternas críticas à arbitragem.
O Feirense escreveu história ao conseguir a sua primeira manutenção na divisão principal, à quinta tentativa. Consequentemente, o oitavo lugar é também a melhor classificação de sempre do clube, decerto muito além dos desejos da estrutura feirense para a temporada. Contudo, antes dos abraços e das palmadinhas nas costas, houve muitos olhares em direcção ao vazio e mãos na cabeça, pois o Feirense parecia encaminhado para mais tarde ou mais cedo cair na zona de despromoção para daí não sair. De facto, comparando os números da primeira volta com os da segunda, parece estar a olhar-se para equipas diferentes; é até incrível o Feirense só ter estado abaixo da linha fatal em duas jornadas, tendo em conta a carreira que vinha fazendo. Até à jornada 17 o Feirense venceu apenas quatro jogos, empatando outros três, e já tinha tido uma série de cinco derrotas consecutivas, que se englobava ela própria numa sequência de nove partidas sem vencer. Além disso, tinha sofrido golos consecutivamente entre as rondas 2 e 14. Quiçá devido à sua vasta experiência de I Liga, o treinador José Mota beneficiou da paciência dos dirigentes feirenses e resistiu aos comandos da equipa até essa mesma jornada, na qual os fogaceiros completavam a tal série de cinco derrotas e ocupavam o penúltimo lugar.
O seu adjunto Nuno Manta orientou a equipa interinamente na jornada 15, obtendo uma vitória (2-0) sobre o Paços de Ferreira graças a duas grandes penalidades. Nessa semana, quando tudo indicava que Paulo Sérgio seria o sucessor oficial de Mota, foi o próprio plantel a fazer finca-pé pela promoção efectiva de Manta a técnico principal. Uma decisão visionária. Somando mais um ponto até final da primeira volta, assim que o calendário virou o Feirense cavalgou até às dez vitórias, perdendo apenas em quatro ocasiões e terminando em plena série de quatro triunfos, com o Sporting (2-1, 33.ª jornada) entre os derrotados. Imediatamente antes desta sequência estava mais um jogo sem perder, no caso um nulo na visita ao FC Porto. Pelo caminho, subiu desde o 15.º posto até à classificação final, onde se fixou à jornada 31.
Apesar do sucesso desportivo, o Feirense não foi uma equipa particularmente concretizadora, apontando apenas 31 golos. Platiny, Karamanos e Tiago Silva foram os melhores da equipa no campeonato, cada um com seis golos.
PONTO ALTO
O momento em que se percebeu que o Feirense caminhava para um final feliz surgiu à 26ª jornada. Com dois golpes de cada lado do intervalo o Chaves avançou até uma boa vantagem em casa dos fogaceiros, mas seriam estes a rir por último. Tiago Silva (55’), na recarga a uma grande penalidade, e Luís Machado (56’) empataram a partida num piscar de olhos, antes de Etebo consumar a reviravolta ao minuto 81. Um bom exemplo do proverbial encontro de equipas em direcções opostas.
CONTABILIDADE
Liga NOS: 8.º lugar, 14v-6e-14d,31gm-45gs, 48 pontos;
Taça de Portugal: começou por afastar o Alcanenense (1-2), antes de na 4.ª eliminatória cair em casa, nas grandes penalidades (4-5), após 120 minutos sem golos frente à Académica;
Taça da Liga: afastou o Tondela na 2.ª eliminatória (3-0), sendo depois terceiro classificado no grupo B (2 pontos), atrás de Moreirense e Belenenses, e à frente do FC Porto. Destaque para outro empate no Estádio do Dragão, desta feita a um golo.
Mesmo tendo vivido diversos momentos positivos ao longo da segunda volta, até este ponto o FC Porto ainda não encontrou forma de erradicar a ansiedade da psique colectiva da equipa. Controlada numas vezes, à solta noutras, essa ânsia de chegar ao golo volta a ser tida como uma das causas de não o ter alcançado. Pelo menos na segunda parte, pois no arranque o FC Porto cometeu o pecado recorrente desta temporada, ao voltar a entrar no jogo sem chama. Tal só podia ajudar um Feirense que subia ao relvado a precisar de um ponto apenas para garantir a manutenção antecipada. Era mesmo como se os fogaceiros estivessem no pólo oposto de ansiedade em relação aos dragões. Enquanto o FC Porto não tinha margem de erro, o Feirense só precisava saber de que lado da tranquilidade a sua equipa estava; se do lado que conduz à displicência, se daquele que elimina hesitações e leva ao jogo pelo jogo.
E até foram os visitantes os primeiros a ameaçar (18’), quando o grego Karamanos se isolou e obrigou Casillas a defender para canto. Os dragões ofereceram como resposta dois lances de Danilo Pereira, através de um cabeceamento que não passou longe após canto de Alex Telles (27’) e de um remate de ressaca que ainda tocou na malha superior, mas do lado de fora (41’). Ficou a centímetros de ser um golaço ao ângulo. Estes lances não foram de modo algum suficientes para ver a primeira parte como mais que um jogo morno e de meias-oportunidades. Com Diogo Jota e Soares a ocuparem os lugares dos mais habituais Brahimi – castigado por dois jogos – e Corona – lesionado – nas extremas, o FC Porto não estava a conseguir esticar o seu jogo e forçar o Feirense a abrir espaços. Talvez isso acontecesse porque tanto Jota como Soares tendem a flectir muito para o meio. Sentindo isso, ao intervalo Nuno Espírito Santo alterou o esquema de 4x3x3 para 4x4x2 trocando Óliver Torres por Otávio, ganhando com isso mais jogo exterior e passando a ter Soares e André Silva no meio à espera de munições.
A mudança táctica resultou. O FC Porto tornou-se finalmente dono e senhor do jogo e o Feirense passou mesmo por alguns momentos de grande aperto junto à sua baliza, quando os dragões conseguiam construir vagas sucessivas de ataque. O FC Porto terminou o encontro com 22 remates e 31 cruzamentos – o Feirense somou quatro e seis, respectivamente –, e tentou jogadas pelo chão e pelo ar, pelos flancos e pelo centro, mas o Feirense nunca tremeu. De entre as muitas oportunidades de golo destacam-se um remate sem ângulo de Rui Pedro (72’) e um cabeceamento de Maxi Pereira (82’), aos quais Vaná correspondeu com duas boas defesas, nomeadamente no lance do lateral uruguaio. Conforme os minutos passavam, a resistência fogaceira, feita da aglomeração de jogadores perto da área e da acção certeira do guarda-redes adversário, conduzia então o FC Porto àquela ansiedade crescente que torna infrutíferas todas as soluções tentadas para contornar esse veto ao golo imposto pelo Feirense. E não houve mesmo meio de desfazer o nulo.
O Feirense sai do Dragão com a manutenção assegurada e o crédito de ter resistido à tentação do anti-jogo barato. Já o FC Porto, que poderia recolocar-se a um ponto do líder, em virtude de este na véspera ter cedido uma igualdade, continua assim à distância de três pontos e a fazer contas à diferença de golos na eventualidade de esta vir a ser necessária para apurar o campeão. Ao mesmo tempo que faz também contas à vida.
Temporalmente longe dos compromissos do campeonato, por uma vez o FC Porto subiu ao relvado para um encontro da Taça da Liga com um onze próximo do habitual. O problema é que esta prova e os dragões são como os pólos de uma pilha. Ou como água e azeite. Com um jogo da fase de grupos por realizar, é verdade que o FC Porto está melhor que na edição transacta, na qual nem sequer pontuou, mas encontra-se longe de garantir o que quer que seja, ao não ir além de um empate na recepção ao Feirense. No final de um jogo sensaborão, fica a dúvida sobre qual a imagem a reter dele: se a de um justo empate, ou a de um Feirense que marcou praticamente sem saber como.
Com Maxi Pereira, Marcano, Alex Telles, Herrera, Corona e Brahimi entre os titulares, os minutos de oferta ficaram para o guarda-redes José Sá, e ainda para Boly, Rúben Neves, João Carlos Teixeira e Depoitre, no que parecia ser uma equipa capaz de rectificar a igualdade verificada na partida de há um mês com o Belenenses. A avaliar pela primeira parte, essa ideia não foi mais que um engano, por muito que a defesa se mantivesse sólida e Brahimi procurasse mexer com o jogo na outra ponta do campo, acertando mesmo na trave logo aos quatro minutos. O intervalo chegaria sem golos, o que não é esranho se se considerar que faltava quem finalizasse, e Depoitre ia desperdiçando a hipótese de continuar a revitalizar-se, depois do golo apontado ao Chaves. Não marcou o ponta-de-lança, marcou o central Marcano, que permaneceu na área após um canto, cabeceando certeiro a cruzamento de Herrera (49’). Na zona do ponta-de-lança, nem mais.
Em vantagem, o FC Porto não encontrou a motivação necessária para atingir um segundo golo. Depoitre continuava a ser mais eficaz na distribuição de costas para a baliza – ficou na retina um péssimo cabeceamento (68’), bem ao lado quando o belga estava em óptima posição – e a equipa não conseguia deixar o registo monocórdico. José Sá mostrou-se com uma enorme defesa a cabeceamento de Platiny (64’), mas nem esse susto mexeu com o FC Porto. Sem ter criado muito mais que esse lance, o Feirense foi bafejado pela sorte ao minuto 74, altura em que Flávio apareceu na área para desviar de cabeça um livre batido de bem longe da baliza, em tudo semelhante ao que proporcionara aquela defesa a José Sá. Óliver Torres e Rui Pedro entraram para os lugares de Herrera e João Carlos Teixeira (79’) na tentativa de ligar o motor azul-e-branco, mas quem esteve mais perto do golo seria mesmo o Feirense, num livre directo muito perigoso de Etebo, a castigar uma falta inexistente, ao qual José Sá correspondeu com mais uma fantástica defesa (86’).
O empate final, conjugado com a igualdade no outro jogo, entre Belenenses e Moreirense, deixa tudo em aberto, uma vez que na Taça da Liga os critérios de desempate se centram nos golos, e não no confronto directo. Só o Feirense, que tem apenas um ponto contra quatro do líder Moreirense, está fora das contas. Para o FC Porto, até a vitória no último jogo pode não ser suficiente para se apurar, caso o Belenenses consiga uma vitória folgada. Fechamos com um dado estatístico, que vale o que cada leitor quiser que valha: o FC Porto nunca bateu o Feirense em jogos da Taça da Liga.
As mais recentes visitas do FC Porto a casa do Feirense não foram propriamente passeios para os dragões. Na época passada, com os fogaceiros a militar na II Liga, o FC Porto deslocou-se ao Marcolino de Castro em duas ocasiões, e apesar de ter vencido no encontro da Taça de Portugal (0-1), para a Taça da Liga foi mesmo o Feirense a vencer (2-0), frente a um FC Porto experimental. Nas contas do campeonato é preciso recuar até 2011/12, onde se verificou um empate sem golos – o jogo realizou-se em Aveiro. Daí que neste jogo o FC Porto necessitasse de ter os olhos bem abertos nesta partida. O árbitro Luís Ferreira também os teve, já que pouco depois do segundo minuto tomou uma decisão que mudou o curso do jogo, ao assinalar uma grande penalidade a favor dos azuis-e-brancos, por pretenso agarrão de Ícaro a André Silva. As imagens televisivas dão toda a sensação de ter sido o avançado portista a tirar partido de um toque imperceptível no braço para cavar o penálti. Uma pena que assim seja. Uma vez assinalado o castigo, não restava ao juiz senão expulsar o central feirense, já que André Silva ficava na cara do golo. A conversão foi bem sucedida, confirmando o pior cenário para os da casa: cerca de 85 minutos a jogar com dez, e já a perder.
Enquanto a margem mínima se manteve, o Feirense procurou esquecer a inferioridade, e até teve um remate ao poste, mas o FC Porto atravessa uma óptima fase em termos defensivos e voltou a não permitir que o adversário assustasse. Ao minuto 34, após alguma confusão na área, Brahimi encontrou a bola sobre o lado esquerdo e rematou cruzado para o 0-2, encerrando a pouca discussão que ainda havia sobre o resultado. A abrir o segundo tempo apareceu o 0-3 (50’), por Marcano, que confirmou, em cima da linha, um golo que seria de Felipe, que desviara um canto cobrado na esquerda – talvez o guarda-redes do Feirense pudesse ter feito mais quando a bola passou pela sua zona de acção. O quarto golo, novamente por André Silva, surgiu ao minuto 64. A partir daí o FC Porto reduziu a intensidade e jogo arrastou-se fastidiosamente até ao apito final, apesar de ocasionais avanços dos dragões. O Feirense ainda colocou uma bola na trave, mas o resultado não voltaria a sofrer alterações.
O FC Porto completou assim o seu sétimo jogo consecutivo sem sofrer golos. O ataque está, por enquanto, reabilitado, já que totaliza dez golos nos últimos três jogos, mas é importante não esquecer de que esta vitória aparece frente a outro emblema mal colocado na classificação – o Feirense era 16.º à entrada para a jornada. Exceptuando a primeira jornada, cinco dos sete triunfos do FC Porto no campeonato aconteceram frente a equipas abaixo do 10.º lugar no momento desses jogos. Será só uma estatística, ou um sintoma?
Comecemos pelo final. Enquanto lamentava a derrota, José Peseiro deixou escapar que aproveitou este jogo para testar um esquema táctico ainda pouco treinado, e que por isso os jogadores não terão dado a melhor resposta em campo. Tendo em conta que se tratava da Taça da Liga e que o FC Porto já não tinha hipóteses de seguir em frente, a explicação do técnico até pode colher. Porém, a argumentação perde toda a validade assim que se constata que muitos dos homens mais utilizados ficaram de fora, pondo em causa a utilidade prática do teste.
O saldo final, esse, é esclarecedor. Esta foi a pior participação de sempre do FC Porto na Taça da Liga. Muito pior que a viagem inaugural na prova, em 2007/08, quando os dragões foram eliminados pelo Fátima. Nunca o FC Porto tinha terminado uma fase de grupos de qualquer competição com zero pontos. Leu bem, zero pontos. Ainda para mais, neste caso, num grupo com duas equipas da II Liga.
Obviamente que um adepto do Feirense contaria uma história diferente, até porque foi a primeira vez que os fogaceiros bateram o FC Porto; do ponto de vista dos azuis-e-brancos é difícil analisar o jogo, porque foi mau demais para ser verdade. Apetece pensar que não era realmente o FC Porto que estava em campo, antes um conjunto de humildes rapazes vestidos à Porto. Vontade não falta para tecer comentários pouco abonatórios sobre Varela e Imbula, mas a verdade é que a equipa, no seu todo, esteve pouco mais que à deriva.
Não vale a pena escrever muito mais, porque a classificação final do grupo diz tudo. Nem sequer se pode dizer que foi uma saída pela porta pequena. O FC Porto sai da Taça da Liga pela porta do gato.
NOTA: somos obrigados a ilustrar esta publicação com uma fotografia de José Peseiro a imitar Julen Lopetegui porque lamentavelmente o Sapo Fotos não disponibiliza qualquer imagem da acção do jogo.
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